segunda-feira, maio 05, 2008

PESCADOR DE ILUSÕES

Sinceramente eu não sei diferenciar o que é sonho e o que é ilusão. Ter uma Ferrari na garagem seria um sonho ou uma ilusão? Você pode responder que o primeiro pode se tornar real enquanto o segundo nunca irá se concretizar. Talvez essa seja uma diferença entre essas 2 palavras e mesmo assim é complicado de classificar algo como sonho ou ilusão. Fato é que sempre fui muito inconformado com as coisas erradas que acontecem no nosso Brasil e todos aceitam tomando como algo normal.

Sempre falam que Brasil é o país do futuro, então desde jovem fico alimentando sonhos e ilusões de coisas que o Brasil pode se tornar quando chegar o presente para o país do futuro.

Será que no Brasil do futuro podemos esperar o sonho das pessoas confiarem uns nos outros? Ou isso é ilusão?

CONFIANÇA.

Será que chegará um dia em que a catraca será abolida e se transformará em peça de museu ou uma recordação? Andar de ônibus e metrô com a opção ilegal de não pagar o bilhete, mas termos a confiança de que ninguém ou quase ninguém fará o errado. Mesmo sem uma catraca e cobrador para controlar todos pagarão pelo seu uso. Existiria um nível tão grande de confiança um no outro que as catracas sumiriam não somente dos transportes públicos, mas também de bibliotecas e museus. Posto de gasolina sem frentista, onde o motorista desce do carro para abastecer e se quiser sai acelerando sem pagar pelo combustível, mas vai até o caixa pagar o que é devido. Andaríamos nas ruas sabendo que a faixa de pedestre realmente serve pra algo, as sinalizações seriam respeitadas pelos motoristas e ciclistas teriam ciclovias para circularem por toda cidade sem risco de atropelamento (isso é definitivamente uma ilusão para aqueles que já viram um ciclista descendo a avenida Rebouças dividindo espaço com carros, motos e ônibus). Deixar a bicicleta estacionada em uma estação de metrô e saber que quando voltar ela estará lá e não em um desmanche ou mercado paralelo. Comprar o jornal do dia não indo até a banca de jornal, mas até a caixa de jornal na esquina. Caixa de jornal? É, uma caixa com o jornal do dia, você abre a tampa, pega a papelada e deposita moeda numa caixinha do lado. Se quiser abrir e pegar sem pagar também pode, mas digamos que ninguém faria isso.

Será que no Brasil do futuro podemos esperar o sonho das pessoas respeitarem uns aos outros? Ou isso é ilusão?

RESPEITO.

Pagar todas as tributações devidas ao onipresente poder público e receber serviços públicos de volta. Aqui estou falando não somente de um aparelho estatal sem corrupção, mas o respeito dele com os cidadãos. Na minha opinião esse respeito seria expresso por hospitais públicos confiáveis, ou alguém com dinheiro no Brasil tem coragem de arriscar a sorte num hospital público quando precisa? Ter não somente a certeza que o ônibus ou trem irá passar no ponto, mas saber num placar quantos minutos faltam para isso acontecer. Pessoalmente não vejo nada mais respeitoso por parte do governo, nesses tempos de caos aéreo que se perpetua no Brasil, do que saber qual hora e minuto passará um trem que o levará para uma estação dentro do aeroporto, saber quanto tempo será gasto andando da estação até o balcão de check-in e na hora marcada o avião decolar faça sol ou chuva.

Apesar de minhas habilidades futebolísticas serem comparáveis ao de um Kaká paraguaio eu prefiro ficar na arquibancada e somente ver um bom jogo de futebol. Seria uma ilusão pensar que chegará um dia que juntaríamos amigos e família para irmos juntos de metro até o estádio? Encontrar no caminho até a bilheteria torcedores do time adversário e não escutar somente um palavrão. Chegar na bilheteria e ser atendido educadamente por uma senhora para comprar ingressos com cadeira numerada (quem já comprou ingresso em estádio de futebol no Brasil sabe a caverna que os bilheteiros ficam enfurnados e isso quando os cambistas não assumiram a bilheteria informal). Com ingressos em mãos entrar no estádio sem o menor empurra-empurra e confusão. Usar os banheiros do estádio e não cabines químicas. Comprar alimento de procedência garantida com preços de mercado e não ser extorquido por um ambulante imundo.

Respeito das empresas com seus consumidores. Entrar em um supermercado e encontrar como funcionário somente 2 caixas e uma repositora sem ninguém te vigiando por câmeras, ou entrar em uma loja e não ter funcionários perguntando sem parar se você já foi atendido como uma forma sutil de dizer “estou de olho em você, nem tente roubar”.

Será que no Brasil do futuro podemos esperar o sonho das pessoas tenham uma renda verdadeiramente digna, fruto do trabalho e não de auxílio governamental ou artimanhas ilegais? Ou isso é ilusão?

RIQUEZA.

Um sistema de educação de qualidade e um mercado de trabalho que remunere desde a balconista da padaria até o executivo financeiro do banco para que ambos tenham uma condição de vida digna e bacana.

Acordar de manhã e ir até o parque mais próximo sabendo que existem várias opções de parques limpos e seguros para praticar esporte sem sofrer com a muvuca de pessoas que tiveram a mesma idéia que você num sábado de manhã. Se você não sabe de qual muvuca me refiro passe a freqüentar o parque do Ibirapuera nos finais de semana.

Ter a disposição um sistema de transporte com trem, ônibus e metrô que permita alcançar qualquer ponto dentro e fora da cidade, e o mais importante pagando um preço justo e acessível. Uma oferta tão grande de metrô que seja difícil acreditar que a sua construção seja cara e principalmente faça do carro uma opção e não uma necessidade.

Meus caros, o que escrevi acima são as ilusões e sonhos que alimento sobre um possível Brasil e ao mesmo tempo a descrição da minha primeira experiência nesta viagem, München, Alemanha. Exatamente, posso afirmar que praticamente todas as minhas ilusões de uma sociedade perfeita encontrei na cidade de München no estado da Bavária. Como todo pescador de ilusões esse peixe é grande e você pode não acreditar achando que é mais uma daquelas lendas de pescador, mas que eu pesquei, pesquei!



Imagens do Allianz Arena, estádio do Bayern München.


Famoso bierhaus de München - a balada de sábado a noite da família bávara. Cerveja em copo de 2 litros, muito salsichão e bandinha regional.



Olympia Park - sábado de manhã com sol. Cheio de gente igual o Ibirapuera.




Estação de metrô - placar na plataforma com hora e contagem regressiva em minutos para os próximos vagões passarem. Reparem nas catracas do metrô. São essas caixinhas azuis que carimbam o bilhete. Pra quem se acostumou com o metrô de São Paulo é muito estranho descer da rua e entrar no vagão sem passar por catraca ou qualquer sistema de controle. Se quiser andar de metrô sem pagar corre certo risco mas dá facil, fácil. Não tem seguranças, polícia, ninguém.

Bicicletas estacionadas na entrada do metrô, muitas sem corrente nem cadeado.


Estação de trem em München - inacreditável a oferta de meios de transporte. E o Brasil ainda discutindo sobre trem bala... será que os alemães tem tantas linhas de trem e metrô porque são ricos ou ficaram ricos porque foram construindo ao longo do tempo?

Nenhum comentário: