terça-feira, maio 13, 2008

BERLIN - Nada se perde, tudo se transforma.

População: 3.415.000

Andar por Berlin é literalmente andar pela história e pelo seu passado. Marcas no chão evidenciam onde certo tempo havia um muro ali. Prédios carregados de significados que já serviram de cenário para acontecimentos que mudaram a história ou restos de construções que representam passagens históricas.

Nunca senti o passado tão presente.

A cidade é como um museu gigante, muitas vezes a sensação que tive é a de que Berlin parou no tempo para viver do seu passado. Até mesmo as novas contruções como o Memorial do Holocausto se refere ao passado.
Pura ilusão.
Grande evidência de que a cidade não parou no tempo é a dificuldade em reconhecer que aquela parte onde hoje está cheia de lojas e shopping center ficava na área oriental. Áreas onde nascem prédios modernos de aço e vidro. Contudo é difícil pensar em Berlin sem as últimas partes intactas do muro e seus pedaços vendidos como souvenir; sem artistas travestidos de soldado americano e soviético no portão de Brandenburg e Checkpoint Charlie; sem museu da DDR para reviver a sociedade alemã socialista.

Tanta história que naturalmente atrai hordas de turistas de todo o mundo. Ironicamente muitos turistas da China, ainda "comunista", que visitam Berlin para conhecerem a cidade historicamente marcada pela divisão ideológica.

A divisão da cidade ainda é muito visível.
Algumas áreas freqüentadas somente por diplomatas e milionários com lojas caríssimas, carros de alto luxo estacionados nas ruas, cafés e restaurantes bacanas com menu inacessível para os meros mortais e outras áreas freqüentadas somente por imigrantes e mendigos com lojas de segunda mão, carros da era soviética estacionados nas ruas, cafés e restaurantes baratos e de higiene um tanto que duvidosa.

Mas Berlin é isso, uma cidade que representa o conceito biológico de que nada se perde, tudo se transforma. 
Onde vivem e convivem neonazistas, punks, muçulmanos, indianos, executivos e diplomatas.
Onde velhos Trabans se transformam em novas manias convivendo com Smarts e Ferraris.
Onde o velho Reichstag que sobrevive ao tempo é reconstruído e sedia atualmente o parlamento alemão.
Onde a velha estação central de trem se transforma em um ultramoderno centro de transporte.
Onde o velho dá espaço ao novo que revive o velho.





Estação central de Berlin reformada recentemente.


Reichstag, o parlamento alemão.


Memorial do holocausto.



Algumas ruas em transformação.





Reconstituição de um lar da Alemanha socialista.





O Muro e seu rastro.



Área de Berlin Oriental ainda "intacta".


Potsdamer platz.


Flagrante de trânsito em Berlin... quanto tempo essa bagunça durou? Menos de 1 minuto, o tempo de tirar umas fotos.





Portão de Brandenburg e Checkpoint Charlie.







Guindastes fazem parte do cenário da cidade em constante transformação.


Fernsehenturm




Prédio antigo abandonado na Berlin Oriental.


segunda-feira, maio 05, 2008

PESCADOR DE ILUSÕES

Sinceramente eu não sei diferenciar o que é sonho e o que é ilusão. Ter uma Ferrari na garagem seria um sonho ou uma ilusão? Você pode responder que o primeiro pode se tornar real enquanto o segundo nunca irá se concretizar. Talvez essa seja uma diferença entre essas 2 palavras e mesmo assim é complicado de classificar algo como sonho ou ilusão. Fato é que sempre fui muito inconformado com as coisas erradas que acontecem no nosso Brasil e todos aceitam tomando como algo normal.

Sempre falam que Brasil é o país do futuro, então desde jovem fico alimentando sonhos e ilusões de coisas que o Brasil pode se tornar quando chegar o presente para o país do futuro.

Será que no Brasil do futuro podemos esperar o sonho das pessoas confiarem uns nos outros? Ou isso é ilusão?

CONFIANÇA.

Será que chegará um dia em que a catraca será abolida e se transformará em peça de museu ou uma recordação? Andar de ônibus e metrô com a opção ilegal de não pagar o bilhete, mas termos a confiança de que ninguém ou quase ninguém fará o errado. Mesmo sem uma catraca e cobrador para controlar todos pagarão pelo seu uso. Existiria um nível tão grande de confiança um no outro que as catracas sumiriam não somente dos transportes públicos, mas também de bibliotecas e museus. Posto de gasolina sem frentista, onde o motorista desce do carro para abastecer e se quiser sai acelerando sem pagar pelo combustível, mas vai até o caixa pagar o que é devido. Andaríamos nas ruas sabendo que a faixa de pedestre realmente serve pra algo, as sinalizações seriam respeitadas pelos motoristas e ciclistas teriam ciclovias para circularem por toda cidade sem risco de atropelamento (isso é definitivamente uma ilusão para aqueles que já viram um ciclista descendo a avenida Rebouças dividindo espaço com carros, motos e ônibus). Deixar a bicicleta estacionada em uma estação de metrô e saber que quando voltar ela estará lá e não em um desmanche ou mercado paralelo. Comprar o jornal do dia não indo até a banca de jornal, mas até a caixa de jornal na esquina. Caixa de jornal? É, uma caixa com o jornal do dia, você abre a tampa, pega a papelada e deposita moeda numa caixinha do lado. Se quiser abrir e pegar sem pagar também pode, mas digamos que ninguém faria isso.

Será que no Brasil do futuro podemos esperar o sonho das pessoas respeitarem uns aos outros? Ou isso é ilusão?

RESPEITO.

Pagar todas as tributações devidas ao onipresente poder público e receber serviços públicos de volta. Aqui estou falando não somente de um aparelho estatal sem corrupção, mas o respeito dele com os cidadãos. Na minha opinião esse respeito seria expresso por hospitais públicos confiáveis, ou alguém com dinheiro no Brasil tem coragem de arriscar a sorte num hospital público quando precisa? Ter não somente a certeza que o ônibus ou trem irá passar no ponto, mas saber num placar quantos minutos faltam para isso acontecer. Pessoalmente não vejo nada mais respeitoso por parte do governo, nesses tempos de caos aéreo que se perpetua no Brasil, do que saber qual hora e minuto passará um trem que o levará para uma estação dentro do aeroporto, saber quanto tempo será gasto andando da estação até o balcão de check-in e na hora marcada o avião decolar faça sol ou chuva.

Apesar de minhas habilidades futebolísticas serem comparáveis ao de um Kaká paraguaio eu prefiro ficar na arquibancada e somente ver um bom jogo de futebol. Seria uma ilusão pensar que chegará um dia que juntaríamos amigos e família para irmos juntos de metro até o estádio? Encontrar no caminho até a bilheteria torcedores do time adversário e não escutar somente um palavrão. Chegar na bilheteria e ser atendido educadamente por uma senhora para comprar ingressos com cadeira numerada (quem já comprou ingresso em estádio de futebol no Brasil sabe a caverna que os bilheteiros ficam enfurnados e isso quando os cambistas não assumiram a bilheteria informal). Com ingressos em mãos entrar no estádio sem o menor empurra-empurra e confusão. Usar os banheiros do estádio e não cabines químicas. Comprar alimento de procedência garantida com preços de mercado e não ser extorquido por um ambulante imundo.

Respeito das empresas com seus consumidores. Entrar em um supermercado e encontrar como funcionário somente 2 caixas e uma repositora sem ninguém te vigiando por câmeras, ou entrar em uma loja e não ter funcionários perguntando sem parar se você já foi atendido como uma forma sutil de dizer “estou de olho em você, nem tente roubar”.

Será que no Brasil do futuro podemos esperar o sonho das pessoas tenham uma renda verdadeiramente digna, fruto do trabalho e não de auxílio governamental ou artimanhas ilegais? Ou isso é ilusão?

RIQUEZA.

Um sistema de educação de qualidade e um mercado de trabalho que remunere desde a balconista da padaria até o executivo financeiro do banco para que ambos tenham uma condição de vida digna e bacana.

Acordar de manhã e ir até o parque mais próximo sabendo que existem várias opções de parques limpos e seguros para praticar esporte sem sofrer com a muvuca de pessoas que tiveram a mesma idéia que você num sábado de manhã. Se você não sabe de qual muvuca me refiro passe a freqüentar o parque do Ibirapuera nos finais de semana.

Ter a disposição um sistema de transporte com trem, ônibus e metrô que permita alcançar qualquer ponto dentro e fora da cidade, e o mais importante pagando um preço justo e acessível. Uma oferta tão grande de metrô que seja difícil acreditar que a sua construção seja cara e principalmente faça do carro uma opção e não uma necessidade.

Meus caros, o que escrevi acima são as ilusões e sonhos que alimento sobre um possível Brasil e ao mesmo tempo a descrição da minha primeira experiência nesta viagem, München, Alemanha. Exatamente, posso afirmar que praticamente todas as minhas ilusões de uma sociedade perfeita encontrei na cidade de München no estado da Bavária. Como todo pescador de ilusões esse peixe é grande e você pode não acreditar achando que é mais uma daquelas lendas de pescador, mas que eu pesquei, pesquei!



Imagens do Allianz Arena, estádio do Bayern München.


Famoso bierhaus de München - a balada de sábado a noite da família bávara. Cerveja em copo de 2 litros, muito salsichão e bandinha regional.



Olympia Park - sábado de manhã com sol. Cheio de gente igual o Ibirapuera.




Estação de metrô - placar na plataforma com hora e contagem regressiva em minutos para os próximos vagões passarem. Reparem nas catracas do metrô. São essas caixinhas azuis que carimbam o bilhete. Pra quem se acostumou com o metrô de São Paulo é muito estranho descer da rua e entrar no vagão sem passar por catraca ou qualquer sistema de controle. Se quiser andar de metrô sem pagar corre certo risco mas dá facil, fácil. Não tem seguranças, polícia, ninguém.

Bicicletas estacionadas na entrada do metrô, muitas sem corrente nem cadeado.


Estação de trem em München - inacreditável a oferta de meios de transporte. E o Brasil ainda discutindo sobre trem bala... será que os alemães tem tantas linhas de trem e metrô porque são ricos ou ficaram ricos porque foram construindo ao longo do tempo?

VELHO CONTINENTE, MUNDO NOVO

Após anos e anos de sonhos e desejos finalmente estou realizando algo que julgo relevante para mim. Algo que emana do interior e não tem explicação nem razão. Finalmente tenho a oportunidade de viajar na Europa. Visitar países que sempre chamaram atenção e também países que não tenho a menor noção de como são.

Teoricamente deveria escrever este blog antes de começar a aventura, contando os detalhes da preparação, explicando como tomei as decisões de roteiro, explicar porque decidi viajar para tal país e não para aquele outro, como fiz a estimativa de custos, quais recursos utilizei para me munir das melhores informações. Mas como diz o dito “antes tarde do que nunca”.

Faz 1 mês de viagem e posso enfatizar que realmente é um mundo diferente, um mundo de coisas novas apesar de ser o popular velho continente. Não pretendo escrever um guia turístico, todas as impressões se baseiam simplesmente nas minhas percepções. Se eu escrever aqui que tal cidade é uma porcaria que deveria ser varrida do mapa você poderia visitar e simplesmente adorar. Exatamente, simples assim.