quinta-feira, fevereiro 11, 2010

ISLÂNDIA - Descoberta de um novo planeta

População da Islândia: 320.000

População de Reykjavík: 120.000

População de Akureyri: 17.000

A Islândia é um daqueles lugares onde muito pode ser pouco. E ao mesmo tempo pouco ser muito.

Muitas palavras podem tentar descrever essa ilha localizada exatamente onde as placas tectonicas da Europa e América do Norte se encontram, e ainda seriam poucas. Poucas palavras como "uau", "nossa" ou mesmo o simples silêncio podem dizer muito.

Poucos lugares me provocaram tantas sensações como as que tive na Islândia. Muitas sensações que foram novas para mim nesta vida. Desde o primeiro dia fiquei me perguntando e questionando a Deus se tudo aquilo era real. Calma, não estou dizendo que o paraiso na terra se chama Islândia. Dependendo do ponto do vista pode até ser descrito como um inferno já que se trata de um lugar geologicamente e vulcanicamente ativo. Terremoto, presente! Vulcão e lava, presente! Tempestades de neve, presente! Áreas de deserto, presente!

Foi na Islândia aonde pude presenciar o "sol da meia noite". No ápice do verão, período em que estive neste país, o sol simplesmente não se põe. Fica ali, não brilhando como o sol em uma praia, mas como uma luz que esqueceu de ser desligada, como uma luz com cara de por do sol de fim de tarde que esqueceu de ir embora. O sol pra te lembrar que é verão, o sol pra te esquecer da noite. Um sol que confunde podendo gerar a loucura e a insônia. Um sol que esclarece que sem ele não somos nada, não há vida. Um sol que parece dizer "bem vindo" a um novo planeta em nome de toda a natureza.

Como uma imagem diz por mil palavras abaixo algumas das primeiras imagens que fotografei entre as 2 e 3 da manhã!!!

As caminhonetes estacionadas nas ruas e garagens com rodas gigantes alertando para algo. Como se fosse terra de gigantes, na terra onde as pessoas acreditam em lendas e mitos vikings. Onde acreditar em elfos e trolls é a coisa mais natural do mundo. Com o tempo descobri que construções são projetadas e adaptadas para não afetarem certas rochas tidas como casa dos elfos.

Talvez a única vez em que você ouviu dizer sobre a Islândia foi por causa da cantora Björk. Sinceramente nunca fui grande fã de seu estilo musical, simplesmente não faz meu estilo. Mas sem dúvida é a pessoa mais famosa deste país de 300 mil pessoas. Tive a oportunidade de acompanhar um show de artistas islandeses de alerta sobre questões de meio ambiente e aquecimento global que aconteceu na capital Reykjavík. Inquestionavelmente a música faz parte da cultura deste povo. Desde um simples violão em uma roda de família e amigos até bandas com excesso de influências pop do exterior. Descobri na minha exploração que existe um livrinho com músicas e acordes de violão para a típica família islandesa levar para o camping e fazer aquele agito. Muita calma aos alegrinhos, não se trata de algo parecido com um axé baiano, são letras com significados e incluem história, tradições e cultura. Outras boas descobertas musicais segundo este que escreve (ao menos do que eu pude escutar): Sigur Rós, Mammút, Seabear, Jakobinarina, Reykjavík!, Apparat Organ Quartet.



A capital deste país tem um nome que demora um pouco pra aprender a pronunciar da maneira correta, Reykjavík. Concentrando aproximadamente metade da população da nação é uma cidade muito limpa e organizada como não poderia deixar de ser o país que lidera o ranking mundial de desenvolvimento humano (índice que considera expectativa de vida, PIB ajustado ao poder de compra per capita e nível educacional). Mas Reykjavík não surpreende somente pelo seu desenvolvimento que desperta a atenção pela arquitetura e design de suas construções, mas principalmente pela natureza presente na belíssima vista do horizonte composta pelo oceano, pela cadeia de montanhas e pelo vento incansável que sopra frio em pleno verão.


Diz a história que os primeiros seres humanos que descobriram a Islândia foram monges Irlandeses, mas a colonização e praticamente toda a carga cultural foram obra do povo nórdico, os vikings. Ali surgiu a primeira democracia parlamentar do mundo ao rejeitarem o sistema de monarquia. O tempo dos vikings passaram, mas sempre estiveram sobre a zona de influência nórdica, principalmente Dinamarca. Durante a Segunda Guerra Mundial a Islândia participou da aliança com Estados Unidos e Inglaterra desempenhando importante papel como posto de abastecimento das tropas e aviões americanos que cruzavam o Atlântico. A base americana permaneceu até 2006 e como vestígios deixa uma população fluente no idioma inglês, grande variedade de redes de fast food e o hotdog como parte da cultura da Islândia. Por falar em idioma a oficial é o islandês, tido como um idioma muito próximo do idioma dos antigos vikings, além do dinamarquês ser também muito disseminado e lingua opcional ensinado nas escolas.





Basta sair um pouco da capital Reykjavík rumo ao sudeste do país para descobrir porque se trata de um lugar único, uma natureza impressionante para um brasileiro. Além dos campos de lava, presentes em grande parte do território fruto de grandes erupções vulcanicas passadas, logo chama a atenção as colunas de vapor que brotam do chão e encostas de morros e montanhas como se o chão fosse a tampa de uma panela de pressão e algo estivesse a ponto de explodir.


Literalmente em ponto de ebulição.
Tive a oportunidade de visitar a usina de Nesjavellir, maior usina geotérmica da Islândia. O encontro das placas tectônicas corta o país exatamente entre sudoeste e nordeste, mesmo assim para a produção de energia geotérmica são mapeadas áreas chamadas de alta e baixa temperatura. Nas de alta temperatura a água atinge no mínimo 200ºC em profundidade de 1000 metros devido a maior proximidade das rochas com o magma e nas de baixa temperatura a água mede menos de 200ºC e contém menos resíduos e minerais impróprios para a proliferação de vida orgânica. Na usina geotérmica a água retirada de poços de alta temperatura movimenta turbinas gerando eletricidade e o seu calor é utilizado para aquecer a água retirada de poços de baixa temperatura fornecendo assim água aquecida para as pessoas. As águas não se misturam, a que veio do poço de alta temperatura é imprópria para o ser humano e volta para a terra, já a água do poço de baixa temperatura segue para as cidades através de dutos de altíssima tecnologia dotados de rodinhas para o caso de terremoto. Ela sai da usina com temperatura acima de 80ºC e no percurso até a cidade perde menos de 2ºC!!! Muita gente sofre queimadura lavando louça na pia, mas confesso que foi o único país onde adorei lavar louça. Uma experiência impressionante utilizando água quase em ponto de ebulição para a simples tarefa de lavar a louça.




Nunca vi neve na minha vida, mas na Islândia vi um glacial de perto.

Nunca tinha ouvido falar sobre um glacial, ao me deparar com a imagem que segue abaixo, acreditei que era neve acumulada nas encostas de um morro. Naquele vale de terra negra e pedras, sem o menor sinal de alguma vida, quanto mais perto chegava descobria do que se tratava. Glacial nada mais é do que uma geleira, gelo, que derretia de forma impressionante no ápice do verão e no inverno ganha de volta alguma "massa". Blocos enormes de gelo que formam um mosaico de túneis, fissuras e paredões impressionam. Pela beleza esculpida pela natureza e ao mesmo tempo pela fragilidade de que tudo aquilo pode ser destruído pelo homem.

OBS.: É possível encontrar pedras empilhadas em todas as regiões da Islândia, principalmente nos pontos turísticos. A única explicação que tive dizia que era uma forma de sinalização para o período de inverno quando a neve tende a encobrir todo o solo e as pedras empilhadas seriam uma referência. Não foi muito convincente, mas certamente faz parte da cultura local.







Se na minha vida nunca havia ouvido falar de um glacial, não fazia a menor idéia de que algum dia iria ver icebergs. Em Jökulsárlón, ao sul do país, pude apreciar a beleza de um lago com icebergs, que são oriundos do glacial Breidamerkurjokull e ficam boiando no lago antes de seguirem para o mar. É um local tão impressionante que foi cenário para vários filmes como Tomb Raider com Angelina Jolie, Batman Begins e 007 Die another day. Onde fui parar no ápice do verão? Naquele tempo nublado, cercado por montanhas e glaciais, com o lago de icebergs na minha frente. Um silêncio tão estranho, ao mesmo tempo em que tudo é tão novo e tão belo que dá vontade de elogiar a natureza sem parar você simplesmente não encontra palavras. As rajadas de vento parecem levar embora qualquer vontade de usar a voz e deixam somente o sentido visual, ficar parado e admirar aquilo que a natureza criou e estranhamente nos deixa hipnotizados de tão fascinante.











No belo parque nacional de Skaftafell a impressionante Svartifoss, queda d'água rodeado por colunas de basalto negro.


Os cavalos da Islândia são um capítulo especial. Trazidos pelos vikings como pôneis foram com o tempo desenvolvendo características especiais. Algumas delas surgiram por questão de sobrevivência e seleção natural ao longo do tempo, a necessidade de adaptação ao terreno e ao clima difíceis. Outras características são mais curiosas, a principal e a que mais enche os islandeses de orgulho é o fato de ser a única raça de cavalo no mundo que possui 5 "passadas". Todos os cavalos possuem 3: andar, trote e galope. Mas o cavalo islândes possui 2 extras. Quais, eu não vi, mas ouvi que são variações entre as outras formas desempenhadas com equilíbrio e estabilidade sem igual. A característica que mais me atraiu a atenção foi sua calma e seu jeito dócil. Em uma estrada basta parar o carro para eles se aproximarem da cerca. Adoram receber em retribuição um pedaço de pão, carinho e atenção. Talvez não sejamos tão diferentes assim.




A praia de areia negra:

Geisers então nem sabia como se pronunciava. No vale de Haukadalur está localizado Geysir, o geiser mais antigo do mundo e que deu origem ao nome para todos os seus... "irmãos" espalhados pelo mundo. O velho e grande Geysir encontra-se atualmente inativo. Ninguém sabe o porque decidiu "desligar" e parar de expelir jatos de água quente. Simplesmente foi enfraquecendo e um dia parou de funcionar. Existe a possibilidade de voltar a "explodir" a qualquer momento. Assim como um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer hora ele ali descansa ou jaz. Não se sabe. Coisas da natureza. Mas ao seu redor está Strokkur, geiser que "explode" aproximadamente a cada 5 minutos atingindo uma altura de pouco mais de 15 metros, além de outros "buracos" onde a água borbulha fervente.

Geysir:
Strokkur:

Gullfoss, uma das quedas d'água mais visitadas pelos turistas. Impressionante sua beleza formada pelas sequências de quedas assim como a proximidade que é possível chegar da beira do abismo onde o rio "cai" e então segue trajetória por um canion.



Abaixo fotos do local historicamente mais importante da Islândia, onde foi fundada a primeira democracia parlamentar do mundo: Þingvellir. No ano de 930 ali se reuniram grupos que habitavam diversas regiões da Islândia e então ao fundarem o parlamento fundaram a nação Islândia e foi peça fundamental na formação da cultura e da identidade nacional.





Viagem ao oeste da Islândia, península de Snaefellsnes National park.













A incrível nuvem em forma de onda:


Whale watching tour (tour de observação de baleias). Bacana, mas turisticamente não compensa muito. Não é nada parecido com o Sea World em Orlando, EUA, onde as baleias aparecem, cantam e dançam quando o treinador dá uma ordem.



Após o tour nada como uma refeição no restaurante Saegreifinn. Certamente uma das atrações turísticas da Islândia. Localizado no porto, os bancos são barris e o ambiente náutico bacana. Na foto abaixo espetinho de carne de baleia e a especialidade da casa que deu fama ao restaurante, a maravilhosa sopa de lagosta. Essa sopa de lagosta do Saegreifinn foi considerada por alguns como a melhor sopa de lagosta do mundo com direito a matéria no New York Times, posso garantir que foi uma das melhores sopas que já experimentei. Sopas na Islândia tendem a ter preço de uma refeição, geralmente caras, mas valem a pena pelo delicioso sabor que não se encontra igual em outros lugares. Já a carne de baleia é uma delícia, mas somente quando bem assado e acompanhado de um molho, senão parece uma carne bovina menos saborosa.

Viagem ao norte da Islândia, cidade de Akureyri, segunda maior cidade da Islândia quando excluídas as cidades da Grande Reykjavík, considerada a capital do norte fica baseada ao longo de um fjorde. Apesar de pequena é uma cidade que mais do que compensa pela vista da paisagem que a cerca e pelo seu charme que só uma cidade pequena pode ter.











O caminho de Akureyri até Dettifoss (maior queda d'água da Europa) é a jornada mais maluca que já fiz em termos de paisagens. A explicação é Krafla, uma caldeira com 10 km de diâmetro que no ano de 1984 teve sua erupção mais recente com fluxo de lava. Saindo do fjorde cercado por montanhas verdes aos poucos o verde vai sumindo da paisagem. Uma montanha cuja face é coberta por gramas e outra face completamente sem vida alguma.

Encostas de montanhas desertas que soltam vapores cuja estrutura é aproveitada como parte de uma usina de geração de eletricidade, bem como fissuras no chão que soltam vapores tóxicos (como dióxido de carbono e dióxido de enxofre) e piscina de lama vulcânica.


Uma paisagem que quando se olha para o horizonte é simplesmente um deserto sem vida alguma.


Uma imensidão desértica de terra que aos poucos se enche de pedras, muitas pedras. Uma paisagem lunar, sem nenhum sinal verde, nenhuma árvore.


Eis o caminho e o que cerca Selfoss e Dettifoss.

Selfoss:

Seguida por Dettifoss: a maior queda d'água da Europa em volume de descarga, 200m³/segundo. Assistam abaixo o vídeo


http://www.youtube.com/watch?v=0Rjz614sO0A

Mývatn: localizado em uma região vulcanica Mývatn é um lago com pseudo-crateras que apesar de terem a aparência de mini-vulcões na realidade são frutos de uma grande explosão vulcânica cujos fragmentos das erupções causaram esse efeito visual.


Islândia é isso. Uma terra completamente nova e inexplorada. Cheia de novidades para os olhos de um brasileiro. Onde a natureza parece muito mais próxima e poderosa. A natureza da incerteza de um terremoto a qualquer momento ou uma erupção vulcânica. A natureza de um clima que está sempre mudando e é imprevisível. Em 24 horas pode fazer chuva, neve e sol. Um lugar onde a natureza relembra o quão somos pequenos e insignificantes perto de sua grandeza.

Para mim foi a descoberta de um novo planeta.



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