domingo, março 20, 2005

O EXEMPLO VEM DE CIMA

Caros leitores, na semana que passou, aqueles que estudam ou tem ligação com a Fundação Getúlio Vargas – SP provavelmente acompanhou, ainda que através de informações desencontradas, as demissões de funcionários da instituição.
Das restritas informações que andavam pelos corredores, diziam que havia demissão de pouco mais de três dezenas de trabalhadores e que a atual situação financeira não era boa e tinha contribuído para a dispensa.
Como a falta de informação é muito grande, qualquer afirmação corre o risco de ser uma grande injustiça. Portanto decidi neste texto discutir a causa da falta de informação.
Pretendo não tomar uma posição nessa discussão por enquanto, mas o que será abordado é atualmente tema corrente em inúmeras corporações: transparência administrativa.
Cito alguns exemplos recentes relacionados ao assunto:
1) A fraude fiscal na Enron e na WorldCom. Esta ultima realizou uma fraude contábil de US$11 bilhões, lembrando que no orçamento 2005 consta R$7,2 bilhões para a Educação no Brasil.
2) No Brasil fraudes relacionadas à falta de transparência são muitas, mas destaco o queijo suíço da previdência e da Bolsa-Familia.

“A transparência gera um senso de justiça que, por sua vez, espalha confiança pela organização, e essa confiança é o óleo que lubrifica as engrenagens do sistema além de atrair melhores profissionais”. Muitas empresas e órgãos públicos têm adotado a gestão transparente, mais por imposição da competição global do que por uma mera crença ingênua. Estudos comprovam a correlação entre uma gestão mais clara e o desenvolvimento econômico. O governo chinês não escolheu fazer as práticas de negócios das suas empresas mais transparentes, a demanda dos mercados internacionais de capitais é que está forçando a transparência nelas.
Será possível ser transparente em um ambiente de baixa transparência?
Inovação e ousadia são os ingredientes básicos em tal processo. Muitas empresas como o Itaú tem oferecido ao mercado mais do que ele requer, através de um relacionamento transparente, transmitindo o compromisso da empresa e vem sendo recompensado por meio da valorização acionária e do acesso a fontes de recursos com baixo custo de capital. A Votorantim é um conglomerado familiar que está em processo de transição de geração, o que é suficiente para gerar temores e insegurança nos funcionários, contudo a clareza da mudança, estruturada em um plano de conhecimento de todos acaba aumentando a credibilidade e o profissionalismo da empresa. A Promon escolheu um modelo organizacional de abertura de todas as suas transações para os acionistas. Certa vez ao se deparar com uma solicitação para um fundo secreto especial do governo (corrupção governamental) a Promon simplesmente negou explicando que todos notariam aquela transação e era impossível esconde-la dos acionistas e da sociedade. Outra grande empresa brasileira com destaque na gestão transparente é a Natura. Ela adotou a transparência como base da sua organização ou se preferir esse valor faz parte do seu DNA. No quartel-general da empresa as paredes foram eliminadas, as compensações foram homogeneizadas (ex-fonte de conflito entre funcionários) e as vendedoras diretas tiveram que participar dos “Encontros com a Natura”. O lema do marketing era: “cosméticos de confiança”, para os clientes não prometiam mais que se transformariam em Gisele Bündchen, mas sim que ficariam bonita. Espero tê-los convencido de que vale pelo menos um pouco a pena ter uma administração transparente.
Navegando pelo site www.fgv.br é possível encontrar dizeres como: “ser, permanentemente, uma instituição inovadora”, “voltados para o estimulo ao desenvolvimento nacional”. Contudo nenhum aluno de graduação sabe porque paga uma quantia exorbitante todo mês, corrigida anualmente por um índice de inflação desconhecido e descobre que a instituição passa por dificuldades financeiras. Ninguém sabe qual o planejamento estratégico da instituição no curto, médio e longo prazo. A falta de comunicação entre a diretoria, ainda que no Rio, com seus alunos e funcionários é tão falha que parece existir uma “cortina de ferro”, provocando conseqüências como o aumento de tensão e desânimo entre os envolvidos. Defendo que as contas da instituição tenham uma divulgação e uma repercussão maiores do que as das festas da GV. Não faço nenhuma acusação, mas se há algo errado sendo feito, com certeza cedo ou tarde isso virá a tona. Pena que uma instituição como a FGV que está entre as melhores do mundo tenha chegado a atual situação e ainda assim não cogite dar o exemplo para os alunos e para o mercado através de transparência, inovação e ousadia.

Observação: Continuando minha cruzada contra o trote universitário nesta semana alunos da faculdade de direito da USP fizeram manifestação para manter o trote conhecido como “banho da Sé”, onde os calouros são obrigados a mergulhar na água suja da fonte da praça da Sé que apresentava um forte cheiro de urina e as pessoas escorregavam. Um dos calouros teve um dedo do pé fraturado e outro apresentava hematoma na perna. Algumas denúncias dão conta de agressão física digna de tortura para aqueles que não aceitaram cortar o cabelo. Enquanto isso “garoto é baleado após mais um arrastão em edifício em São Paulo”, “seqüestrado é torturado em cativeiro” e mais uma rebelião na Febem acabou em morte e fuga. Acredito que tem mais problemas para serem resolvidos do que defender uma “brincadeira” tradicional na São Francisco. Fica difícil defender a cidadania e a dignidade humana participando de atos como esse na praça da Sé.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

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