segunda-feira, outubro 03, 2005

FENÔMENO

O dia 7 de setembro passou. A semana da pátria e tudo mais passou. Desfiles alegóricos, ops, militares alegraram a população, carente por algum tipo de entretenimento. É a comemoração da independência.

Só poderia neste momento tratar de um assunto: POLÍTICA.
Algo ocorre neste país tupiniquim. Ao mesmo tempo em que nos deparamos com o maior caso de corrupção já visto, em nossa história e talvez da humanidade, a política domina tudo, está em todos os lugares, em toda mesa de bar e buteco, nas filas do banco, nos ônibus, nas escolas, no metrô, nas reuniões de família de fim de semana, enfim a política impregnou tudo.

Na televisão basta ligar que a política estará lá batendo ponto. Na Globo todos os programas foram temperados com uma pitada de política. Na Grande Família o tema principal foi a eleição para presidente da Associação de Moradores. Todo o processo com direito a compra de votos, troca de favores, esquema do Pastelão do Beiçola e a famigerada CPI. No Casseta e Planeta, então nem se fala. Tem ainda o Programa do Jô que dedica todas as quartas para uma discussão do panorama político com jornalistas (todas mulheres) dessa área, além de entrevistar deputados, senadores, cientistas políticos, etc, nos outros dias da semana. No programa SacaRolha do canal 21 os apresentadores não contentes em comentarem a política da base em São Paulo foram pessoalmente gravar o programa em Brasília, onde com bom humor e bom senso realizam um programa único. Na MTV o dito cujo também brota no programa VJ’s em Ação. No SBT até o sofá da madame Hebe recebe o dito cujo. Na TV Cultura então os programas do Roda Viva só deixam ele aparecer. Na Record o jornalista Boris Casoy continua com a sua implacável marcação sobre os políticos com muita responsabilidade.

Na mídia eletrônica, que ganha cada vez maior significância, o tema também não é outro. Sites como o kibeloco.com.br, charges.com.br estão se transformando em pontos obrigatórios para os que acessam a internet e buscam humor nessa crise toda. O destaque humorístico é tamanho que consolida a frase “Brasil, país da piada pronta”.

A Seção da Tarde saiu e deu lugar ao depoimento de Roberto Jefferson, o Vale a Pena Ver de Novo fica de lado e entra Zé Dirceu, os programas de fofocas então precisaram fazer um up-grade e passaram a debater cada depoimento.

Alguém consegue explicar isso? Alguém explica essa dominação temática da política nas mídias?

Ouso afirmar (minha opinião) que toda essa mudança na postura dos cidadãos brasileiros seja um dos primeiros sinais da universalização da educação realizada no governo FHC. Seria um sinal do avanço da educação na sociedade, pois somente em regiões de baixos índices educacionais o presidente Lula mantém boas avaliações de seu governo e de sua atuação. Talvez seja a experiência democrática que só o tempo ensina. Talvez seja muitas horas na frente da TV e ilusão minha. Mas com certeza algo ocorre. Quando Collor e PC fizeram as suas maracutáias em Brasília eu ainda era um garoto e não me lembro de detalhes, contudo tenho certeza que não teve tamanha repercussão por tanto tempo em tanta variedade de mídia. As atitudes aparentemente são diferentes. Se por um lado os “caras pintadas” jogaram no lixo toda a sua história ao manifestar apoio ao presidente Lula perante o inexplicável, a sociedade e os meios de comunicações buscam maiores informações e atuações responsáveis.

Pessoalmente nada do que se revelou me impressiona, se quiserem procurar mais corruptos encontrarão com facilidade. A corrupção é quase que uma doença crônica no Brasil que exigirá de todos e não somente dos políticos muita seriedade. Ressalto aqui a importância dos empresários nos esquemas de corrupção. Quem pensa que político é tudo corrupto, então trate de repensar a si mesmo, em pesquisa recente com cidadãos paulistanos revelou que mais de 50% dos entrevistados aceitariam fazer parte do esquema do mensalão ou coisa do gênero.

Essa história toda acabará com poucas ou nenhuma condenação jurídica, mas as condenações políticas estão aí. As cabeças estão rolando nos partidos envolvidos. Sobrou até para a lenda Paulo Maluf que finalmente foi parar na cadeia. Não tenho a menor dúvida de que as pessoas, em sua maioria perderam a ingenuidade, descobriram que não se vota de brincadeira, não se vota pela aparência, pela conveniência. O estilo “rouba-mas-faz” de Paulo Maluf saiu de moda. Congressistas do gênero “velho-cacique” como ACM e Jorge Bornhausen apesar de possuírem peso estão perdendo espaço para uma nova geração de políticos comprometidos com os seus eleitores. Surge uma gama de políticos do Executivo que se destacam pela inovação e geração de resultados mesmo com um orçamento apertadíssimo.
O deputado Roberto Jefferson é sujo, corrupto e safado, mas acredito que fez mais pelo nosso país que Dom Pedroca fez ao “comprar” a independência e gritar nas margens do Ipiranga: Independência ou morte. Deixo claro que Bob Jeff e companhia ilimitada precisam ser punidos pelo que fizeram de errado. Contudo ressalto que independência, desenvolvimento, comprometimento, seriedade, respeito e outras coisas mais, não se compra, mas sim se constrói e conquista. Como podemos ver somos um país independente, mas nem tanto.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

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