terça-feira, dezembro 13, 2005

MERCADANTE, A BESTA

RECONSTRUINDO
ALOIZIO MERCADANTE
A pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE é fonte estatística abrangente, que permite traçar um quadro bastante aproximado da situação do país. Suas informações possibilitam a elaboração de cenários consistentes que vão além de meras conjecturas, como a revelada recentemente por um prefeito tucano, o qual, acometido de "febre palanquosa", não habitual ao seu estilo comedido, afirmou que qualquer candidato do PSDB derrotará Lula nas próximas eleições.Pois bem, essa previsão arrogante não encontra amparo nos humildes mas sólidos dados da Pnad/2004. Com efeito, tal pesquisa mostra que o governo Lula vem reconstruindo o país econômica e socialmente e fez mais para os eleitores nos seus dois primeiros anos do que o governo anterior em seus oito anos.Comecemos pelo emprego, assunto tão olvidado pela administração anterior, à exceção da geração de postos de trabalho em outros países, generosamente propiciada pela política de abertura econômica desordenada. De acordo com o IBGE, em 2004 registrou-se o maior nível de ocupação (pessoas com trabalho na população em idade ativa) desde 1996. Essa alta na ocupação foi ocasionada pelo extraordinário aumento dos empregados com carteira de trabalho, que chegou a quase 2 milhões no ano referido. Assim, o governo Lula está não apenas gerando emprego, mas também revertendo a perversa tendência anterior da "precarização" do mercado de trabalho.Outro ponto positivo foi o da renda. Em 2004, interrompeu-se outra tendência perversa: a de queda na renda da população. De fato, o rendimento médio estabilizou-se, após cair continuamente desde 1997. Entretanto, análise pormenorizada revela que a renda da metade mais pobre da PEA cresceu 3,2%, possibilitando a redução da concentração dos rendimentos, chaga secular da nossa sociedade. Destaque-se, ainda, que um estudo da FGV, realizado com base na Pnad/2004, mostrou queda de 8% no nível de miséria do país. Essa grande redução no número de miseráveis pode ser atribuída, em parte, ao sucesso de programas sociais do governo Lula, como o Bolsa-Família, que já atinge mais de 8 milhões de lares.Pode-se também salientar outros indicadores muito alvissareiros, como a redução da taxa de analfabetismo de 11,8% (2002) para 11,2% (2004), o aumento expressivo do número de estudantes, o incremento de 3,5% de domicílios com esgotamento sanitário adequado e a melhoria nas condições de vida, expressa no notável crescimento do número de lares com telefone fixo, celular, microcomputador e outros produtos essenciais à vida moderna.Pena que essas informações tão positivas tenham sido obscurecidas pela névoa pessimista da crise política, a qual já ameaça comprometer o bem-sucedido esforço de desenvolvimento empreendido nos últimos anos. A queda do PIB no terceiro trimestre é, em grande parte, fruto das incertezas geradas pela crise, já que o emprego e o consumo continuaram a crescer. Mas a paralisia que as "aves de mau agouro", muitas de bico longo, tentam impor ao país não prevalecerá.
Aloizio Mercadante, 51, é economista e professor licenciado da PUC e da Unicamp, senador por São Paulo e líder do governo no Senado Federal.
Internet: www.mercadante.com.brE-mail - mercadante@mercadante.com.br

Deve ser cientificamente comprovado que os petistas sofrem de amnésia ou de falta de inteligencia. Após lerem o texto acima relembro que o presidente Lula é aquele que não viu, não ouviu e não sabia de nada da corrupção que tomou Brasília. Corrupção esta implantada pelo PT. Óbvio que na administração do PSDB também houve MUITA corrupção, mas nunca patrocinada pelo partido e seus membros.
Mas enfim, vale lembrar que o fato de hoje quase todos terem um aparelho celular é conseqüencia do processo de privatização das teles. Hoje o agronegócio é uma das valvulas propulsoras deste país e já figura como celeiro do mundo, tudo fruto do processo de modernização rural com ganhos produtivos impulsionado por programas como Moderfrota e fortalecimento da Embrapa, realizadas por Pratini de Moraes. Hoje o acesso ao ensino fundamental ultrapassa os 90%, graças aos esforços do ex-ministro Paulo Renato na gestão FHC. Houve uma queda brusca na porcentagem de crianças que trabalham ao invés de irem para a escola, coisa que começa a mudar em algumas regiões durante a administração do PT. Na área da saúde ninguem discute os avanços alcançados pelo ex-ministro José Serra, queda da taxa de mortalidade infantil a taxas de países desenvolvidos, programa de combate a AIDS reconhecido mundialmente como o melhor programa público de combate a esse mal, cobrança por resultados e eficiência dos funcionarios públicos citando como exemplo hospitais onde os médicos, embora contratados e remunerados, nunca compareciam para trabalhar gerando filas para quem não pode esperar.
Os programas sociais e a estabilidade econômica, grandes orgulhos do governo atual, foram idealizados e realizados na gestão anterior, nos tais oito anos citado pelo senador Mercadante onde para ele nada se fez. Antes de Lula se tornar presidente Mercadante, com seu status de "grande" economista, defendia ferozmente uma mudança na política econômica, dizia que somente assim o Brasil cresceria e geraria empregos, hoje é um dos que se orgulha da ultra-ortodoxia da atual economia.
O Brasil é um dos países "BRIC" escolhido pela Goldman Sachs como promissora economia para as próximas décadas, os últimos dois anos foram considerados como um período muito próspero para o mundo, Rússia, Índia e China apresentam crescimento de praticamente dois dígitos, enquanto o sócio B dos BRIC "cresce" com mesmas taxas dos oito anos FHC, aquelas criticadas por Mercadante, onde ocorreram inúmeras crises internacionais e ataques especulativos. Lula além de surdo, cego e mudo perdeu todas as oportunidades possíveis, mesmo com a economia a favor como nunca só conseguiu fazer mais do mesmo.
Nosso caro senador Mercadante ao afirmar que o país está sendo construido em dois anos o que foi destruido em oito demonstra séria debilidade mental. Nada contra as pessoas com retardo mental, porém um cargo como senador não pode comportar pessoa assim. Mercadante é candidato ao governo do estado mais importante de uma das maiores economias do mundo, espero que também não contemple o medíocre, valorize o ridículo e a mesmice.

segunda-feira, novembro 14, 2005

SONHOS, PLANOS E O BRASIL

Realizada pela Confederação Nacional do Transporte anualmente, a pesquisa rodoviária sobre as condições das estradas brasileiras estudou 82 mil quilômetros e analisando os aspectos pavimentação, sinalização e geometria, chegou-se a seguinte conclusão: 72% das rodovias brasileiras são classificadas como “deficientes”, “ruins” ou “péssimas”. O Brasil apesar de suas dimensões geográficas e por seu histórico de preferência pelo meio rodoviário possui somente 180 mil quilômetros de estradas pavimentadas o que fica ainda mais ridículo quando comparado com outros países, Espanha (343 mil), Inglaterra (371 mil), Alemanha (650 mil), França (892 mil) e pasmem Japão (863 mil quilômetros de estradas pavimentadas). Isso mesmo um conjunto de ilhas na Ásia possui quase 5 vezes mais estradas do que um país continental como o Brasil, e a qualidade dessas estradas não precisa nem comentar.
Quando o meio de transporte é o ferroviário o Brasil de hoje está pior do que em 1940. Naquela época eram 34 mil quilômetros de estradas de ferro e atualmente são menos de 30 mil quilômetros. Os portos estão todos operando em capacidade máxima e os investimentos realizados pelo Estado são insuficientes para atender adequadamente às exportações. Na área de energia já surgem discussões de uma possível segunda edição do apagão para os próximos anos, os mais otimistas projetam para 2010, os investimentos realizados são poucos e insuficientes para sustentar um crescimento econômico contínuo.

Para contrapor a apatia brasileira a tão famigerada China cresce a duas décadas e meia a uma taxa de 9,5% ao ano. Dados divulgados no terceiro semestre deste ano já indicam crescimento de 9,4% apesar dos esforços do governo chinês para conter o crescimento. Recentemente ocorreu o Salão de Planejamento Urbano de Xangai, a maior metrópole da China. Grande destaque do evento é a Cidade do Futuro, uma maquete do tamanho de uma quadra de basquete com detalhes que representam a Xangai de 2020. Lá estão representadas todas as obras e construções a serem realizadas nos próximos 15 anos na cidade habitada atualmente por 15 milhões de pessoas. Desde autopistas, linhas de metrô, centros de pesquisa, indústrias e arranha-céus até escolas, universidades e conjuntos residenciais. Tudo ali representado com riquíssimo nível de detalhamento. (Aquela maquete representa não somente um belo sonho, mas o que os chineses querem ser, os seus objetivos e metas dentro de 15 anos). E pelo andar das coisas os planos da China e de Xangai não são brincadeira. Neste ano Xangai se tornará a capital mundial dos arranha-céus. Contando com cerca de 4000 desses edifícios, quase o dobro do que em Nova York, deve encerrar a década com mil novos arranha-céus.

Em outra parte do mundo há um outro caso inacreditável de sonho, planejamento e transformação da sociedade. Esse caso foi anos atrás um plano como é Xangai atualmente. Estou falando de Dortmund na Alemanha. Dortmund conta com uma população de 600.000 habitantes, terceira maior cidade da região, que concentra 25% do Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha. Na história recente a economia da cidade era baseada nas industrias do carvão, aço e cerveja (bebidas). Com o processo de globalização e a entrada de competidores globais nesses setores com custos mais competitivos (países como a China) a economia da cidade entrou em declínio.
Perante os novos desafios a cidade decidiu por uma parceria público-privada (que ainda engatinha no Brasil). De novembro de 1999 até maio de 2000 foi firmado o projeto entre a cidade de Dortmund, a empresa ThyssenKrupp AG e a consultoria McKinsey & Company. Isso mesmo, um projeto de transformação de uma cidade inteira com conseqüências em toda a Europa. Lançado em junho de 2000 o Projeto-Dortmund (www.dortmund-project.com) tem como lema “Investment, not subsidies” e meta principal criar 70 mil novos empregos até 2010 atraindo investimentos internos e externos.
O projeto foca nas áreas de tecnologia da informação (TI), micro-eletrônica (micro-eletronic-mechanical systems - MEMS) e logística eletrônica (e-log), prevendo apoio às empresas tradicionais ajudando na modernização e reorganização para que a velha e a nova economia possam aproveitar sinergias. Existem seis objetivos principais que basicamente são: atração de empresas high-tech de países externos, apoio à velha economia para um crescimento conjunto com a nova, cuidados com o ensino e a geração de mão-de-obra qualificada, planejamento urbano para garantir crescimento econômico e demográfico mantendo elevada qualidade de vida, redução de processos burocráticos economizando tempo e dinheiro para as empresas e realização de parcerias público-privadas. Para alcançar seus objetivos serão investidos mais de 500 milhões de euros (uma ninharia quando comparado ao que é mal gasto em programas sociais no Brasil como o projeto Fome Zero, que em nada contribui em termos de avanços econômicos, contudo é importante lembrar que o Brasil ainda não conta com uma população educada com acesso ao ensino superior como a população de Dortmund já tinha acesso antes mesmo do declínio da velha economia).
Dortmund transformou-se em um dos centros de ensino na Europa concentrando universidades e institutos de pesquisa. Somente Dortmund possui 25 institutos científicos voltados somente para software e TI. A maquete de Dortmund em 2010 é ser vista como a e-city européia, isto é, uma cidade referência na Europa pela economia de moderna de alta tecnologia.

“Quando começou o governo Juscelino Kubitschek, em 1956, o Brasil não produzia um único automóvel. Todos eram importados. Cinco anos depois, no fim do mandato de JK, a produção brasileira anual já atingia 132 mil veículos. Nesses mesmos cinco anos, a capacidade de produção de energia elétrica cresceu 66%, a produção de aço dobrou, a de petróleo foi multiplicada por 11 e a de papel e celulose avançou 122%... (desenvolvimento) se baseou em esquema tripartite, com participações de capitais nacionais, estatais e estrangeiros”. Trecho do artigo “Xangai está certa” de Benjamin Steinbruch publicado em 30 de agosto de 2005.
Fato é que não podemos ficar de braços cruzados amargando a crise política e afundando na desesperança neste país. Acordei neste domingo e assisti pela televisão projetos brasileiros bem sucedidos, a evolução da ginástica e do iatismo no Brasil. O Brasil foi novamente ouro na ginástica, desta vez na categoria ginástica rítmica no pré-panamericano. Quem diria anos atrás que o Brasil seria uma potência na ginástica? No iatismo Robert Scheidt dispensa comentários e pela primeira vez na história o Brasil participa do torneio de volta ao mundo. O barco Brasil1 foi totalmente construído no Brasil com tecnologia e engenharia brasileira. Até agora o desempenho supera todas as expectativas. Essa evolução sem precedentes pelo menos no esporte e que pode ser aplicada em qualquer outra área revela que sem sonho, planejamento e execução com seriedade nada vai para frente.
OBS: escrevi este artigo com a angustia de ver o país parado, perdido, sem sonhos e sem pretensões em um mundo cada vez menos piedoso. As únicas metas que o Brasil têm são metas de inflação e de taxa SELIC. Enquanto assistimos à novela dos senhores de Brasília na mega fábrica de pizza o tempo passa e o Brasil vai ficando cada vez mais distante do bonde.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

quarta-feira, outubro 19, 2005

O BRASIL E O DESARMAMENTO

No próximo domingo será realizado o referendo com a seguinte questão: O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?
Será sim ou não. Parece que acabaram com o voto branco e nulo, o que me deixa revoltado. Por voto nulo entendo como uma abstenção à adesão de qualquer ideal, ou parte. Por voto branco entendo como “sem opinião”, ou dar aval a qualquer coisa que for decidido, algo como dar um cheque em branco. Eu votarei sim, mas explico porque gostaria de votar branco.

Das questões a serem discutidas, algumas já foram apresentadas durante a propaganda nos meios de comunicação.
O lado do não (www.votonao.com.br) apresenta seis razões para votar não no referendo:
1. “Infelizmente, a proibição da venda LEGAL de armas não vai desarmar os bandidos. Nem vai acabar com a violência e a falta de segurança. Dia 23 de outubro, DIGA NÃO”.
- A proibição não vai desarmar os “bandidos”. Não é isso o que está sendo decidido no referendo aliás, e pra desarmar bandido não há referendo ou lei que o faça.

2. “Estão vendendo a idéia que o referendo é sobre o desarmamento e não sobre a proibição da venda LEGAL de armas. Isso não é verdade. DIGA NÃO a essa mentira”.
- O referendo é sobre a comercialização de armas mesmo, desarmar a população é algo impossível ao meu ver, principalmente em um país do tamanho do Brasil e com suas características. Seja sim, seja não ninguém vai desarmar ninguém, os ditos “bandidos” continuarão com suas armas que brota do chão da favela e os ricos continuarão com os seus seguranças armados e os carros blindados.

3. “Proibir a venda legal de armas pode aumentar ainda mais o contrabando de armas e munições e criar mais espaço para a ação dos bandidos. DIGA NÃO a essa situação”.
- Para os desinformados a maior parte das armas contrabandeadas é de fabricação brasileira. Ela é fabricada aqui, sai do país, depois entra pela super protegida fronteira. Mesmo esquema utilizado por algumas fabricantes de bebidas, e outras fabricantes que querem pagar menos impostos. Outra forma de acesso ás armas é por meio de militares corruptos da polícia e das forças armadas. Há ainda outras formas, mas esses são os mais simples e fáceis. O que eu não entendi foi esse “criar mais espaço para a ação dos bandidos”. Sei lá o que estão querendo insinuar. O autor aqui, que comenta a frase, diz NÃO às frases com duplo, triplo sentidos.

4. “Estão querendo desarmar o cidadão de bem, proibindo a venda LEGAL de armas. Pois o bandido não compra armas legalmente. DIGA NÃO”.
- Desde que começou a campanha acerca do referendo o que eu mais quero descobrir é uma definição para “cidadão de bem”. Talvez são as pessoas que trabalham, pagam impostos, pessoas “corretas” ou “normais”. Nesse perfil podemos incluir grande parte dos bandidos, pois como revela estudos da polícia militar uma parcela significativa dos presos eram empregados, isto é, trabalhavam, pagavam impostos, eram bem vistos pelas pessoas. Como grande exemplo de cidadã de bem eu colocaria Suzane von Richthofen. Garota direita de família rica cursava direito em uma das melhores faculdades do país. Essa sim é uma cidadã de bem. Outro símbolo de cidadão de bem é o nosso presidente Lula. Defensor de uma melhor distribuição de renda para os deputados e partidos, não deixou suas ideologias influenciarem. Comprou o apoio do PP de Maluf e recebeu de brinde o maior escândalo do governo. Mesmo assim é um cidadão tão do bem que novamente na eleição de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara dos Deputados abriu os braços e os cofres para esses partidos que o apunhalaram. Esse sim é um “cidadão de bem”. Por fim é obvio que bandido não compra arma, muito menos legalmente. Neste país só rico tem dinheiro pra comprar uma arma.

5. “Estão querendo tirar um direito que o cidadão de bem já tem. E que pode ou não usar: o de comprar armas legalmente. DIGA NÃO à cassação desse seu direito”.
- Isso mesmo querem tirar um direito que é do cidadão. Ainda bem que não tiraram ainda o direito do “cidadão de bem” de ter acesso a uma escola pública de qualidade. Ainda bem que temos direito a um sistema público de saúde. Também temos direito a ir e vir pelas rodovias destruídas do país e o direito à segurança, à integridade. Ainda bem que temos todos esses direitos e que eles são respeitados. Ainda bem.

6. “É importante saber que o PORTE DE ARMA (andar armado) ESTÁ PROIBIDO (desde a aprovação do estatuto do Desarmamento, em 2003) e a POSSE DE ARMA já está regulamentada. Não é nada simples comprar LEGALMENTE uma arma. É preciso apresentar mais de 5 certidões, exame psicotécnico etc. DIGA NÃO“.
- Realmente a burocracia brasileira é impressionante. O simples ato de comprar uma arma precisa de atestado que comprove que o portador tem mínima condição psicológica para tê-la, é realmente um absurdo. Diga não ao teste psicotécnico e defenda a desburocratização ao acesso à arma. Deveria ser como o jovem que matou três pessoas e feriu cinco em um cinema no Morumbi Shopping. Buy and try. Simple and easy.

Depois de tanto DIGA NÃO, diga não ao não.
Do outro lado temos a frente por um Brasil sem armas (www.referendosim.com.br) que apresenta dez razões para votar sim:
1. “Existem armas demais neste país”.
- Ser o país onde mais pessoas morrem por armas de fogo no mundo deve dizer alguma coisa. No mínimo algo não anda bem.

2. “Armas foram feitas para matar”.
- Algumas pessoas acham que é pra defesa, pra segurança, mas deixando de conversa mole se tiver de matar alguma pessoa em prol de si próprio, que se mate mesmo, atire para matar. Não é esta a idéia nua e crua?

3. “Ter armas em casa aumenta o risco, não a proteção”.
- Especialistas determinam treinamento para pessoas que querem ter porte de arma com 300 balas semanais, 300 tiros para que a ação se torne automática e precisa. Qual a probabilidade de mesmo os policiais e o BOPE (batalhão de operações especiais do Rio de Janeiro), para aqueles que lembram do episodio ônibus 174, estarem treinando com esta freqüência? É certo que nenhum cidadão de bem também não consegue treinar com esta freqüência, e ter uma arma sem nunca ter atirado é pior do que dar a arma para um cego.

4. “A presença de uma arma pode transformar qualquer cidadão em criminoso”.
- Esse argumento costuma cair quando comparado com países como Suíça, Israel, etc. onde a posse de armas não transforma os cidadãos em criminosos, mas como estamos no Brasil a coisa é mais embaixo, assim como a educação. As estatísticas comprovam que a grande maioria dos crimes com armas são para a solução de desavenças pessoais e não matar para roubar.

5. “Quando existe uma arma dentro de casa, a mulher corre muito mais risco de levar um tiro do que o ladrão”.
- Realmente deve existir um campo eletromagnético em volta do corpo feminino que atrai as balas. É tiro e queda.

6. “Em caso de assalto à mão armada, quem reage com arma de fogo corre mais risco de morrer”.
- Não precisa de muitas explicações porque enquanto a vitima saca a arma o bandido já está engatilhado, e eu com minha larga experiência como vítima de assalto acredito com veemência neste argumento.

7. “Controlar as armas legais ajuda na luta contra o crime. A - O mercado legal abastece o ilegal. B - As armas compradas legalmente correm o risco de cair nas mãos erradas, através de roubo, revenda ou perda”.
- Se o controle das armas legais ajudasse na luta contra o crime já estaria ajudando não? Já não são controladas??? Isso aqui está parecendo pegadinha.

8. “O Estatuto do Desarmamento é uma lei que desarma o bandido”.
- Eu não consigo imaginar um “cidadão de bem” andando armado por aí sem razão. Portanto se há alguém a ser desarmado é o bandido e obviamente é isso que o Estatuto visa, pelo menos é o mínimo a se esperar.

9. “Controlar as armas salva vidas”.
- O controle não salva a vida de ninguém, mas sim a educação daquele que está com o dedo no gatilho. Se as armas passassem a ser controladas no Iraque em nada diminuiria os homicídios, já na Suíça provavelmente não teria alteração nenhuma.

10. “Desarmamento é o primeiro passo”.
- O segundo passo é rezar, o terceiro é tomar vergonha na cara, o quarto é se eximir de preconceitos contra pobre e preto, o quinto é fazer algo que ajude essas pessoas menos favorecidas, e por aí vai, mas quem está disposto a seguir passos tão difíceis, muito mais fácil comprar uma arma e blindar o carro.

Muito do que está sendo discutido não passa de uma irracionalidade psicológica, uma histeria. Debates acerca da proibição do comércio de armas de fogo em sua grande maioria são realizados por pessoas que nunca foram vítimas da violência, pessoas que defendem o porte de armas e a sua comercialização sem que nunca manusearam uma arma. Fico impressionado como uma revista de circulação nacional como a Veja defenda abertamente não só a comercialização de armas como também uma corrida armamentista. Na ultima edição com a manchete “O arsenal do crime” defendem que a porcentagem de armas vendidas legalmente é irrisória e elas são menos potente do que as dos bandidos. Que pena, não é mesmo, que as armas são menos potentes? Imagine se fossem mais. Enfim, são fatos que ganham destaque e alarde sem a devida análise. Pra mim tudo aponta sinais de uma sociedade doente, que beira o insano, sendo fútil e burra. Sou vitima do crime, assaltado muitas vezes, digo que é IMPOSSIVEL evitar um ato violento. Quando deveríamos discutir como reduzir a violência nos debruçamos em questões como um possível aumento da violência se o bandido souber que o cidadão está desarmado. Isso está pior do que ver o Bush ganhar as eleições. É a completa irracionalidade, a luta do bem contra o mal.

Para você que acha que armamento ajuda no combate á criminalidade ou pelo menos vai garantir a sua segurança então trate de comprar aquele fuzil AK47, espalhe pistolas 9mm pela casa, instale uma bateria anti-aérea no quintal, distribua minas terrestres pelo gramado, construa um bunker debaixo da cozinha e trate de encomendar seu tanque de guerra na concessionária mais próxima. Você com certeza estará bem protegido, agora coitado daquele que cruzar o seu caminho.
Sim ou não, nada muda. Se você não anda armado, acredita na justiça e na educação como solução para os problemas da violência, então em nada mudará o resultado do referendo. É preciso ter vergonha na cara, seriedade. Os argumentos apresentados pela Veja soam mais como piada de mau gosto do que informação. Não somos uma Suíça, nem um Japão, nem Austrália e nem Inglaterra. De nada adianta nos compararmos com esses países desenvolvidos onde há educação, respeito ao ser humano, pouca desigualdade social e nível de renda elevado, é mais adequado nos compararmos a Ruanda, Congo, Angola, Papua Nova Guiné, Nigéria, Somália, Libéria, com todo respeito a esses países, e ainda assim os nossos índices de homicídios darão inveja a eles. Referendo por referendo deveriam votar a liberalização das drogas, cujo comercio ilegal é mais poderoso e violento do que o das armas. Deveriam votar a legalização do aborto, a proibição do fumo em locais públicos, a prisão perpétua para aqueles que dirigem alcoolizados e atropelam pessoas. Voto SIM, mas sei que dá na mesma que branco ou nulo.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

terça-feira, outubro 11, 2005

HELIÓPOLIS E A USP

Na segunda-feira da semana passada o presidente da república, Luís Inácio Lula da Silva, visitou São Paulo, mais precisamente a comunidade de Heliópolis, maior favela de São Paulo e segundo da América Latina. Foi a primeira vez que um presidente visitou uma favela. Neste mesmo período ocorreu a greve na Universidade de São Paulo (USP) por mais verbas para as universidades estaduais (USP, Unicamp e Unesp).
O que faz um presidente visitar uma favela, principalmente após uma reunião na FIESP?
Acompanhado de dois potenciais candidatos ao governo do Estado de São Paulo nas próximas eleições, Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante, ambos do PT, Lula novamente fez declarações que só cabem ao seu ego, afirmando ser um exemplo aos pobres. Como noticiou a mídia “Lula foi visitar um ponto de cultura, parceria da iniciativa privada com o Ministério da Cultura, que tem como objetivo levar cultura e formação para população de baixa renda. A idéia inicial do governo, como admitiu Lula, era construir uma casa de cultura em cada município, mas isso não foi feito. O que se fez foram 210 pontos em todo o país, que tem mais de 5.500 municípios”.

Enquanto isso, do outro lado da cidade a quilômetros de distância ocorria a greve. A greve da USP foi motivada pelo veto do governador Geraldo Alckmin, do PSDB, ao projeto de lei que eleva o gasto obrigatório com educação no Estado de 30% para 31% de sua receita tributária e aumenta a proporção destinada às três universidades estaduais de 9,57% para 10% da arrecadação do ICMS. A greve pretendia pressionar deputados estaduais a derrubar o veto.
Juntas, USP, Unicamp e Unesp respondem por cerca de metade da produção científica nacional e formam boa parte dos melhores quadros do país. Suas atividades contribuem para o desenvolvimento do Estado e do Brasil. Fato indiscutível.
A elevação significaria cerca de R$ 470 milhões adicionais, que seriam divididos entre universidades, ensino tecnológico e básico. As universidades alegam que precisam dos recursos extras para manter as novas vagas abertas desde 2001, em um programa incentivado pelo próprio governo. Dizem que, sem elas, a qualidade dos cursos pode cair. No total, foram criadas 5.512 vagas, distribuídas entre USP (2.787), Unesp (1.825) e Unicamp (900). Mais de 1500 manifestantes realizaram ato na Assembléia Legislativa de São Paulo, ato que chegou a gerar confusão quando tentaram fechar uma avenida próxima.
As universidades, porém, não são as únicas preocupações do governo. O Estado coloca R$ 9,8 bilhões na Secretaria da Educação, dos quais R$ 1,3 bilhão (menos do que os R$ 2 bilhões destinados à USP) destina-se ao ensino médio. O que vai contra o consenso internacional de investimento prioritário na educação fundamental.

Heliópolis reúne mais de 120.000 pessoas em uma área equivalente a dois terços do parque Ibirapuera. Já foi sinônimo de uma das regiões mais perigosas do Brasil e do mundo. Atualmente a palavra laboratório é a palavra que melhor representa a comunidade. Eis alguns exemplos:
O maestro Sílvio Bacarelli comanda uma orquestra sinfônica que começa a revelar talentos como o contra-baixista Adriano Costa Chaves que foi convidado pessoalmente pelo maestro Zubin Meta para um estágio na Filarmônica de Israel, uma das mais prestigiadas do mundo.
A bailarina Ana Botafogo, uma das mais importantes bailarinas brasileira, ministrará um programa de balé para a população local.
O renomado arquiteto Ruy Ohtake convidado pela liderança da comunidade tem realizado feitos impressionantes. Primeiramente coloriu as casas da rua principal, gerando não só uma valorização do cuidado com a manutenção como também as cores tem despertado alegria, moral e vida. Saiu o cinza padrão, o preto e branco e entrou a cor. A comunidade passou a ver a si próprio com cores. Próximo passo já inaugurado é uma biblioteca no qual os 1.000 primeiros livros do acervo não foram doados, mas escolhidos por José Castilho Marques Neto, diretor da biblioteca Mário de Andrade e editor da Editora da Unesp. "Tudo aqui tem de ter dignidade. Não é porque é pobre que você vai fazer no olho. Não vamos fazer biblioteca com aqueles livros que as pessoas não querem mais", diz Ohtake. Ainda deverão ser construídos um cinema com capacidade de 120 lugares, um centro cultural e uma galeria de exposições, tudo projetado por Ruy, que ainda utilizou seu renome para atrair os recursos necessários. A biblioteca terá como financiador o banco Pan-Americano, já o centro cultural fica por conta da construtora Matec.
A idéia de Ohtake é que a exclusão social é acompanhada da exclusão territorial e arquitetônica. A favela, para ele, não pode mais ser considerada uma ocupação temporária que, por conta disso, é um amontoado de déficits. A infra-estrutura é atribuição do Estado, segundo ele, mas o resto deve ser uma tarefa de todos.
Em janeiro passado, uma prisão desativada foi convertida em biblioteca. O espaço é hoje freqüentado por 600 alunos, que recebem gratuitamente aulas de inglês e computação, além de reforço escolar.
Líderes locais ajudaram a formar policiais capazes de entender os segredos da favela. Criou-se um posto de policiamento comunitário. Um pastor, Carlos Altheman, coordenou as demandas por mais segurança. "As pessoas perderam o medo e passaram a denunciar mais", diz o pastor, autor da idéia de fazer da carceragem uma biblioteca.
Um exemplo impressionante é o caso do roubo de todos os computadores da escola municipal que funciona em Heliópolis. "Não sobrou nenhum", lembra o diretor da escola que cursa pós-gradução, saiu pela favela falando com as pessoas sobre a importância dos computadores para o aprendizado das crianças. Resultado: dois dias depois, todos os equipamentos estavam de volta. E devidamente instalados.
São muitos os exemplos que se destacam pela elevada produção com poucos recursos. Heliópolis ainda sofre com problemas sociais que não sumiram da noite pro dia. Não virou uma maravilha, mas boa parte desses programas que vem sendo realizados tem refletido em indicadores como a queda dos índices de homicídios, que nos últimos três anos teve queda de 60% e é um verdadeiro laboratório que emana cultura e educação para Lula, para a USP e para qualquer político e cidadão ver.

Após as grandes pressões o governador acabou cedendo e a USP deverá receber, de acordo com o texto enviado à Assembléia Legislativa de São Paulo, R$ 18,5 milhões a mais do que o normal. A Unicamp, R$ 20 milhões. USP, Unesp e Unicamp precisam gastar melhor o que o contribuinte paulista lhes dá, diminuindo suas ineficiências administrativas. Aumentar o repasse do ICMS, além de prejudicar outras despesas fundamentais do Estado, seria um desestímulo à otimização do gasto. Enquanto discute os recursos para 2006, a Unesp vem enfrentando problemas financeiros já neste ano. Comprometida com o pagamento do décimo terceiro a universidade promoveu um corte de 15% dos recursos destinados ao custeio (manutenção). Há redução, por exemplo, na conta de luz, fazendo com que lâmpadas sejam apagadas. Ao menor sinal de falta de recursos as universidades aqui analisadas tomam uma atitude altamente egocêntrica, corporativista e anti-democrática. Deixam os interesses da sociedade de lado em detrimento de mais recursos para si próprio. Empregam práticas administrativas ultrapassadas de grandes desperdícios. Sabem que esses recursos adicionais que pleiteiam terá de sair de áreas como segurança, infra-estrutura, cultura, habitação e saúde, e mesmo assim deixam o interesse particular pesar mais.

Faço aqui uso de trecho de texto publicado no dia 01/09/05 no O Estado de São Paulo sobre a greve na USP de autoria de Roberto Macedo, economista (USP), com doutorado pela Universidade Harvard: “O fato de os gastos públicos sociais não beneficiarem devidamente os mais pobres é agravado porque o sistema tributário que os financia se assenta principalmente em impostos indiretos, de caráter regressivo em relação à renda, pois os mais pobres gastam em bens e serviços tributados com impostos desse tipo uma proporção maior de seus rendimentos do que as classes de renda mais alta. A educação superior pública paulista é bem ilustrativa dessa distorção, pois é custeada com um imposto indireto, o ICMS, e dela se beneficiam com maior intensidade os estudantes originários dessas classes (renda mais alta)”.

Honestamente nunca fui para Heliópolis e nem faço parte da USP. Tudo que escrevi são informações retiradas das mais variadas mídias. Contudo, o que temos são fatos mais do que concretos que revelam o poder da vontade de mudar sem ficar esperando a boa vontade de Brasília e dos órgãos públicos. Revela que com seriedade as coisas funcionam, viram referência internacional. A valorização da cultura e da educação em Heliópolis tem apresentado resultados impressionantes mesmo no curto prazo. Se antes os jovens da favela tinham como referência somente o traficante e o jogador de futebol hoje já tem Adriano Costa Chaves. Temos um exemplo nacional a ser seguido não somente por aqueles em Brasília, mas que ensina a todas as pessoas como fazer um país sério de verdade. Heliópolis dá uma verdadeira aula para a USP, de como fazer muito com poucos recursos, de como pensar no próximo para o bem de todos.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

segunda-feira, outubro 03, 2005

DÁ PRA VIVER SEM?

Você consegue imaginar uma vida sem televisão? Fazer aquele trabalho da faculdade sem internet? Passar o dia sem aquela música que toca no rádio? Enfim, atualmente a mídia orienta a nossa vida e tudo isso é um fenômeno recente, alguns anos atrás ninguém tinha o hábito de ficar horas em frente à televisão e ao computador na internet.

Pesquisa realizada em junho deste ano pelo instituto NOP World com 30 países buscou levantar informações sobre cultura e mídia. Foram detectados ricos e importantes dados. O Brasil aparece em oitavo lugar no ranking de horas frente à televisão. São 18,4 horas semanais bem acima da média mundial, de 16,6. No caso do rádio o Brasil aparece em segundo lugar nessa lista, os brasileiros passam 17,2 horas, mais do que as oitos horas da média dos países. Na internet somos o 9º colocado com 10,5 horas. É na leitura que apanhamos feio, somos o 4º país que menos tempo dispende com a leitura com somente 5,2 horas. Quase quatro vezes menos que o tempo gasto com a televisão. Vale destacar que o fenômeno que ocorre é mundial. A leitura perde espaço para a televisão e para a internet. Somente 17% dos países pesquisados dedicam menos do que 2 horas por dia com a televisão. Para piorar o conteúdo de leitura vem sofrendo cada vez mais um processo de massificação no sentido de que as pessoas estão lendo os mesmos livros ou conteúdo semelhante. No pouco tempo gasto com leitura geralmente é dedicada a livros-febre como Código Da Vinci e O Monge e o Executivo.


Perante o que foi apresentado até este ponto o que se tem a destacar é o quarto poder. A força da mídia, do seu poder de influência sobre a sociedade e seus fatos, o poder da informação como ela é apresentada. De acordo com o que foi mencionado acima não conseguimos viver mais sem ela, são mais de dois dias por semana gastas com as mídias.

No Brasil a mídia pode ser resumida em duas palavras: Rede Globo. Ela concentra a grande maioria dos telespectadores e receitas de mídia no Brasil. O jornal dos brasileiros é o Jornal Nacional, independente de opiniões. O poder exercido por essa empresa é monstruoso sendo considerada internacionalmente como uma das redes de informações mais poderosas do mundo. Dificilmente alguma denuncia em cadeia nacional na Rede Globo passa em branco sem alguma cabeça rolar. Não quero fazer deste texto um muro de fuzilamento da Rede Globo, que aliás tem seus méritos por profissionalismo e competência.

O que fica evidente quase que diariamente são os casos em que o quarto poder fica explícito. Na prisão de Flávio Maluf, filho de Paulo Maluf, o jornalista César Tralli da Globo conseguiu se “infiltrar”, disfarçado de policial, na equipe da Polícia Federal e com uma câmera na mão gravou tudo desde o momento em que foi algemado até o interior da sede da PF em São Paulo. A cena “exclusiva” de Flávio sendo algemado acabou virando símbolo da prisão dos Maluf’s. Dias atrás o apresentador da Band Gilberto Barros, o Leão, foi chamado para negociar um seqüestro ao vivo fazendo parte das exigências dos bandidos que fosse tudo gravado e transmitido como uma forma de garantir a sua integridade física. Na mídia impressa quem não se lembra dos artigos do norte-americano Larry Rohter, correspondente do jornal New York Times, sobre Lula? Tentaram até expulsar o jornalista do país, o que acabou sendo um absurdo maior ainda. E as denúncias na Veja e no O Globo contra Roberto Jefferson que acabaram gerando toda essa crise política que nos deparamos, como esquecer!?

Ainda me lembro claramente da denuncia realizada no Fantástico sobre falhas nos programas sociais como o Bolsa-Escola. Filmaram casos em três cidades onde pessoas que aparentemente estavam com uma condição econômica-social que não justificava o recebimento da bolsa de ajuda enquanto pessoas em pior situação estavam de mãos abanando. Com fitas em mão foram até o responsável maior, o ministro Patrus Ananias do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Primeiro deixaram o ministro à vontade falando do seu trabalho desenvolvido no ministério. Em seguida mostraram a fita com os casos explícitos de incompetência administrativa e colocaram o microfone na boca do ministro que estava no chão. Na tentativa de explicar o conjunto de erros Patrus Ananias perante a mídia nacional mostrava-se nervoso embora quisesse transmitir o contrário e suava (não a frio, literalmente mesmo). Pelo jeito saiu-se bem com a frase “as denúncias são uma das melhores formas para corrigirmos os erros e etc, bla-bla-bla” ainda permanece no cargo embora tenha sido vítima do quarto poder.

Sou crítico do abuso de poder não só da Rede Globo como das outras mídias. Quando fica claro que a edição conspira a favor de interesses é revoltante. De qualquer modo fica cada vez mais nítido a consciência da sociedade e a fiscalização contra essa manipulação da massa. Nisso a educação tem grande responsabilidade gerando pessoas que consigam pensar por si próprios, cada cidadão passa a agir como um fiscal.

É esse o poder do qual ninguém está imune e que consegue dar vida ou morte a qualquer coisa. Muito poder a serviço de interesses maiores. Não vejo e nem seria o caso de uma solução. Deve-se sim criar uma conscientização sobre o abuso de poder que não se limita somente ao quarto poder. Com relação às práticas excessivas made in Brasil temos muitos exemplos com os quais nos preocuparmos: violência (física e verbal), autoritarismo, uso de cargos públicos para práticas de atos obscenos, e por aí vai.

OBS - E nada nos surpreende mais neste país. Lula justamente a cara do seu partido, aquele que tantos anos foi o seu garoto propaganda não foi votar na eleição da presidência do PT. Quando minha amiga Paula me confessou que votaria em branco nas eleições (não a do PT, me refiro a eleições em geral) fiquei estarrecido e indignado, não se pode confundir corrupção com a democracia. E eis que o Lula deixa de votar naquele partido que ele mesmo ajudou a fundar. Definitivamente rasgaram aquilo que sempre defenderam. É o replay do “esqueçam o que escrevi, esqueçam o que falei”.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

FENÔMENO

O dia 7 de setembro passou. A semana da pátria e tudo mais passou. Desfiles alegóricos, ops, militares alegraram a população, carente por algum tipo de entretenimento. É a comemoração da independência.

Só poderia neste momento tratar de um assunto: POLÍTICA.
Algo ocorre neste país tupiniquim. Ao mesmo tempo em que nos deparamos com o maior caso de corrupção já visto, em nossa história e talvez da humanidade, a política domina tudo, está em todos os lugares, em toda mesa de bar e buteco, nas filas do banco, nos ônibus, nas escolas, no metrô, nas reuniões de família de fim de semana, enfim a política impregnou tudo.

Na televisão basta ligar que a política estará lá batendo ponto. Na Globo todos os programas foram temperados com uma pitada de política. Na Grande Família o tema principal foi a eleição para presidente da Associação de Moradores. Todo o processo com direito a compra de votos, troca de favores, esquema do Pastelão do Beiçola e a famigerada CPI. No Casseta e Planeta, então nem se fala. Tem ainda o Programa do Jô que dedica todas as quartas para uma discussão do panorama político com jornalistas (todas mulheres) dessa área, além de entrevistar deputados, senadores, cientistas políticos, etc, nos outros dias da semana. No programa SacaRolha do canal 21 os apresentadores não contentes em comentarem a política da base em São Paulo foram pessoalmente gravar o programa em Brasília, onde com bom humor e bom senso realizam um programa único. Na MTV o dito cujo também brota no programa VJ’s em Ação. No SBT até o sofá da madame Hebe recebe o dito cujo. Na TV Cultura então os programas do Roda Viva só deixam ele aparecer. Na Record o jornalista Boris Casoy continua com a sua implacável marcação sobre os políticos com muita responsabilidade.

Na mídia eletrônica, que ganha cada vez maior significância, o tema também não é outro. Sites como o kibeloco.com.br, charges.com.br estão se transformando em pontos obrigatórios para os que acessam a internet e buscam humor nessa crise toda. O destaque humorístico é tamanho que consolida a frase “Brasil, país da piada pronta”.

A Seção da Tarde saiu e deu lugar ao depoimento de Roberto Jefferson, o Vale a Pena Ver de Novo fica de lado e entra Zé Dirceu, os programas de fofocas então precisaram fazer um up-grade e passaram a debater cada depoimento.

Alguém consegue explicar isso? Alguém explica essa dominação temática da política nas mídias?

Ouso afirmar (minha opinião) que toda essa mudança na postura dos cidadãos brasileiros seja um dos primeiros sinais da universalização da educação realizada no governo FHC. Seria um sinal do avanço da educação na sociedade, pois somente em regiões de baixos índices educacionais o presidente Lula mantém boas avaliações de seu governo e de sua atuação. Talvez seja a experiência democrática que só o tempo ensina. Talvez seja muitas horas na frente da TV e ilusão minha. Mas com certeza algo ocorre. Quando Collor e PC fizeram as suas maracutáias em Brasília eu ainda era um garoto e não me lembro de detalhes, contudo tenho certeza que não teve tamanha repercussão por tanto tempo em tanta variedade de mídia. As atitudes aparentemente são diferentes. Se por um lado os “caras pintadas” jogaram no lixo toda a sua história ao manifestar apoio ao presidente Lula perante o inexplicável, a sociedade e os meios de comunicações buscam maiores informações e atuações responsáveis.

Pessoalmente nada do que se revelou me impressiona, se quiserem procurar mais corruptos encontrarão com facilidade. A corrupção é quase que uma doença crônica no Brasil que exigirá de todos e não somente dos políticos muita seriedade. Ressalto aqui a importância dos empresários nos esquemas de corrupção. Quem pensa que político é tudo corrupto, então trate de repensar a si mesmo, em pesquisa recente com cidadãos paulistanos revelou que mais de 50% dos entrevistados aceitariam fazer parte do esquema do mensalão ou coisa do gênero.

Essa história toda acabará com poucas ou nenhuma condenação jurídica, mas as condenações políticas estão aí. As cabeças estão rolando nos partidos envolvidos. Sobrou até para a lenda Paulo Maluf que finalmente foi parar na cadeia. Não tenho a menor dúvida de que as pessoas, em sua maioria perderam a ingenuidade, descobriram que não se vota de brincadeira, não se vota pela aparência, pela conveniência. O estilo “rouba-mas-faz” de Paulo Maluf saiu de moda. Congressistas do gênero “velho-cacique” como ACM e Jorge Bornhausen apesar de possuírem peso estão perdendo espaço para uma nova geração de políticos comprometidos com os seus eleitores. Surge uma gama de políticos do Executivo que se destacam pela inovação e geração de resultados mesmo com um orçamento apertadíssimo.
O deputado Roberto Jefferson é sujo, corrupto e safado, mas acredito que fez mais pelo nosso país que Dom Pedroca fez ao “comprar” a independência e gritar nas margens do Ipiranga: Independência ou morte. Deixo claro que Bob Jeff e companhia ilimitada precisam ser punidos pelo que fizeram de errado. Contudo ressalto que independência, desenvolvimento, comprometimento, seriedade, respeito e outras coisas mais, não se compra, mas sim se constrói e conquista. Como podemos ver somos um país independente, mas nem tanto.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

segunda-feira, maio 16, 2005

O BRASIL QUE DÁ INVEJA À SUÍÇA

Caros amigos(as) e colegas, vocês não estão delirando. É isso mesmo, existe no Brasil um “país” onde as pessoas são mais desenvolvidas e vivem em melhores condições do que os suíços. As pessoas são altamente qualificadas e têm uma remuneração equivalente ou superior ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita dos países mais desenvolvidos. Inclinando um pouco para a minha veia nacionalista, existe um Brasil que funciona, dá certo e mostra que o que hoje é uma ilha de prosperidade pode em breve se transformar em um continente.
O índice de desenvolvimento humano, o IDH como é mais conhecido, é utilizado pelas Nações Unidas para mensurar as realizações médias de um país em três áreas do desenvolvimento humano: “uma vida longa e saudável, medida pela esperança de vida à nascença; conhecimento, medido pela taxa de alfabetização de adultos e pela taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior; e um padrão de vida digno, medido pelo PIB per capita em dólares PPC (paridade do poder de compra).” (fonte: relatório do desenvolvimento humano 2004).
Quanto mais o IDH se aproximar de um, mais desenvolvido é o país. A Noruega lidera o ranking com 0,956, seguido por Suécia, Austrália, Canadá, Holanda, Bélgica, Islândia, Estados Unidos, Japão e, para concluir os top 10, a Irlanda. O Brasil aparece na posição 72 como desenvolvimento humano médio. No final da fila estão Guiné-Bissau, Burundi, Mali, Burkina Faso, Niger e Serra Leoa.
Portanto o IDH leva em consideração três critérios: expectativa de vida, renda e escolaridade. Com base nisso e em dados do IBGE, o professor de Economia do Trabalho da Universidade Federal do Rio de Janeiro Marcelo Paixão chegou às seguintes conclusões:
1) O IDH dos judeus brasileiros supera o IDH da Noruega;
2) O IDH dos descendentes de orientais (japoneses, coreanos e chineses) é similar ao do Japão.
Para explicar esses dados impressionantes destaco a importância que a educação tem na vida de judeus, japoneses, coreanos e chineses. Dos judeus acima dos 25 anos de idade, 63% deles estão cursando ou já concluíram o ensino superior. No ritual de passagem da vida infantil para a adulta (bar mitzvá) os judeus aos 13 anos precisam ler a Torá, se não eles ficarão em Neverland onde continuarão sendo criança. Com relação aos asiáticos há uma mistura de valorização da educação, com meritocracia, disciplina e respeito ao professor.
Não quero aqui defender supremacia e superioridade racial, muito pelo contrário, acredito que esses exemplos demonstram que mesmo em um país desacreditado como é o Brasil é possível ter uma vida que supera a dos japoneses, norte americanos e alemães. Com a novela América que está no ar na Rede Globo, está na moda o tema imigração. São milhares de pessoas que anualmente “tentam a sorte” nos países desenvolvidos, com destaque para os Estados Unidos e Japão, seja por razões financeiras ou por causa da violência local.
Oriundo do estado de Mato Grosso atual líder nacional na produção de soja, algodão e um dos principais produtores pecuários e de outros cultivos vejo os avanços do agronegócio como exemplo do potencial brasileiro. Têm grande destaque na mídia nacional e internacional os frutos da riqueza produzida na região. Impressionante consumo de aviões, máquinas agrícolas de 500.000 reais cada, carros importados, etc. As cidades esbanjam escolas públicas de qualidade, hospitais onde ninguém fica jogado nos corredores, esgoto e água potável para quase a totalidade da população. Infelizmente o que não mostram é a coragem e a ousadia de empreendedores originários em sua grande maioria do sul do Brasil. Enfrentaram elevadíssimos riscos que qualquer um analista de crédito de banco classificaria como capital perdido, mas principalmente acreditaram no país, acreditaram que poderiam criar riqueza no solo pobre e ácido do cerrado. Sequer existia na época semente adequada para a área a ser cultivada, a terra era imprópria para praticamente qualquer cultivo e os recursos para investir eram escassos.
Os ganhos de produtividade em tão curto prazo hoje impressionam o mundo todo, mas o que realmente importa é o aumento da qualidade de vida da população daquela região. A agropecuária brasileira já está começando a ser chamada como celeiro do mundo e figura entre as potências. Com tantos problemas que surgem na mídia elas nos fazem acreditar que vivemos no pior país no mundo, mas é preciso acreditar no Brasil e não só assumir os problemas como também enfrenta-los com criatividade e vontade.
Para encerrar gostaria de contar uma história triste que teria um fim diferente em qualquer país desenvolvido do mundo. O desenvolvimento de um país está na atitude do povo que a constitui e não apenas em números, como diria o Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry.

O pedreiro que inovou no combate à seca
Foi transportando diariamente no lombo de um burro 90 litros de água que Manuel Apolônio de Carvalho teve a idéia de construir um modelo de cisterna popular, mais barata e resistente, para captar a água da chuva e armazenar num tanque. Após 50 anos de sua invenção, o projeto de cisternas proporciona água para centenas de milhares de pessoas que moram no Semi-Árido nordestino.
Desde cedo, ele aprendeu a se adaptar à dura realidade da seca. Para garantir a água de sua família e irmãos, Apolônio viajava seis horas por dia até o riacho mais próximo de sua casa. Em busca de um futuro melhor, decidiu aos 17 anos tentar a sorte em São Paulo. Enfrentou dias de viagem num “pau de arara” — caminhões precários que transportavam os migrantes —, chegou à capital e começou a trabalhar como servente de pedreiro na construção de piscinas.
Após quatro meses na cidade, tempo suficiente para dominar a técnica da construção de piscinas, Apolônio decidiu voltar para a Bahia com a roupa do corpo e uma idéia na cabeça: a piscina que servia de lazer aos paulistas abastados serviu também de inspiração para Apolônio criar um sistema simples que ajudou a combater o complicado problema da seca de sua região. “Descobri que tinha criado um meio de ganhar dinheiro e também de ajudar as pessoas que sofriam”, afirma.
A principal diferença entre as cisternas tradicionais e a criada por Apolônio está na técnica de construção. Ao invés de utilizar formato quadrado com estrutura de pedra e cal, ele criou uma cisterna redonda, estruturada em placas pré-moldadas de cimento. Com esse processo, a cisterna pode ser construída de forma mais rápida e com um custo inferior.
Bastou Apolônio construir a primeira cisterna, na casa de um amigo de seu pai, para a idéia ganhar força em sua comunidade — a água da chuva era captada do telhado da casa e armazenada num tanque. Três anos após a primeira obra, ele já havia construído cerca de 400 cisternas em diversas regiões do Semi-Árido. A partir daí o negócio cresceu, e Apolônio montou uma equipe para construir cisternas por todos os Estados do Nordeste. “Cheguei a ter 70 empregados e perdi a conta de quantos cisternas construímos”, orgulha-se.
O sistema criado por Apolônio ganhou popularidade e, com o passar dos anos, começou a ser utilizado por organizações públicas e privadas. Na mesma medida em que as cisternas se popularizavam, Apolônio foi perdendo clientes, até ser engolido por empreiteiras maiores. Hoje, vive com dificuldade com sua esposa e três filhas. “Recebi homenagens de ministros e do governo, mas o que eu quero hoje é apenas um dinheiro pra poder comer”. Atualmente com 68 anos, o inventor das cisternas diz sofrer de problemas de saúde e não ter dinheiro para pagar um tratamento adequado.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

segunda-feira, maio 02, 2005

FELIZ ANIVERSÁRIO!

Neste final de semana fez um mês que ocorreu no Rio de Janeiro o que foi intitulado como o “massacre na Baixada”. Em uma hora 30 pessoas foram assassinadas à bala em 11 locais das cidades de Nova Iguaçu e Queimados, municípios da Baixada Fluminense. Para se ter uma idéia essa foi a ação mais violenta desde o assassinato de 21 pessoas por policiais na favela de Vigário Geral em agosto de 1993. Novamente existem fortes indícios do envolvimento de policiais no caso. Desta vez eles estariam agindo como resposta a investigações determinadas pelos comandantes dos batalhões na Baixada Fluminense. Dias antes do massacre oito policiais foram presos acusados de matar duas pessoas, degolar uma delas e jogar a cabeça dentro do pátio do batalhão.
Das trinta pessoas que foram fuziladas pelo menos sete eram menores de 18 anos, dos quais seis tinha 15 anos ou menos. Uma das vítimas tinha ido ao bar pagar uma dívida de R$ 2, outro garoto foi morto na frente da mãe e um pai foi executado na frente da filha de quatro anos
Os participantes do massacre nem se preocuparam em esconder os rostos durante a ação. Segundo denúncias de moradores e especialistas esses grupos de policiais são grupos de extermínio que surgiram em julho de 1962 quando uma onda de saques durante uma greve geral deixou mais de 40 mortos e comerciantes de Duque de Caxias contrataram “vigilantes” para proteger seus negócios. Desde então alguns policiais fazem “hora-extra” para comerciantes e traficantes da região.
Detalhando o tour que o esquadrão fez as primeiras vítimas foram dois ciclistas que passavam pela rodovia Presidente Dutra, em seguida um cozinheiro que passava pela rua e depois dois travestis. Depois de passearem por um tempo decidiram passar em um bar e matarem mais nove e invadirem uma casa onde dois irmãos foram mortos na frente da esposa de um deles. No caminho mais dois foram mortos. Seguindo a viagem para Queimados, a cerca de 15 km de distância, resolveram fazer um pit-stop em um lava-jato onde até o centro foram mais três mortos. Passando em frente a um bar derrubaram mais cinco pessoas e fizeram outro pit-stop final onde outras quatro pessoas foram mortas. Nossa!!! Nem dá pra acreditar que isso aconteceu em duas cidades urbanas que juntas somam quase 950 mil habitantes. Parece até um relatório de algum soldado ianque no Iraque.
Nova Iguaçu e Queimados são dois típicos municípios que revelam o lado pobre deste país. A renda per capita mensal não passa de R$ 421 quando no Estado do Rio a média é de R$ 997. A média de anos de estudo beira os seis anos e o analfabetismo oficial gira em torno de 6%. Não quero estimular aqui o ódio contra aqueles que tem menos renda, educação e qualificação do que nós. Muito pelo contrário.
Vamos fazer uma breve reflexão:
Imaginem a cidade de São Paulo. Policiais decidem começar a “caçada” no parque do Ibirapuera matando dois ciclistas, depois passam pelo bairro de Moema e deixam mais três corpos na região e em seguida rumam para o centro da cidade na esquina da avenida São João com a Ipiranga, lá no badalado Bar Brahma e decidem matar mais seis fregueses. Seguindo o tour vão para a região de Higienópolis onde matam quatro “intelectuais” que descansavam na praça Boim, incansáveis passam pela FGV onde matam três pessoas (Deus me livre se for um professor, bata na madeira), e rumam para a cidade vizinha chamada Jardins. Entre freguesas da Oscar Freire e ademais pessoas endinheiradas ficam quatro pessoas no caminho apesar da maior concentração de seguranças por metro quadrado do país. Não poderia faltar uma balada na Vila Olímpia onde mais duas pessoas vão para o IML (Instituto Médico Legal) e para o gran finale todo o estilo na nova Villa Daslu onde seis donzelas seriam fuziladas. Pronto, por incrível que pareça consegui distribuir 30 mortes pela cidade de São Paulo. Agora imagine que isso tudo aconteça em 1 hora. Chega a ser inimaginável. Mas por que?
O presidente Lula somente se limitou a declarar o caso como um crime bárbaro e covarde e designou alguns ministros para o caso. Em seguida deu continuidade a sua agenda de viagens e preparativos para a eleição que se aproxima. Será que essa atitude seria a mesma se tivesse o crime ocorrido como inventei acima ou mesmo em Ipanema ou na Barra da Tijuca? Será que a repercussão na mídia seria a mesma que o massacre na baixada?
Para efeito comparativo veja a missionária americana Dorothy Stang que foi assassinada no norte do país. Repercutiu tanto na mídia e na sociedade que até mandaram o Exército pra região. Mas também tem o caso da morte por fome de alguns índios e isso no país do Fome Zero. Segundo o brilhante ministro da Saúde Humberto Costa o número de mortes naquela tribo está na média estatística de sempre, portanto está tudo bem.

Faz um mês que o massacre na baixada aconteceu e até agora vemos a repercussão do fato. As pessoas não conseguem parar de falar sobre isso. O ex-papa João Paulo deve até estar incomodado de como falam do maior massacre do Rio de Janeiro e não da sua morte e sucessão. Esse texto serve mais como um convite à reflexão de que antes de começarmos a pensar em pena de morte e cadeira elétrica, ou mesmo gastarmos rios de dinheiro na autodefesa blindando o carro ou erguendo grades e muros de dar inveja a qualquer castelo medieval, devemos considerar os brasileiros como seres humanos em sua essência independente da renda, cor ou aparência.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

domingo, abril 10, 2005

ROBERTO CARLOS, O REI.

Vou contar um pouco da história de um fantástico brasileiro: Roberto Carlos.
Não, não é o rei que todo final de ano canta na Globo, nem o lateral esquerdo do Real Madrid e da nossa seleção. Esse é Roberto Carlos Ramos, mestre em pedagogia pela Unicamp, pós-graduado em literatura infantil pela Puc-MG e premiado como um dos dez maiores contadores de história da atualidade pela Associação Internacional de Contadores e Valorizadores da Expressão Oral, sediada nos Estados Unidos. Seu histórico durante a infância e a juventude não é das mais brilhantes: mais de uma centena de fugas da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de Minas Gerais, começou a usar cola aos 11, maconha anos depois e roubou nas ruas de Belo Horizonte. Sua vida até aquele ponto se resumia a: roubar, usar drogas, ir para a Febem, fugir de lá e roubar mais, respeitando sempre os idosos e as gestantes, segundo Roberto Carlos. Ele não sabia o que queria ser quando crescesse. Pensava que os maus tratos que recebia eram por não ter uma resposta correta para pronunciar. Um dia, resolveu falar, inspirado num filme, que queria ser astronauta. Sentiu-se feliz da vida ao notar que a professora, satisfeita com a declaração, prometeu encaminhá-lo para uma escola de astronautas. Chegando lá, deram-lhe uma enxada, algo muito diferente da nave espacial com que sonhou.
Rejeitado pela sociedade e sem nenhuma perspectiva sua vida estava destinada à morte violenta ou passar a vida em algum presídio, talvez até fazer amizade com o Fernandinho Beira-Mar. Passou a roubar tanto que até os idosos e as gestantes não escapavam mais, até mesmo em pleno Natal.
Na Febem ao ser analisado por “especialistas” recebeu a seguinte classificação: irrecuperável. Caso perdido, perda de tempo e de recursos. A vida de Roberto Carlos mudou quando ele conheceu uma pesquisadora francesa (Marguerit Duvas) que buscava conhecer melhor a maravilhosa Febem. Quando ela ficou sabendo que Roberto Carlos havia sido avaliado como caso irrecuperável ela não acreditou que era possível condenar uma pessoa tão jovem daquela forma. Acolheu o garoto na sua própria casa aqui no Brasil e ofereceu-lhe educação. Roberto Carlos, cidadão brasileiro, foi alfabetizado primeiro em francês e então aprendeu o português. A francesa percebeu que o comportamento do “irrecuperável” era diferente dos garotos “normais” da sua idade, então adaptou os professores particulares para maximizar o aprendizado de Roberto Carlos. Aprendeu a ler e a escrever em alguns meses, coisa que em 13 anos não tinha conseguido.
A gringa tinha a visão de que todos somos diferentes e que essas diferenças devem ser respeitadas, assim como todos devem ter chances para terem uma vida digna, não só através da esperança e da fé, mas principalmente através da educação. E em entrevista recente parece que Roberto Carlos aprendeu essa lição ao responder se ele acreditava em pessoas irrecuperáveis: “Não. O que existe na verdade são pessoas que não foram entendidas, amadas ou oportunizadas adequadamente. O que falta muitas vezes nessas instituições é um grande exercício de tolerância. Quando você trata com o coletivo e deixa de lado a individualidade, gera esses desastres que acontecem com as Febems e Funabems. No terceiro milênio, infelizmente estamos vivendo isso ainda. Algumas instituições acham que podem trabalhar com dois, três mil alunos. Eu era um número, o 374. Muitos dos meus colegas me conheciam pelo meu número e não pelo meu nome, o que é muito triste.”

Recentemente foi divulgado que uma criança ganha em média R$500 por mês nos semáforos de São Paulo. Existe uma estrutura que acompanha esse tipo de atividade: a criança deixa de ir à escola, familiares e adultos através da violência física forçam ela a sempre voltar para casa com algum dinheiro e esse ciclo de miséria e subdesenvolvimento é continuado ou perpetuado.

Precisamos fiscalizar e valorizar os políticos bem como ONG’s que priorizam a educação e as inovações para combater esse ciclo de pobreza. Essa história de Roberto Carlos representa a esperança de que uma vida marcada pela miséria, drogas, violência e vida na rua, pode mudar e ser uma vida de desenvolvimento. Só assim conseguiremos atingir um nível de país prazeroso de se viver.

Para conhecer um pouco mais sobre Roberto Carlos: www.robertocarloscontahistoria.com.br

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

segunda-feira, abril 04, 2005

PORNOGRAFIA NACIONAL

Tirem as crianças da sala, do quarto ou de onde você estiver lendo este texto. Foi-se o tempo em que presidente da Câmara dos Deputados era um cargo meramente ilustrativo sem repercussão alguma. Sim, neste texto vou comentar um pouco da gestão e da personalidade do já famigerado Severino Cavalcanti.
No site da Câmara dos Deputados é possível encontrar algumas informações sobre Severino na sua seção pessoal. Originário de Pernambuco ele tem mais de 40 anos de carreira ininterrupta na administração pública. Começou em 1964 como prefeito de João Alfredo, depois foi deputado durante 28 anos e a partir de 1995 é deputado federal. Inclusive nas eleições de 6 de outubro de 2002 ele ajudou a eleger a sua filha Ana Cavalcanti para deputada estadual. Severino é o deputado federal com mais tempo de mandatos consecutivos (oito anos) na Mesa Diretora da Casa nos últimos 50 anos. Dentre as inúmeras propostas de lei e emendas à Constituição nestes 40 anos de trabalho, destaca-se a “Lei Carla Perez”, consideração da pratica do aborto um crime e a proibição da venda de brinquedos em forma de arma.
Passado pouco mais de um mês sob gestão Severino Cavalcanti a Câmara dos Deputados está mais popular do que nunca e vem mostrando muito serviço para a sociedade. Eis alguns destaques:
1) Inicialmente Severino tentou aumentar o salário dos deputados em mais de 60%, mas por enquanto não conseguiu.
2) Foi aprovado um aumento de 25% na verba de gabinete – de R$ 35.350 para R$ 44.187- o que provocará um custo anual de R$ 103 milhoes.
3) Severino empregou pelo menos oito parentes desde 1997, dos quais seis continuam trabalhando. Salários variam de R$ 1.687 e R$ 7.503. O nepotismo (facilitação a parentes na esfera pública) é considerado imoral, mas não há lei que a proíba.
4) Severino deixa claro que é contra a redução das férias dos deputados assim como outros favorecimentos que só aquele que está no poder pode desfrutar.

Severino Cavalcanti com todo o seu jeitinho brasileiro de 1º de abril vem ganhando o apoio de muitas pessoas como eu e você. Essas pessoas argumentam que Severino presta um serviço ao país ao revelar tudo escancaradamente o que os outros políticos lutam em esconder. Afirmam que assim todos podem ficar sabendo o que se passa nos bastidores de Brasília, como a troca de favores entre executivo e legislativo (troca de cargos por apoio no Congresso) e a pressão do presidente da Câmara para a nomeação de um de seus amigos.
Um desses satisfeitos com a atuação de Severino parece ser o jornalista Otávio Cabral que na edição da revista Veja de 5 de abril de 2005 escreveu uma matéria dizendo que Cavalcanti é o Forrest Gump made in Brazil e apesar de ele fazer tudo errado o resultado é bom. Ganha destaque o confronto entre Severino e o governo federal na batalha da medida provisória 232, segundo o jornalista a pressão da sociedade foi importante, mas Severino foi o trunfo brasileiro. Essa postura independente ou se preferir autoritária de não consultar os líderes e vez ou outra o líder do próprio partido, o PP, é elogiado e visto como algo que vem produzindo benefícios como a maior autonomia da Câmara dos Deputados em relação ao Executivo.
O presidente da Câmara ao tratar com naturalidade as intrigas políticas bem como contratar parentes com dinheiro público faz com que vejamos o errado dar bom resultado e passar a ser algo eticamente justificável. Tudo bem que é algo errado, mas se está funcionando por que não continuarmos? E assim vamos levando as coisas neste país, onde os Severinos da vida são vistos como criaturas inofensivas e até carismáticas dignas de nosso apoio. Por anda aquele anão barbudo com binóculos que certa vez foi eleito como o deputado federal mais votado? Ah, estou falando do Enéas. Tem algum eleitor dele que sabe por onde ele anda e o que tem feito? Aos admiradores aviso para não ficarem preocupados, pois com certeza em breve ele estará de volta no horário nobre para gritar conosco na telinha.
Política no Brasil precisa deixar de ser meramente um evento de marketing que ocorre a cada 2 anos. Os políticos precisam aumentar a transparência de gestão e apresentar resultados para aqueles que o mantém lá no cerne do poder. E os eleitores também precisam parar de acreditar em papai Noel e coelhinho da páscoa na hora de votar. Durante o período de exercício de mandato precisam acompanhar e cobrar a responsabilidade de seus representantes. Hoje podemos achar os Severinos uma figura inocente e engraçada, mas são eles que irão gerar o “crescimento sustentável” dessa pornografia do desperdício publico.

No dia 19 de março de 2005, foi reportado que o Palácio do Planalto está infestado de baratas, formigas e até ratos que ficam perambulando pelos corredores do poder. Acrescento que esses insetos também marcam presença na Câmara de Deputados e no Senado, assim como em órgãos do Judiciário e no Ministério da Fazenda. Nessa Ilha de Caras e Bundas chamada Brasília, a pornografia com o dinheiro público corre solta com os ratos Severinos e as baratas Cavalcantis, mas como destacou Gilberto Dimenstein na Folha de S. Paulo de 3 de abril a sociedade vem apresentando um progresso democrático através do acesso à internet. Por meio de e-mail’s a população vem manifestando maior participação na vida política através da expressão de insatisfação ou cobrança ao seu representante no governo.

Para aqueles que acham que política e políticos são a escória dessa nação, precisam aprender que é impossível viver sem ela e que países como os Estados Unidos tem mais de 200 anos de democracia enquanto nós apenas 20 anos. Se deixarmos a política ao léu, abandonada de nossas vidas, as coisas só tendem a piorar e mais Severinos irão brotar para sugarem o nosso dinheiro e nem perceberemos. Tudo depende de nós.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

segunda-feira, março 28, 2005

BENCHMARKING UNIVERSITÁRIO

No ultimo texto escrevi sobre a falta de transparência na administração tanto em empresas quanto na FGV. Passei esse agradável feriado pesquisando por informações sobre outras instituições de ensino que são consideradas referências mundiais pela sua excelência. Embora os sites geralmente sejam bem simples, eles apresentam relevantes informações. Para minha surpresa não foi nada difícil encontrar material para esta pesquisa.
Darei grande destaque para as universidades norte-americanas que são consideradas mundialmente as mais avançadas não só na qualidade de ensino, mas principalmente no nível de gestão administrativa.
Começando pela renomada Harvard College é possível encontrar no site todo um conjunto de informações sobre a instituição. Analisando o Financial Report 2004 destaco os seguintes dados:
1) no ano de 2004 a Harvard College recebeu contribuições de US$592 milhões.
2) Objetivos para 2005: revisão continuada da undergraduate academic, avanço nas estratégias da College para garantir a atração de estudantes talentosos de todos os níveis econômicos e no nível de graduação, garantir aos estudantes que desejam trabalhar no serviço público não tenham esse desejo impossibilitado por questões financeiras
3) Contas auditadas pela PricewaterhouseCoopers:
a) Ativo total = US$60.05 bi
b) Passivo total = US$33.11 bi
c) Receita total = US$2.597 bi
d) Despesa total = US$2.560 bi
e) Fluxo de Caixa = (US$342,22 mi)
4) do presidente Lawrence Summers: “We must realize the maximum benefit from our existing resources by directing them to the areas of our highest priority and ensuring that we operate in a financially responsible manner. In order to advance these common goals, the University community—faculty, staff, alumni, and students—must continue to work together to use our resources wisely. In doing so, I am hopeful that we can build an even stronger and brighter future for this great university.”

Outras instituições de ensino como The University of Texas at Austin, The University of Tokyo, Sydney University, London Business School e Technische Universität Berlin também apresentam dados financeiros de suas instituições na internet. Na América Latina até mesmo a Universidad de Buenos
Aires apresenta relatório com suas contas.

Finalizando com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) é possível encontrar informações sobre as finanças embora um pouco atrasado na atualização. É possível detectar que no ano fiscal de 2003 as receitas foram da ordem de US$1,66 bilhão e as despesas totais operacionais US$1,69 bilhão.

No Paraguai nem a Universidad Autônoma de Asuncion nem a Universidad Nacional de Asuncion apresentam dados financeiros assim como a Universidad Mayor de San Andrés e Universidad Católica Boliviana na Bolívia.

Será que estamos no mesmo nível de transparência administrativa dos paraguaios e bolivianos? Pior do que a Argentina?

Aproveito a oportunidade para mencionar um estudo do MIT patrocinado pelo BankBoston que mostra o impacto econômico dos estudantes do MIT. “Se as companhias fundadas pelos alunos do MIT fossem uma nação, o faturamento delas fariam dessa nação a 24ª maior economia do mundo. As 4000 companhias empregam 1,1 milhão de pessoas e tem vendas anuais de US$232 bilhões. Isso é aproximadamente um PIB de US$116 bilhões, um pouco menor do que o PIB da África do Sul e maior do que o PIB da Tailândia.”
As companhias-MIT são caracterizadas como empresas baseadas no conhecimento. A maioria trabalha na área de software, manufatura (eletrônica, biotecnologia, máquinas) ou consultoria. Essas empresas têm um papel muito relevante na região onde estão localizadas, pois ao mesmo tempo vendem seus produtos para o mundo, trabalham com tecnologia avançada e empregam mão-de-obra altamente qualificada. Algumas dessas companhias que se destacam pelo número de empregados são: Hewlett-Packard Co., Rockwell International, Raytheon Co., McDonell Douglas, Campbell Soup Co., Intel Corp. e Gillette Co..
Aproximadamente 150 novas companhias-MIT são fundadas todo ano. Na pesquisa foi questionado como o estudo no MIT influenciou na decisão de começar uma nova companhia. Todos concordaram que o MIT os encorajou a serem risk-takers. Eis o depoimento de um ex-aluno:
“Let me try to give you my personal perspective about “risk-taking”. I think it is a combination of several different factors. I knew I was not going to work for big companies when I was about to leave MIT. I would rather take the risk of failure than the risk of becoming nobody. There must be many alumni who felt the same way I did. MIT offers great mentors (professors) and more
opportunities (professors’ consulting/research activities) for students to test the water in establishing their own businesses. MIT exposes students to cutting edge technologies and new ideas. It probably is easier to explore business potential of these new ideas and technologies as entrepreneurs. It seems to be quite natural that MIT becomes a cradle of entrepreneurs.”
Existem 52 companhias-MIT na América Latina, das quais 8 estão no Brasil.

“Educação é a única coisa que nos restará quando tivermos esquecido tudo o que aprendemos.” B.F. Skinner, 1964.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

domingo, março 20, 2005

O EXEMPLO VEM DE CIMA

Caros leitores, na semana que passou, aqueles que estudam ou tem ligação com a Fundação Getúlio Vargas – SP provavelmente acompanhou, ainda que através de informações desencontradas, as demissões de funcionários da instituição.
Das restritas informações que andavam pelos corredores, diziam que havia demissão de pouco mais de três dezenas de trabalhadores e que a atual situação financeira não era boa e tinha contribuído para a dispensa.
Como a falta de informação é muito grande, qualquer afirmação corre o risco de ser uma grande injustiça. Portanto decidi neste texto discutir a causa da falta de informação.
Pretendo não tomar uma posição nessa discussão por enquanto, mas o que será abordado é atualmente tema corrente em inúmeras corporações: transparência administrativa.
Cito alguns exemplos recentes relacionados ao assunto:
1) A fraude fiscal na Enron e na WorldCom. Esta ultima realizou uma fraude contábil de US$11 bilhões, lembrando que no orçamento 2005 consta R$7,2 bilhões para a Educação no Brasil.
2) No Brasil fraudes relacionadas à falta de transparência são muitas, mas destaco o queijo suíço da previdência e da Bolsa-Familia.

“A transparência gera um senso de justiça que, por sua vez, espalha confiança pela organização, e essa confiança é o óleo que lubrifica as engrenagens do sistema além de atrair melhores profissionais”. Muitas empresas e órgãos públicos têm adotado a gestão transparente, mais por imposição da competição global do que por uma mera crença ingênua. Estudos comprovam a correlação entre uma gestão mais clara e o desenvolvimento econômico. O governo chinês não escolheu fazer as práticas de negócios das suas empresas mais transparentes, a demanda dos mercados internacionais de capitais é que está forçando a transparência nelas.
Será possível ser transparente em um ambiente de baixa transparência?
Inovação e ousadia são os ingredientes básicos em tal processo. Muitas empresas como o Itaú tem oferecido ao mercado mais do que ele requer, através de um relacionamento transparente, transmitindo o compromisso da empresa e vem sendo recompensado por meio da valorização acionária e do acesso a fontes de recursos com baixo custo de capital. A Votorantim é um conglomerado familiar que está em processo de transição de geração, o que é suficiente para gerar temores e insegurança nos funcionários, contudo a clareza da mudança, estruturada em um plano de conhecimento de todos acaba aumentando a credibilidade e o profissionalismo da empresa. A Promon escolheu um modelo organizacional de abertura de todas as suas transações para os acionistas. Certa vez ao se deparar com uma solicitação para um fundo secreto especial do governo (corrupção governamental) a Promon simplesmente negou explicando que todos notariam aquela transação e era impossível esconde-la dos acionistas e da sociedade. Outra grande empresa brasileira com destaque na gestão transparente é a Natura. Ela adotou a transparência como base da sua organização ou se preferir esse valor faz parte do seu DNA. No quartel-general da empresa as paredes foram eliminadas, as compensações foram homogeneizadas (ex-fonte de conflito entre funcionários) e as vendedoras diretas tiveram que participar dos “Encontros com a Natura”. O lema do marketing era: “cosméticos de confiança”, para os clientes não prometiam mais que se transformariam em Gisele Bündchen, mas sim que ficariam bonita. Espero tê-los convencido de que vale pelo menos um pouco a pena ter uma administração transparente.
Navegando pelo site www.fgv.br é possível encontrar dizeres como: “ser, permanentemente, uma instituição inovadora”, “voltados para o estimulo ao desenvolvimento nacional”. Contudo nenhum aluno de graduação sabe porque paga uma quantia exorbitante todo mês, corrigida anualmente por um índice de inflação desconhecido e descobre que a instituição passa por dificuldades financeiras. Ninguém sabe qual o planejamento estratégico da instituição no curto, médio e longo prazo. A falta de comunicação entre a diretoria, ainda que no Rio, com seus alunos e funcionários é tão falha que parece existir uma “cortina de ferro”, provocando conseqüências como o aumento de tensão e desânimo entre os envolvidos. Defendo que as contas da instituição tenham uma divulgação e uma repercussão maiores do que as das festas da GV. Não faço nenhuma acusação, mas se há algo errado sendo feito, com certeza cedo ou tarde isso virá a tona. Pena que uma instituição como a FGV que está entre as melhores do mundo tenha chegado a atual situação e ainda assim não cogite dar o exemplo para os alunos e para o mercado através de transparência, inovação e ousadia.

Observação: Continuando minha cruzada contra o trote universitário nesta semana alunos da faculdade de direito da USP fizeram manifestação para manter o trote conhecido como “banho da Sé”, onde os calouros são obrigados a mergulhar na água suja da fonte da praça da Sé que apresentava um forte cheiro de urina e as pessoas escorregavam. Um dos calouros teve um dedo do pé fraturado e outro apresentava hematoma na perna. Algumas denúncias dão conta de agressão física digna de tortura para aqueles que não aceitaram cortar o cabelo. Enquanto isso “garoto é baleado após mais um arrastão em edifício em São Paulo”, “seqüestrado é torturado em cativeiro” e mais uma rebelião na Febem acabou em morte e fuga. Acredito que tem mais problemas para serem resolvidos do que defender uma “brincadeira” tradicional na São Francisco. Fica difícil defender a cidadania e a dignidade humana participando de atos como esse na praça da Sé.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

segunda-feira, março 14, 2005

EDUCAÇÃO, NÃO TEM PREÇO!

Dois fatos ocorridos na semana que passou me impactaram muito:
1) Estudantes universitários envolvidos no seqüestro de estudante da universidade Mauá.
2) Vão do MASP na tarde do dia 8 de março, dia internacional da mulher.

No primeiro caso temos alunos que de dia freqüentam aulas na faculdade e estudam para serem “grandes profissionais” e de noite planejam o seqüestro de colegas com frieza suficiente para conseguirem apenas uma grana. Pouco estão preocupados com as vítimas que são pessoas com a mesma faixa etária e levam uma vida semelhante.
No segundo caso temos um movimento maravilhoso em comemoração ao dia da mulher. Houve mobilização de um grande numero de pessoas no vão do MASP para comemorarem e reivindicarem maiores direitos às mulheres. A grande massa foi então em direção à outra região da cidade acompanhada de discursos em carro de som suficiente para serem ouvidos das salas da FGV. O que marcou foi o que ficou. Foi enfadonha a visão que tive quando passei pelo vão do MASP no final da tarde. Mais parecia um lixão ao céu aberto do que um espaço cultural. Garrafas de água, panfletos e sacolas plásticas imperavam no local. Estavam tão concentradas que davam inveja a qualquer lixão que se preze.
Dos dois ocorridos destaco o papel da educação na sociedade. Que educação é essa que forma criminosos covardes disfarçados de diplomados? Sou ferrenho defensor da idéia de que a sociedade brasileira mudará somente quando a atual estrutura educacional mudar. Pessoalmente a educação é um conjunto de valores de civilidade e de convivência coletiva. Muito mais do que meramente decorar tabelas periódicas ou identificar objeto direto ou indireto. Creio que grande parte da personalidade das pessoas seja formada durante a sua infância, logo deveríamos realizar um grande trabalho de civilidade junto aos nossos pequenos tupiniquins. O atual sistema de educação está completamente voltado para a adequação e apresentação de resultados nos vestibulares. Qual pai prefere colocar seu filho na escola onde o ensinamento é de valores sendo que a escola ao lado é “a que mais aprova nos vestibulares”? Obviamente todos querem que seus filhos estudem na mesma escola que o cara que passou em primeiro na medicina da USP, pois é lá que ele irá “aprender”. Basta lembrarmos que foi no trote da medicina da USP que morreu o calouro chinês afogado em uma piscina durante comemoração. Não quero pregar aqui que os médicos ou aqueles que seguem essa carreira sejam assassinos, mas evidencio que delinqüências de estudantes universitários não são coisa nova como o seqüestro que mencionei no começo. Algo está errado na educação que predomina nesta nação. Todos (alunos, pais) querem ver e serem vistos como vencedores. “Só passando em uma universidade renomada conseguirá atingir seus objetivos e ficar rico.” Você já deve ter escutado algo do gênero ou mesmo já pensou nisso alguma vez. Agora espero que passemos a pensar no outro lado, no outro significado que podemos dar a educação.

Além da sujeira que ficou ao vento no MASP ficou a dúvida: “Não eram as mulheres que estudavam mais e ganhavam menos do que os homens?”. Estudar mais tempo neste país realmente não é prerrogativa para ter noções de limpeza e respeito com as pessoas. Comemorações a parte deixar o espaço público emporcalhado deveria ser tão revoltante quanto mulheres não serem devidamente reconhecidas.

Neste ultimo sábado fiquei observando um garoto que tinha aparentemente uns 8 anos e estava sentado na calçada vendendo balas ou drops para não ter duplo sentido. Pergunto o que podemos esperar dessa criança e de muitas outras que estão espalhadas pela cidade. Nessa idade em que começamos a procurar estágio sentiremos na pele o sentimento de rejeição, de receber um frio ou falso NÃO. “Você não serve, você não presta.”. Não tenho duvidas que sentiremos um certo baque, até porque estamos acostumados a sempre sermos aceitos aonde formos. Imagine agora essa enorme pressão de rejeição encima de uma criança. O que esperar dela? Se depois de alguns anos ela não migrar para o tráfico ou alguma outra atividade ilícita, se ela não aparecer nas paginas policias presa ou morta por envolvimento no crime teremos um milagre. Se continuarmos com a mentalidade de que a melhor solução é tirarmos essas pessoas das ruas e enviar para regiões desérticas ou periferia se preferir, precisamos saber também que estaremos plantando os marginais e excluídos de amanhã. Educação é algo que leva tempo e dinheiro, portanto nunca acredite em políticos dizendo que em 4 anos fizeram um milagre nessa área.
Neste país ganha manchete e grande destaque cada decisão do Copom (comitê de política monetária) se aumentaram ou diminuíram os juros, seja 0,25% ou 25%. Confesso que não vejo toda semana no Jornal Nacional o número de analfabetos, o número dos investimentos na educação ou casos de sucesso nesta área. No segundo semestre do ano passado foi divulgado o resultado de um teste global que colocou o Brasil em último lugar em matemática e em penúltimo em leitura, interpretação e redação. Não tenho duvidas de que quase ninguém ficou sabendo.
Não quero bancar o sonhador filosófico, mas Educação é condição primaria para qualquer coisa e precisamos passar a vê-la como tal. Tem uma bela propaganda da Unesco que mostra um coreano falando sobre como a população do seu país prioriza isso. Educação, não tem preço!

OBS.: O caso do chinês que morreu afogado na piscina da USP-Medicina durante o trote acabou sendo arquivado. Quem sabe daqui a alguns anos seremos clientes desse médico-assassino. Talvez estará instalado em uma clinica moderna que seus pais conseguiram financiar. Nada como bons advogados que os pais podem pagar não é? Depois a sociedade luta pelo endurecimento de pena para os ladrões de galinha. Muitos defendem a pena de morte, mas será que seria igualmente aplicado a esses estudantes que mataram o universitário, cujos pais possuem bolso cheio???

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

domingo, março 06, 2005

CADE O MEU DINHEIRO?

Na metade da década de 90 a carga tributaria representava 28% do PIB, passados 10 anos representa 36% do PIB, mais do que um terço da renda interna. Os impostos são apropriações de parte da renda do país utilizados para financiar as atividades do governo (federal, estadual e municipal). Da receita de impostos e contribuições (R$ 352,1 bilhões em 2004) deve-se descontar gastos como despesas correntes, despesas de pessoal e investimentos. As despesas com benefícios do INSS que somavam R$ 66,2 bi em 95 no ano passado atingiram R$ 124,7 bi. Serviços como educação, saúde e transporte que são fundamentais para todo cidadão também fazem parte do setor publico e dependem de recursos oriundos das taxas. Enfim, tudo que falei até este ponto faz parte daquela imagem maravilhosa que temos em mente quando pagamos impostos, eis alguns exemplos:
“Estou financiando a educação daqueles que não tem condição de pagar”.
“Estou financiando boas ruas, avenidas e rodovias ao pagar o IPVA”.
“Estou pagando a taxa de luz e do lixo na cidade de São Paulo, mas em compensação teremos ruas limpas e iluminadas”.
Bem a realidade não é tão perfeita assim concorda? A educação é lamentável. O Brasil sustenta números impressionantes tanto de analfabetos quanto da composição social das melhores universidades gratuitas. Se em uma ponta (educação fundamental) o que é gratuito e para todos é de baixa qualidade na outra ponta (educação superior) temos um governo empenhado em investir milhões para um grupo seleto de pessoas que estão acostumados a sempre terem estudado nas melhores escolas privadas. É como tentar ganhar um campeonato marcando gol contra. Já o IPVA e outras contas voltadas para a infra-estrutura mal preciso comentar. Não conseguimos mais viver sem aquela pitada de buracos nas ruas. E para finalizar a linha de pensamento as taxas criadas pela “dona” Marta andam meio que sem justificativas digamos. Marta deixou uma conta de luz de R$ 31 milhões não pagas à AES Eletropaulo. A(paguem) as luzes!!! E o lixo será um grande desafio para a cidade de São Paulo que uma simples taxa não resolverá.
Vamos pensar mais um pouco.
A carga tributaria brasileira tem aumentado tanto recentemente para alimentar o crescimento da maquina publica e para pagar os juros da dívida. O governo recolhe de nós cidadãos e empresas e parte vai para si e parte para os credores internacionais.
Vamos discutir um pouco sobra a parte que fica para o governo. Para planejar direitinho o governo realiza todo fim de ano o realista orçamento. Dando uma olhada no orçamento federal de 2004 temos uma comparação entre o que foi previsto e passado o ano o que foi gasto efetivamente. Boa parte dos gastos foi com custeio e pessoal. Os investimentos responderam por incríveis 1,51% dos gastos do governo. Ele cortou 2/3 do que havia previsto justamente dos investimentos. O que era previsto como quase nada virou 1/3 de quase nada. Enfim, o governo precisa reduzir os gastos com pessoal e racionalizar os gastos com custeio para poder investir mais na sociedade, mas isso é como uma dieta, todo mundo olha, gosta, acha interessante, mas são poucos aqueles que realmente colocam em pratica.
Agora vamos examinar a parte dos juros ou dos credores. Segundo o economista Paulo Rabello de Castro o governo pagou em juros no ano de 2003 pouco mais de R$ 150 bi, em 2004 aproximadamente R$ 128 bi e a previsão é para 2005 pagar um pouco mais de R$ 150 bi. Simultaneamente como destacou Jânio de Freitas na Folha de S. Paulo, 24 meses atrás a divida do governo era de R$ 623 bi e hoje está em R$ 812 bi!!! Ops??? Contribuímos cada vez mais, o governo paga cada vez mais e a divida continua crescendo cada vez mais? Quando isso vai mudar nem Mãe Diná sabe prever, mas como isso acaba todos fazem idéia. Não sei onde esses bilhões de juros estão indo, só sei que não estão nas escolas das nossas escolas, nas estradas e ruas deste país e muito menos está gerando luz, mas está indo para o lixo.
Para finalizar não gostaria de ficar somente na posição de critico. Sugiro a todos que visitem o site www.contribuintecidadao.com.br, descobrirão através deste excelente trabalho da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que pagamos mais de 50% em impostos e trabalhamos mais de 3 meses por ano para o governo. Acredito que somente a conscientização levará a alguma mudança na sociedade. Por onde andaria aquele trocado que pagamos em impostos? Como diz constantemente o presidente da ACSP: “Pago, logo exijo!”.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.