Você consegue imaginar uma vida sem televisão? Fazer aquele trabalho da faculdade sem internet? Passar o dia sem aquela música que toca no rádio? Enfim, atualmente a mídia orienta a nossa vida e tudo isso é um fenômeno recente, alguns anos atrás ninguém tinha o hábito de ficar horas em frente à televisão e ao computador na internet.
Pesquisa realizada em junho deste ano pelo instituto NOP World com 30 países buscou levantar informações sobre cultura e mídia. Foram detectados ricos e importantes dados. O Brasil aparece em oitavo lugar no ranking de horas frente à televisão. São 18,4 horas semanais bem acima da média mundial, de 16,6. No caso do rádio o Brasil aparece em segundo lugar nessa lista, os brasileiros passam 17,2 horas, mais do que as oitos horas da média dos países. Na internet somos o 9º colocado com 10,5 horas. É na leitura que apanhamos feio, somos o 4º país que menos tempo dispende com a leitura com somente 5,2 horas. Quase quatro vezes menos que o tempo gasto com a televisão. Vale destacar que o fenômeno que ocorre é mundial. A leitura perde espaço para a televisão e para a internet. Somente 17% dos países pesquisados dedicam menos do que 2 horas por dia com a televisão. Para piorar o conteúdo de leitura vem sofrendo cada vez mais um processo de massificação no sentido de que as pessoas estão lendo os mesmos livros ou conteúdo semelhante. No pouco tempo gasto com leitura geralmente é dedicada a livros-febre como Código Da Vinci e O Monge e o Executivo.
Perante o que foi apresentado até este ponto o que se tem a destacar é o quarto poder. A força da mídia, do seu poder de influência sobre a sociedade e seus fatos, o poder da informação como ela é apresentada. De acordo com o que foi mencionado acima não conseguimos viver mais sem ela, são mais de dois dias por semana gastas com as mídias.
No Brasil a mídia pode ser resumida em duas palavras: Rede Globo. Ela concentra a grande maioria dos telespectadores e receitas de mídia no Brasil. O jornal dos brasileiros é o Jornal Nacional, independente de opiniões. O poder exercido por essa empresa é monstruoso sendo considerada internacionalmente como uma das redes de informações mais poderosas do mundo. Dificilmente alguma denuncia em cadeia nacional na Rede Globo passa em branco sem alguma cabeça rolar. Não quero fazer deste texto um muro de fuzilamento da Rede Globo, que aliás tem seus méritos por profissionalismo e competência.
O que fica evidente quase que diariamente são os casos em que o quarto poder fica explícito. Na prisão de Flávio Maluf, filho de Paulo Maluf, o jornalista César Tralli da Globo conseguiu se “infiltrar”, disfarçado de policial, na equipe da Polícia Federal e com uma câmera na mão gravou tudo desde o momento em que foi algemado até o interior da sede da PF em São Paulo. A cena “exclusiva” de Flávio sendo algemado acabou virando símbolo da prisão dos Maluf’s. Dias atrás o apresentador da Band Gilberto Barros, o Leão, foi chamado para negociar um seqüestro ao vivo fazendo parte das exigências dos bandidos que fosse tudo gravado e transmitido como uma forma de garantir a sua integridade física. Na mídia impressa quem não se lembra dos artigos do norte-americano Larry Rohter, correspondente do jornal New York Times, sobre Lula? Tentaram até expulsar o jornalista do país, o que acabou sendo um absurdo maior ainda. E as denúncias na Veja e no O Globo contra Roberto Jefferson que acabaram gerando toda essa crise política que nos deparamos, como esquecer!?
Ainda me lembro claramente da denuncia realizada no Fantástico sobre falhas nos programas sociais como o Bolsa-Escola. Filmaram casos em três cidades onde pessoas que aparentemente estavam com uma condição econômica-social que não justificava o recebimento da bolsa de ajuda enquanto pessoas em pior situação estavam de mãos abanando. Com fitas em mão foram até o responsável maior, o ministro Patrus Ananias do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Primeiro deixaram o ministro à vontade falando do seu trabalho desenvolvido no ministério. Em seguida mostraram a fita com os casos explícitos de incompetência administrativa e colocaram o microfone na boca do ministro que estava no chão. Na tentativa de explicar o conjunto de erros Patrus Ananias perante a mídia nacional mostrava-se nervoso embora quisesse transmitir o contrário e suava (não a frio, literalmente mesmo). Pelo jeito saiu-se bem com a frase “as denúncias são uma das melhores formas para corrigirmos os erros e etc, bla-bla-bla” ainda permanece no cargo embora tenha sido vítima do quarto poder.
Sou crítico do abuso de poder não só da Rede Globo como das outras mídias. Quando fica claro que a edição conspira a favor de interesses é revoltante. De qualquer modo fica cada vez mais nítido a consciência da sociedade e a fiscalização contra essa manipulação da massa. Nisso a educação tem grande responsabilidade gerando pessoas que consigam pensar por si próprios, cada cidadão passa a agir como um fiscal.
É esse o poder do qual ninguém está imune e que consegue dar vida ou morte a qualquer coisa. Muito poder a serviço de interesses maiores. Não vejo e nem seria o caso de uma solução. Deve-se sim criar uma conscientização sobre o abuso de poder que não se limita somente ao quarto poder. Com relação às práticas excessivas made in Brasil temos muitos exemplos com os quais nos preocuparmos: violência (física e verbal), autoritarismo, uso de cargos públicos para práticas de atos obscenos, e por aí vai.
OBS - E nada nos surpreende mais neste país. Lula justamente a cara do seu partido, aquele que tantos anos foi o seu garoto propaganda não foi votar na eleição da presidência do PT. Quando minha amiga Paula me confessou que votaria em branco nas eleições (não a do PT, me refiro a eleições em geral) fiquei estarrecido e indignado, não se pode confundir corrupção com a democracia. E eis que o Lula deixa de votar naquele partido que ele mesmo ajudou a fundar. Definitivamente rasgaram aquilo que sempre defenderam. É o replay do “esqueçam o que escrevi, esqueçam o que falei”.
Ruy Hirano, 20, estudante de administração.
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