População Lituânia: 3.342.000
População Vilnius: 547.000
População Alytus: 67.000
Quando se pensa em Lituania você lembra de???
O último dos países bálticos que fui visitar foi um verdadeiro convite ao desconhecido. Žydrūnas Ilgauskas, gigante de 2,21m jogador de basquete na NBA, atualmente no Cleveland Cavaliers era a minha única referência anterior.
Será que se tratava de uma terra de gigantes homens branquelos? Munido do meu guia Lonely Planet minhas referências foram aumentando bem como as expectativas. Diz o guia: "with their warm and welcoming emotional natures, tendency towards mysticism and fierce pride in their national identity, gut-driven Lithuanians really are the Italians of the Baltics. Their pride in being part of the EU and home to the geographical centre of Europe is reflected in their willingness to speak English, German, Russian or any other language they can twist their nimble tongues around."
Tradução Google: "com a sua calorosa e acolhedora natureza emocional, tendência ao misticismo e grande orgulho de sua identidade nacional, gut-driven lituanos são realmente os italianos do Báltico. Seu orgulho em fazer parte da UE e da casa para o centro geográfico da Europa reflecte-se na sua vontade de falar inglês, alemão, russo ou qualquer outro idioma que pode rodar em torno de sua língua ágil". :)
Conclusão: expectativa por um povo gigante, branquelo e caloroso. A imaginação livre fantasia com aquelas cenas de filme onde o estrangeiro é aguardado pelo povoado exótico, vestido com suas exóticas roupas típicas e a chagada do gringo dá início a uma festança sem fim. A perspectiva de encontrar uma galera cara pálida de sangue quente. Esse tipo de conclusão e expectativa obviamente tem algo de errado, mas como nunca se ouve falar da Lituânia, vai que esse lugar bizarro existe; eu obviamente vou e vou animado.
Chegando em Vilnius, capital do país, começo a tirar outras conclusões.
As pessoas com quem tive contato não lembram em nada os italianos. Não que os italianos sejam exemplo de receptividade e calor humano, nenhum povo no mundo deve receber os estrangeiros tão bem como o brasileiro. Mas retornando aos lituanos, eram pessoas fechadas, de poucas palavras, pouquíssimas. Não eram rudes, não eram mal educados, mas frios e secos.
Eu que fui procurar um povo gigante e bizarro descobri que o estranho e carnavalesco não eram eles, mas eu! Em nenhum lugar do mundo, nunca tantas pessoas ficaram me olhando por onde eu andava. Em princípio achei que tinha algo errado comigo. Talvez fosse a minha roupa, talvez eu andasse diferente, talvez estivesse fazendo uma gafe sem perceber... mas não, motivo para a atração de tantos olhares por onde eu fosse era a minha aparência asiática. Certamente algumas das pessoas que me viram nunca haviam visto um asiático ao vivo antes.
Falar em Lituânia exige consultar um pouco de sua história.
Este acima é Mindaugas, foi o primeiro e único rei Lituano. Por volta de 1251 ele conseguiu unir todas as tribos lituanas e formar o reino da Lituânia.
Já o homenageado abaixo é Gediminas. Ele foi um "Grand Duke" lituano e fundador de Vilnius.
A lenda diz: era uma vez, um grande duque lituano chamado Gediminas saiu para caçar. Durante a caçada após um dia cansativo o duque decidiu descansar e passar a noite por ali mesmo, no meio da floresta. Enquanto dormia o duque teve um sonho. A sim, duques em mil trezendos e alguns anos também sonhavam. Nesse sonho Gediminas via um enorme lobo de ferro postado no topo do morro onde ele havia matado um bisão. O lobo de ferro ergueu a cabeça e sob a luz da lua uivou bem alto. Quando o dia amanheceu, o duque acordou, lembrou de seu sonho e perguntou a um padre pagão chamado Lizdeika qual era o significado daquele sonho. O enigma do sonho de Gediminas teria sido assim interpretado: "O que foi proposto pelos deuses para o governante e para a Lituânia deve acontecer! O lobo de ferro simboliza um insuperável castelo e uma cidade que será fundada pelo governante deste lugar. A cidade será a capital das terras lituanas, e os uivos dos lobos representam a fama da cidade, que irá atingir os mais distantes cantos do mundo."
E assim foi, Gediminas convencido de que aquele era o desejo dos deuses construiu ali a cidade por volta de 1323. Vilnius por causa do rio que ali passa, rio Vilnia. Ele que havia fundado a capital anterior, Trakai, então moveu a capital para Vilnius. Maluco ou fantasiado demais Gediminas foi um dos maiores governantes que a Lituânia já teve. Durante o seu governo a área do estado lituano dobrou de tamanho, sua influência disseminou para o resto da europa a, até então desconhecida, Lituânia e abriu caminho para a formação de um grande estado medieval e séculos de florescimento e crescimento.
Símbolo de Vilnius, a torre abaixo é a torre Gediminas. Praticamente única parte bem conservada do antigo castelo construido para defender Vilnius. O castelo está sendo restaurado em parte. A guerra contra a Rússia, as Guerras Mundiais e novamente a ocupação Russa durante o período soviético foram as responsáveis pela destruição dessa construção incrível. A torre Gediminas está assim bem conservada porque foi usada com outras finalidades ao longo do tempo.
A principal avenida da cidade adivinhem? Sim a avenida Gediminas!!! Gedimino prospektas em lituano. É uma avenida impressionante. Incrível como uma avenida representa tão bem um país. Ela começa na catedral de Santo Stanislav e de Santo Vladislav. A catedral que segue abaixo, é o local mais importante para os católicos do país (maioria religiosa), nela está enterrado Vytautas, o Grande, neto de adivinhem quem? Sim, neto de Gediminas e considerado o maior governador na história da Lituânia. Também lá está enterrado a rainha Elisabeth da Áustria, da monarquia Habsburg. Entre outras personalidades. A catedral é simbólica pela religiosidade deste país, que voltarei a abordar adiante. Junto com a catedral está a torre do sino (Bell Tower), que formam o cartão postal da cidade. E a avenida Gedimino termina no rio Vilnia junto com o parlamento da república da Lituânia.
Gedimina prospektas, uma avenida grande, arborizada, com uma calçada que é um verdadeiro convite irrecusável para uma caminhada... mas tamanho espaço e tão poucas pessoas circulando aumentam ainda mais a sensação de vazio. Aonde foram as pessoas? Essa era a pergunta que eu me fazia. Nessa tarde andando pela Gedimina prospektas senti o que sentiria durante a minha estada pela Lituânia. A sensação de que já foi um país grande, com muitas pessoas e elas simplesmente sumiram do mapa.
Esta é a antiga prisão da KGB com nomes escritos na parede do lado de fora. São nomes de pessoas mortas ali durante o período soviético. Centenas de pessoas foram interrogadas, torturadas e mortas.
Abaixo continuando a caminhada pela Gedimino prospektas é a Lukiškės Square. A antiga prisão da KGB ficava diante dessa quadra, ganhando a praça uma imagem intimamente relacionada com a repressão e morte que aconteciam naquele prédio. No mesmo período, de ocupação soviética, a praça foi renomeada para Lenin Square, e ganhou uma estátua de Lenin bem no meio. Logicamente foi removida dali com todo o entusiasmo quando a independência do país foi restaurada.
Gedimino prospektas como a nova Lituânia tem shopping center, lojas tinindo de novas e modernas, McDonald's, hotéis internacionais. É a sede da Lithuanian National Drama Theatre, State Small Theatre of Vilnius, Banco da Lituânia, ministério da economia, entre outros órgão do governo. Um banho de capitalismo e liberdade após décadas de ocupação e socialismo. Em 1000 anos de história a Lituânia contabiliza 700 anos de guerras e ocupações!! Ah adivinha como a Gedimino prospektas passou a ser chamada durante o período soviético? Avenida Stalin, depois renomeado para avenida Lenin.Fim de passeio pela avenida Gediminas! Deixe-me contar com fotos um pouco sobre as impressões que tive de Vilnius. Abaixo fotos do centro velho de Vilnius, que eu realmente achei velho. Tão velho que eu achei um misto de abandono com vontade de preservar como está. Algumas ruas formaram os guetos durante a ocupação nazista, Jewish Quarters. Para se ter uma idéia de como a Lituânia foi afetada pelo nazismo o holocausto causou uma alteração na composição étnica do país. Antes da Segunda Guerra Mundial cerca de 7,5% da população era judaica. Em Vilnius eles respondiam por 30% da população, recebendo informalmente a denominação de Jerusalem do norte. Praticamente todos os judeus foram mortos durante a ocupação da Alemanha nazista. Hoje algumas estatísticas indicam que vivem na Lituânia 4.000 judeus, ou seja, 0,12% da população!
O bairro de Uzupis é um capítulo a parte. Uzupis quer dizer "lugar além do rio". O rio no caso é o Vilnia. Um bairro dos artistas, comparado com Montmartre em Paris, que se auto proclamou uma república com sua própria constituição, hino, presidente, feriados e guardião.
A Uzupis Mermaid, que fica na margem do rio Vilnia a receber os visitantes dessa república diferente.
Guardião e símbolo de Uzupis, o anjo de bronze.
Guardião e símbolo de Uzupis, o anjo de bronze.
Abaixo o Ausros Vartai, portão do amanhecer. Mencionado pela primeira vez por volta de 1514! Era um dos 10 portões ao longo da muralha que protegia a cidade.
Hoje é o único portão a sobrar, e possui uma capela anexa que guarda a pintura do século 17 da sagrada mãe Maria (Holy Mother Mary), mãe da compaixão.
Isso traz a religiosidade para destaque. Nunca havia visitado um lugar com tantas igrejas.
79% dos lituanos se declaram católicos, da igreja romana. Aparentemente não existe fanatismo religioso, mas é uma característica da Lituânia que não tem como passar despercebida.
Igrejas e mais igrejas. Católicas, ortodoxas, "novas", muito velhas, reconstruidas, destruidas, conservadas. Cada igreja singular. Cada uma com sua história fantástica.
Falando em religiosidade de certa forma esse é um motivo que me levou a Alytus, cidade no sul da Lituânia, digamos assim, um destino turístico pouco popular. Apesar das minhas esquisitices elas não são o suficiente para eu tomar conhecimento por conta própria de Alytus. Um amigo brasileiro me avisou que no cemitério judaico de Alytus muito provavelmente o seu avô estava enterrado. Provido de minha curiosidade fui em busca do cemitério judaico de Alytus. Encontrei após algumas horas de caminhadas e alguns olhares de espanto e curiosidade direcionados em minha direção. As imagens abaixo não somente retratam a tristeza, que é de se esperar, de um cemitério, mas a tristeza do abandono, descaso e desrespeito que me emocionaram de modo peculiar como nunca antes.
Falando em cemitérios esse é mais um outro ponto que não pude deixar de notar. Quando menos se espera você acaba encontrando um, o que ocorreu com uma freqüência acima do normal na Lituânia.
Alytus é uma daquelas agradáveis surpresas. Uma cidade bem maior do que eu imaginava, mas ainda assim com aquele ar de cidade pequena. Lá foi a primeira cidade onde tive de fazer mímica para pedir informação, usei internet na biblioteca da cidade. Alytus é a terra das esculturas de madeira feita por antigos habitantes daquela região.
Vilnis e Alytus... Lituânia... definitivamente um destino nada convencional.
Mesmo após dias de exploração turística. Mesmo certificando que as referências e as imaginações estavam erradas. Mesmo tomando um pouco de conhecimento sobre sua história. Ainda assim a Lituânia mantém um ar de mistério, enigmático, de desconhecido.
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