No próximo domingo será realizado o referendo com a seguinte questão: O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?
Será sim ou não. Parece que acabaram com o voto branco e nulo, o que me deixa revoltado. Por voto nulo entendo como uma abstenção à adesão de qualquer ideal, ou parte. Por voto branco entendo como “sem opinião”, ou dar aval a qualquer coisa que for decidido, algo como dar um cheque em branco. Eu votarei sim, mas explico porque gostaria de votar branco.
Das questões a serem discutidas, algumas já foram apresentadas durante a propaganda nos meios de comunicação.
O lado do não (
www.votonao.com.br) apresenta seis razões para votar não no referendo:
1. “Infelizmente, a proibição da venda LEGAL de armas não vai desarmar os bandidos. Nem vai acabar com a violência e a falta de segurança. Dia 23 de outubro, DIGA NÃO”.
- A proibição não vai desarmar os “bandidos”. Não é isso o que está sendo decidido no referendo aliás, e pra desarmar bandido não há referendo ou lei que o faça.
2. “Estão vendendo a idéia que o referendo é sobre o desarmamento e não sobre a proibição da venda LEGAL de armas. Isso não é verdade. DIGA NÃO a essa mentira”.
- O referendo é sobre a comercialização de armas mesmo, desarmar a população é algo impossível ao meu ver, principalmente em um país do tamanho do Brasil e com suas características. Seja sim, seja não ninguém vai desarmar ninguém, os ditos “bandidos” continuarão com suas armas que brota do chão da favela e os ricos continuarão com os seus seguranças armados e os carros blindados.
3. “Proibir a venda legal de armas pode aumentar ainda mais o contrabando de armas e munições e criar mais espaço para a ação dos bandidos. DIGA NÃO a essa situação”.
- Para os desinformados a maior parte das armas contrabandeadas é de fabricação brasileira. Ela é fabricada aqui, sai do país, depois entra pela super protegida fronteira. Mesmo esquema utilizado por algumas fabricantes de bebidas, e outras fabricantes que querem pagar menos impostos. Outra forma de acesso ás armas é por meio de militares corruptos da polícia e das forças armadas. Há ainda outras formas, mas esses são os mais simples e fáceis. O que eu não entendi foi esse “criar mais espaço para a ação dos bandidos”. Sei lá o que estão querendo insinuar. O autor aqui, que comenta a frase, diz NÃO às frases com duplo, triplo sentidos.
4. “Estão querendo desarmar o cidadão de bem, proibindo a venda LEGAL de armas. Pois o bandido não compra armas legalmente. DIGA NÃO”.
- Desde que começou a campanha acerca do referendo o que eu mais quero descobrir é uma definição para “cidadão de bem”. Talvez são as pessoas que trabalham, pagam impostos, pessoas “corretas” ou “normais”. Nesse perfil podemos incluir grande parte dos bandidos, pois como revela estudos da polícia militar uma parcela significativa dos presos eram empregados, isto é, trabalhavam, pagavam impostos, eram bem vistos pelas pessoas. Como grande exemplo de cidadã de bem eu colocaria Suzane von Richthofen. Garota direita de família rica cursava direito em uma das melhores faculdades do país. Essa sim é uma cidadã de bem. Outro símbolo de cidadão de bem é o nosso presidente Lula. Defensor de uma melhor distribuição de renda para os deputados e partidos, não deixou suas ideologias influenciarem. Comprou o apoio do PP de Maluf e recebeu de brinde o maior escândalo do governo. Mesmo assim é um cidadão tão do bem que novamente na eleição de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara dos Deputados abriu os braços e os cofres para esses partidos que o apunhalaram. Esse sim é um “cidadão de bem”. Por fim é obvio que bandido não compra arma, muito menos legalmente. Neste país só rico tem dinheiro pra comprar uma arma.
5. “Estão querendo tirar um direito que o cidadão de bem já tem. E que pode ou não usar: o de comprar armas legalmente. DIGA NÃO à cassação desse seu direito”.
- Isso mesmo querem tirar um direito que é do cidadão. Ainda bem que não tiraram ainda o direito do “cidadão de bem” de ter acesso a uma escola pública de qualidade. Ainda bem que temos direito a um sistema público de saúde. Também temos direito a ir e vir pelas rodovias destruídas do país e o direito à segurança, à integridade. Ainda bem que temos todos esses direitos e que eles são respeitados. Ainda bem.
6. “É importante saber que o PORTE DE ARMA (andar armado) ESTÁ PROIBIDO (desde a aprovação do estatuto do Desarmamento, em 2003) e a POSSE DE ARMA já está regulamentada. Não é nada simples comprar LEGALMENTE uma arma. É preciso apresentar mais de 5 certidões, exame psicotécnico etc. DIGA NÃO“.
- Realmente a burocracia brasileira é impressionante. O simples ato de comprar uma arma precisa de atestado que comprove que o portador tem mínima condição psicológica para tê-la, é realmente um absurdo. Diga não ao teste psicotécnico e defenda a desburocratização ao acesso à arma. Deveria ser como o jovem que matou três pessoas e feriu cinco em um cinema no Morumbi Shopping. Buy and try. Simple and easy.
Depois de tanto DIGA NÃO, diga não ao não.
Do outro lado temos a frente por um Brasil sem armas (
www.referendosim.com.br) que apresenta dez razões para votar sim:
1. “Existem armas demais neste país”.
- Ser o país onde mais pessoas morrem por armas de fogo no mundo deve dizer alguma coisa. No mínimo algo não anda bem.
2. “Armas foram feitas para matar”.
- Algumas pessoas acham que é pra defesa, pra segurança, mas deixando de conversa mole se tiver de matar alguma pessoa em prol de si próprio, que se mate mesmo, atire para matar. Não é esta a idéia nua e crua?
3. “Ter armas em casa aumenta o risco, não a proteção”.
- Especialistas determinam treinamento para pessoas que querem ter porte de arma com 300 balas semanais, 300 tiros para que a ação se torne automática e precisa. Qual a probabilidade de mesmo os policiais e o BOPE (batalhão de operações especiais do Rio de Janeiro), para aqueles que lembram do episodio ônibus 174, estarem treinando com esta freqüência? É certo que nenhum cidadão de bem também não consegue treinar com esta freqüência, e ter uma arma sem nunca ter atirado é pior do que dar a arma para um cego.
4. “A presença de uma arma pode transformar qualquer cidadão em criminoso”.
- Esse argumento costuma cair quando comparado com países como Suíça, Israel, etc. onde a posse de armas não transforma os cidadãos em criminosos, mas como estamos no Brasil a coisa é mais embaixo, assim como a educação. As estatísticas comprovam que a grande maioria dos crimes com armas são para a solução de desavenças pessoais e não matar para roubar.
5. “Quando existe uma arma dentro de casa, a mulher corre muito mais risco de levar um tiro do que o ladrão”.
- Realmente deve existir um campo eletromagnético em volta do corpo feminino que atrai as balas. É tiro e queda.
6. “Em caso de assalto à mão armada, quem reage com arma de fogo corre mais risco de morrer”.
- Não precisa de muitas explicações porque enquanto a vitima saca a arma o bandido já está engatilhado, e eu com minha larga experiência como vítima de assalto acredito com veemência neste argumento.
7. “Controlar as armas legais ajuda na luta contra o crime. A - O mercado legal abastece o ilegal. B - As armas compradas legalmente correm o risco de cair nas mãos erradas, através de roubo, revenda ou perda”.
- Se o controle das armas legais ajudasse na luta contra o crime já estaria ajudando não? Já não são controladas??? Isso aqui está parecendo pegadinha.
8. “O Estatuto do Desarmamento é uma lei que desarma o bandido”.
- Eu não consigo imaginar um “cidadão de bem” andando armado por aí sem razão. Portanto se há alguém a ser desarmado é o bandido e obviamente é isso que o Estatuto visa, pelo menos é o mínimo a se esperar.
9. “Controlar as armas salva vidas”.
- O controle não salva a vida de ninguém, mas sim a educação daquele que está com o dedo no gatilho. Se as armas passassem a ser controladas no Iraque em nada diminuiria os homicídios, já na Suíça provavelmente não teria alteração nenhuma.
10. “Desarmamento é o primeiro passo”.
- O segundo passo é rezar, o terceiro é tomar vergonha na cara, o quarto é se eximir de preconceitos contra pobre e preto, o quinto é fazer algo que ajude essas pessoas menos favorecidas, e por aí vai, mas quem está disposto a seguir passos tão difíceis, muito mais fácil comprar uma arma e blindar o carro.
Muito do que está sendo discutido não passa de uma irracionalidade psicológica, uma histeria. Debates acerca da proibição do comércio de armas de fogo em sua grande maioria são realizados por pessoas que nunca foram vítimas da violência, pessoas que defendem o porte de armas e a sua comercialização sem que nunca manusearam uma arma. Fico impressionado como uma revista de circulação nacional como a Veja defenda abertamente não só a comercialização de armas como também uma corrida armamentista. Na ultima edição com a manchete “O arsenal do crime” defendem que a porcentagem de armas vendidas legalmente é irrisória e elas são menos potente do que as dos bandidos. Que pena, não é mesmo, que as armas são menos potentes? Imagine se fossem mais. Enfim, são fatos que ganham destaque e alarde sem a devida análise. Pra mim tudo aponta sinais de uma sociedade doente, que beira o insano, sendo fútil e burra. Sou vitima do crime, assaltado muitas vezes, digo que é IMPOSSIVEL evitar um ato violento. Quando deveríamos discutir como reduzir a violência nos debruçamos em questões como um possível aumento da violência se o bandido souber que o cidadão está desarmado. Isso está pior do que ver o Bush ganhar as eleições. É a completa irracionalidade, a luta do bem contra o mal.
Para você que acha que armamento ajuda no combate á criminalidade ou pelo menos vai garantir a sua segurança então trate de comprar aquele fuzil AK47, espalhe pistolas 9mm pela casa, instale uma bateria anti-aérea no quintal, distribua minas terrestres pelo gramado, construa um bunker debaixo da cozinha e trate de encomendar seu tanque de guerra na concessionária mais próxima. Você com certeza estará bem protegido, agora coitado daquele que cruzar o seu caminho.
Sim ou não, nada muda. Se você não anda armado, acredita na justiça e na educação como solução para os problemas da violência, então em nada mudará o resultado do referendo. É preciso ter vergonha na cara, seriedade. Os argumentos apresentados pela Veja soam mais como piada de mau gosto do que informação. Não somos uma Suíça, nem um Japão, nem Austrália e nem Inglaterra. De nada adianta nos compararmos com esses países desenvolvidos onde há educação, respeito ao ser humano, pouca desigualdade social e nível de renda elevado, é mais adequado nos compararmos a Ruanda, Congo, Angola, Papua Nova Guiné, Nigéria, Somália, Libéria, com todo respeito a esses países, e ainda assim os nossos índices de homicídios darão inveja a eles. Referendo por referendo deveriam votar a liberalização das drogas, cujo comercio ilegal é mais poderoso e violento do que o das armas. Deveriam votar a legalização do aborto, a proibição do fumo em locais públicos, a prisão perpétua para aqueles que dirigem alcoolizados e atropelam pessoas. Voto SIM, mas sei que dá na mesma que branco ou nulo.
Ruy Hirano, 20, estudante de administração.