segunda-feira, março 14, 2005

EDUCAÇÃO, NÃO TEM PREÇO!

Dois fatos ocorridos na semana que passou me impactaram muito:
1) Estudantes universitários envolvidos no seqüestro de estudante da universidade Mauá.
2) Vão do MASP na tarde do dia 8 de março, dia internacional da mulher.

No primeiro caso temos alunos que de dia freqüentam aulas na faculdade e estudam para serem “grandes profissionais” e de noite planejam o seqüestro de colegas com frieza suficiente para conseguirem apenas uma grana. Pouco estão preocupados com as vítimas que são pessoas com a mesma faixa etária e levam uma vida semelhante.
No segundo caso temos um movimento maravilhoso em comemoração ao dia da mulher. Houve mobilização de um grande numero de pessoas no vão do MASP para comemorarem e reivindicarem maiores direitos às mulheres. A grande massa foi então em direção à outra região da cidade acompanhada de discursos em carro de som suficiente para serem ouvidos das salas da FGV. O que marcou foi o que ficou. Foi enfadonha a visão que tive quando passei pelo vão do MASP no final da tarde. Mais parecia um lixão ao céu aberto do que um espaço cultural. Garrafas de água, panfletos e sacolas plásticas imperavam no local. Estavam tão concentradas que davam inveja a qualquer lixão que se preze.
Dos dois ocorridos destaco o papel da educação na sociedade. Que educação é essa que forma criminosos covardes disfarçados de diplomados? Sou ferrenho defensor da idéia de que a sociedade brasileira mudará somente quando a atual estrutura educacional mudar. Pessoalmente a educação é um conjunto de valores de civilidade e de convivência coletiva. Muito mais do que meramente decorar tabelas periódicas ou identificar objeto direto ou indireto. Creio que grande parte da personalidade das pessoas seja formada durante a sua infância, logo deveríamos realizar um grande trabalho de civilidade junto aos nossos pequenos tupiniquins. O atual sistema de educação está completamente voltado para a adequação e apresentação de resultados nos vestibulares. Qual pai prefere colocar seu filho na escola onde o ensinamento é de valores sendo que a escola ao lado é “a que mais aprova nos vestibulares”? Obviamente todos querem que seus filhos estudem na mesma escola que o cara que passou em primeiro na medicina da USP, pois é lá que ele irá “aprender”. Basta lembrarmos que foi no trote da medicina da USP que morreu o calouro chinês afogado em uma piscina durante comemoração. Não quero pregar aqui que os médicos ou aqueles que seguem essa carreira sejam assassinos, mas evidencio que delinqüências de estudantes universitários não são coisa nova como o seqüestro que mencionei no começo. Algo está errado na educação que predomina nesta nação. Todos (alunos, pais) querem ver e serem vistos como vencedores. “Só passando em uma universidade renomada conseguirá atingir seus objetivos e ficar rico.” Você já deve ter escutado algo do gênero ou mesmo já pensou nisso alguma vez. Agora espero que passemos a pensar no outro lado, no outro significado que podemos dar a educação.

Além da sujeira que ficou ao vento no MASP ficou a dúvida: “Não eram as mulheres que estudavam mais e ganhavam menos do que os homens?”. Estudar mais tempo neste país realmente não é prerrogativa para ter noções de limpeza e respeito com as pessoas. Comemorações a parte deixar o espaço público emporcalhado deveria ser tão revoltante quanto mulheres não serem devidamente reconhecidas.

Neste ultimo sábado fiquei observando um garoto que tinha aparentemente uns 8 anos e estava sentado na calçada vendendo balas ou drops para não ter duplo sentido. Pergunto o que podemos esperar dessa criança e de muitas outras que estão espalhadas pela cidade. Nessa idade em que começamos a procurar estágio sentiremos na pele o sentimento de rejeição, de receber um frio ou falso NÃO. “Você não serve, você não presta.”. Não tenho duvidas que sentiremos um certo baque, até porque estamos acostumados a sempre sermos aceitos aonde formos. Imagine agora essa enorme pressão de rejeição encima de uma criança. O que esperar dela? Se depois de alguns anos ela não migrar para o tráfico ou alguma outra atividade ilícita, se ela não aparecer nas paginas policias presa ou morta por envolvimento no crime teremos um milagre. Se continuarmos com a mentalidade de que a melhor solução é tirarmos essas pessoas das ruas e enviar para regiões desérticas ou periferia se preferir, precisamos saber também que estaremos plantando os marginais e excluídos de amanhã. Educação é algo que leva tempo e dinheiro, portanto nunca acredite em políticos dizendo que em 4 anos fizeram um milagre nessa área.
Neste país ganha manchete e grande destaque cada decisão do Copom (comitê de política monetária) se aumentaram ou diminuíram os juros, seja 0,25% ou 25%. Confesso que não vejo toda semana no Jornal Nacional o número de analfabetos, o número dos investimentos na educação ou casos de sucesso nesta área. No segundo semestre do ano passado foi divulgado o resultado de um teste global que colocou o Brasil em último lugar em matemática e em penúltimo em leitura, interpretação e redação. Não tenho duvidas de que quase ninguém ficou sabendo.
Não quero bancar o sonhador filosófico, mas Educação é condição primaria para qualquer coisa e precisamos passar a vê-la como tal. Tem uma bela propaganda da Unesco que mostra um coreano falando sobre como a população do seu país prioriza isso. Educação, não tem preço!

OBS.: O caso do chinês que morreu afogado na piscina da USP-Medicina durante o trote acabou sendo arquivado. Quem sabe daqui a alguns anos seremos clientes desse médico-assassino. Talvez estará instalado em uma clinica moderna que seus pais conseguiram financiar. Nada como bons advogados que os pais podem pagar não é? Depois a sociedade luta pelo endurecimento de pena para os ladrões de galinha. Muitos defendem a pena de morte, mas será que seria igualmente aplicado a esses estudantes que mataram o universitário, cujos pais possuem bolso cheio???

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

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