Todo mundo pede paz.
Quando acontece uma tragédia como essa então....
Vários movimentos se sustentam nesse espírito de
um significado um tanto quanto confuso.
Já existiu um planeta terra totalmente em PAZ ????
Acho que só enquanto os homens não o habitavam.
Vivemos em conflitos desde a origem.
Me lembro de quando assisti a "Guerra do Fogo", um
filme que simula a descoberta do FOGO pelos macacos.
Ali já se vê que tribos começaram a escravizar outras tribos e que quem tinha o poder
normalmente o utilizava de maneira egoísta.
As guerras naquela época eram por motivos semelhantes aos atuais:
- Territórios
- Fêmeas
- Domínio de outros povos
Dentre outros milhares de motivos idiotas que só me fazem
crer que a PAZ foi uma palavra inventada por algum homem
que conseguiu viver em algum ponto do planeta onde não existia a raça HUMANA.
Mas isso é especulação da minha parte, creio eu.
Estudando história vc percebe que desde que o mundo
é mundo existem essas picuinhas entre os semelhantes.
Me parece que conforme vamos "evoluindo" mais imbecis ficamos.
Ai alguém inventa que um DEUS é melhor que o outro.
Ai inventam o Dinheiro.Inventam novas armas e novas tecnologias.
Inventam de tudo pra sempre se ter um bom motivo para guerrear.
Parece insano, mas alguém deve se divertir com isso.
Que as diferenças sempre incomodaram isso é nítido.
Que a humanidade é Má ninguém duvida.
O que fazemos é lutar contra o mal que esta dentro de nós.
Muitos filósofos já discutiram e discutem sobre este assunto até hoje,
mas diante de tantas evidencias em quem vamos acreditar não é mesmo?
Religiões em crise.
A ciência faz uma descoberta e logo alguém descobre uma
maneira cruel de utiliza-la para o mal.
O maniqueísmo parece ser o grande barato das sociedades.
Ai inventam o capitalismo e o comunismo.
Ai brigam para qual sistema é o melhor para o mundo todo.
Será que existe algum sistema que é bom para todos ao mesmo tempo ??????
Se existe ainda não divulgaram.
Bom....
Por si só o homem tem o espírito aventureiro e isso fez com
que hordas inteiras se deslocassem pelo planeta atrás de
terras e riquezas.
Ai invadem povoados e destroem as culturas nativas.
Ai escravizam e utilizam a mão de obra humana para
garantir mais e mais lucros.
Muita gente diz que o dinheiro é um elemento de discórdia.
Concordo em parte , mas nisso incluo a ganância, como sentimento
chave. E isso amigos é nosso.... vem de dentro.
Inveja.
Prepotência.
Egoísmo.
Tenho a impressão que alguém nos colocou para estragar
esse planeta e não foi DEUS!!!!
A Terra é linda vista de longe.
Existem várias teorias, mas ninguém conseguiu ainda comprovar cientificamente como o homem
surgiu por aqui.
As teorias religiosas, nem vou comentar.
Cada um acredita no que quiser, certo ?
Mas é estranho!!!!!!!!!!
Muito estranho por sinal.
Mas voltando a PAZ.
Voltando ao ano de 2006 .
Voltando ao Brasil.
Voltando ao Rio de janeiro.......
Voltando a nossa realidade....
Como podemos pedir paz se tem gente que NEM SABE
E NEM NUNCA VIVEU EM PAZ???????
Me parece esdrúxulo pedir a uma pessoa um comportamento que ela não conhece.
É como solicitar ao computador um arquivo que não existe dentro dele, que ninguém nunca
inseriu.
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!
Comecei a entender.
A paz esta no dicionário....
A paz esta em um monte de camisas e outdoors.
Mas o que é realmente a paz??????
Explique a paz para um moleque que nasce num lugar
e desde criança apanha dos pais, não tem uma casa
pra morar, não tem família, não tem comida, não tem
dinheiro, não estuda. Cresce junto com outros na mesma
situação e depois começa a tomar noção que existem
muitas coisas as quais ele não tem direito e outras pessoas tem.
Explique a paz para ele.....
Como é que vc vai explica-lo a resepito da PAZ que vc esta pedindo?
Talvez vc esteja lendo esse texto num computador comunitário ou mesmo no seu, no conforto do
seu lar
ou em algum lugar qualquer que vc possa ter tranquilidade para pensar a respeito.
Vc sabe ler......
Vc estudou suponho....
Então explica ai ....
O que é essa tal paz?????????????????
Fico imaginando o quanto as pessoas fantasiam a respeito disso e confesso que também já o fiz ...
a palavra PAZ
é bonita, é bacana de ser dita, talvez por que eu tenha o privilégio de usufruir de alguns momentos desse estado de espírito, mas e as pessoas que
NUNCA NA VIDA TIVERAM A OPORTUNIDADE DE TER ESSA TAL PAZ por nenhum segundo
sequer.....?
Minto.
Talvez a paz para um moleque de rua esteja no momento em que ele joga um futebol com os amigos,
será por isso que o principal sonho dessas crianças é ser jogador de FUTEBOL?????
Talvez eles vislumbrem o que já viram na TV e associem
essa vida de "PAZ" a poder fazer o que gostam e ganhar uma condição melhor de vida.
Talvez a Paz para eles seja sair o barraco de pau e ir para um quarto e sala de concreto.
Para a uma menina que vive nestas condições também, a paz deve aparecer como uma fada enquanto ela brinca de boneca.
Estranho pensar nisso dessa forma.
Me parece EGOÍSMO pedir paz a quem nunca viveu sequer um momento de PAZ.
Verborragia ?????
Hipocrisia??????
O que me faz ter essa sensação horrível de que nunca teremos a tal PAZ ,
enquanto não oferecermos condições para que as pessoas descubram esse sentimento ???
Ai os políticos vem com esses discursos idiotas,
enquanto as pessoas mais pobres continuam isoladas
das condições básicas de sobrevivência.
Ai inventam uma porrada de outras prioridades para
não arriscarem sequer uma única ação que modifique algo
de fato para que as crianças tenham possibilidades de
algum dia descobrirem a paz.
Por outro lado.....
Alguns vão ficando mais ricos, vendendo ARMAS, vendendo
Drogas, desviando dinheiro público, envolvidos com contravenção,
criando o universo ideal para justificarem a ausência de suas responsabilidades.
O povo vai ficando mais ignorante, mais revoltado enquanto
eles ficam mais RICOS.
Depois vem pedir PAZ??????????????????
No dia que a favela tomar consciência do poder que tem
e se politizar a revolução começa!!!!
Vou apostar minhas fichas nesse futuro.
Uma revolução de verdade que coloque na cadeia todos estes que contribuem para a proliferação
da covardia.
A PAZ é uma ilusão.
Me revolto também com a violência.
Ainda mais quando vejo estes playboys, filhos de pais
ricos ou de classe média brigando ou assaltando, fazendo
merda e colaborando ainda mais para esse caos que estamos vivendo.
Estes deveriam ser colocados para passar uma semaninha só na pele dos que não tem nem um osso pra comer.
Os verdadeiros traficantes não estão na favela.
Estão na política, na justiça, de terno e gravata
em todos os lugares em que a influência deles possa
manter esta teta que gera lucros estratosféricos.
É muito sinistro.
Eles estão infiltrados na sociedade, travestidos de bons moços, bons pais, bons maridos.
Vivendo em mansões cercadas de segurança enquanto
os soldados se matam por mixaria.
Muitos desses soldados percebem que o caminho
do tráfico é muito lucrativo, mas se soubessem de verdade
o quanto seus patrões ocultos ganham, nem pensariam duas vezes em trocar seus chinelos e
fuzis por uma sala em Brasília com ar condicionado e milhares de dólares em contas
estrangeiras.
Vc tá fumando um baseadinho ai e tá tranquilão...
Eles vão te acusar de colaborar com o tráfico e com
a violência....
Vão usar de um monte de argumentos.
Mas a droga mata muito menos que a guerra que é
gerada por essas mesmas pessoas.
A PROIBIÇÃO GERA LUCROS MUITO ALTOS E NÃO INTERESSA A ELES E AO SISTEMA
QUE ELES CRIARAM QUE ALGUÉM OUSE MUDAR ISSO.
Se estivessem preocupados com a sua SAÚDE MESMO, como dizem por ai, proibiriam o
CIGARRO E O ÁLCOOL.
Ou estas drogas não fazem mal ?????????
Ou então converteriam o dinheiro de nossos impostos para os médicos, hospitais e campanhas
preventivas.
A questão das drogas é uma questão de Saúde Pública, não das Forças Armadas simplesmente.
E a paz????????????????
Pergunte aos fabricantes de armas.
Pergunte aos EUA , França , China , aos maiores fabricantes de armas do mundo se interessa a
PAZ.
Pergunte a eles se eles trocariam seus zilhões de dólares por essa tal de PAZ !!!!!!!!
Desde o primeiro parafuso que é feito para fabricar um fuzil até o corpo que vai levar um tiro e cair morto no chão ,
existem milhões de interesses obscuros que nunca serão modificados.
A PAZ É UMA ILUSÃO!!!!!!!!!!!
Ou não....
A paz não gera lucros.
A paz não é interessante pra quem tem poder.
Lembra da GUERRA do FOGO lá no começo entre os macacos ????
De lá pra cá só pioramos as coisas!!!!!
Explique-se então.
Como vc pode cobrar paz nesse mundo hipócrita???
Acorda.
A "Matrix" esta trabalhando por todos os lados pra que vc seja mais um alienado!
Pense.
Reflita.
Se vc sabe ou já viveu essa tal de paz, não colabore com a violência ok???
Se vc é um privilegiado, não tumultue mais.
Procure dar valor a estes momentos raros, porque tem
muita gente que NUNCA VAI SABER DE FATO O QUE SIGNIFICA ESTAR EM PAZ.
Faça alguma coisa por alguém.
As suas responsabilidades são do tamanho dos
seus privilégios.
Se conseguirmos mudar uma pessoa só, poderemos contar
com a sorte desse um gerar uma família feliz, que possa
ajudar a gerar outros indivíduos felizes e quem sabe algum dia não possa nascer alguém para vir
nos salvar ?????
Enquanto isso, em algum lugar no congresso nacional...
Em alguma camara de vereadores, em algum quarto de hotel,
algumas outras vidas estarão sendo negociadas,
algumas malas de dinheiros estarão leiloando nossas almas !!!!!!!
O que me parece é que estamos focando no alvo errado.
Estamos sendo jogados uns contra os outros.
Enquanto enterramos nossos familiares, nossos irmãos, nossos amigos
os verdadeiros responsáveis desviam o foco da nossa atenção.
Não é favela contra asfalto.
Não é Rico contra pobre.
Não é trabalhador contra patrão.
Não é nada disso.
Somos todos nós contra os corruptos que estão nos manipulando nessa guerra suja e lucrativa.
Somos todos nós, favelados, Classe média, Ricos, trabalhadores, estudantes, cada um com sua individualidade...
Todos nós contra a impunidade que impera na POLÍTICA.
Eles estão protegidos .... nós não !!!!!!!
Não estou propondo nada além de um debate sério, honesto, verdadeiro
sem medo dos assuntos que serão abordados, sem hipocrisia.
Esta nossa postura esta levando vidas inocentes.
Nosso voto inconsciente leva em sua cédula o nome de mais alguma vítima que aumentará as estatísticas da violência.
Vcs esqueceram dos MILHÕES QUE ESTÃO SENDO ROUBADOS ???
Dos impostos que pagamos e que são direcionados para contas pessoais destes que nos governam ????
Onde estamos com a cabeça ??????????
Se tudo esta acontecendo como estamos vivendo
todos somos culpados tbm !!!!!!!
Enquanto a impunidade imperar entre os poderosos
NUNCA TEREMOS PAZ !!!!!!
Sem justiça , igualdade, saúde, educação e respeito por quem trabalha honestamente
Nunca poderemos cobrar PAZ !!!!!!!
Tico Sta Cruz
Ps: Por conta de alguns comentários IDIOTAS que andei lendo, quero relata-los que este texto
disponível neste momento foi retirado do CLUBE DA INSÔNIA, um blog que alimento com
pensamentos e reflexões há dois anos e este mesmo texto foi escrito em 2005( procurem nos arquivos lá presentes www.clubedainsonia.blogspot.com) , muito antes deste acontecimento.
Ao contrário de alguns oportunistas que se alimentam da desgraça alheia para expor opiniões preconceituosas, tendenciosas e insensíveis, o Detonautas sempre foi uma banda preocupada em propagar mensagens positivas, reflexões coletivas, sempre exaltamos o amor e a preocupação com a cidadania.
Sei que não devo explicações a ninguém a respeito do que fazemos, está registrado na nossa história e na de quem nos acompanha há muito tempo.
A diferença é que agora, por conta da nossa dor, Alguns que NUNCA SE DERAM O TRABALHO de prestar atenção em nossas palavras, aparecem para julgar nossas atitudes .
Acordem, isso não é uma competição para ver quem sofre mais ou quem tem mais razão, temos que nos unir, independente de COR, RAÇA, CREDO, CLASSE SOCIAL, para encontrarmos uma solução. Sempre fizemos isso, mas por que será que só agora alguns de vcs se deram conta ???
Reflitam !!!!
Tico Sta Cruz
domingo, junho 11, 2006
domingo, maio 21, 2006
ACORDA BRASIL E BANQUETE DA VIDA
No final de semana passada me dediquei às peças de teatro que a cidade de São Paulo oferece em tanto volume e variedade e que raramente tenho oportunidade de ir presenciar alguma. Em uma noite fui assistir à peça Acorda Brasil que está sendo apresentada no teatro Shopping Frei Caneca. Na noite seguinte fui à peça teatral que conta com a participação de um grande amigo, Banquete da Vida, em apresentação no teatro Dias Gomes.
Coincidência ou não ambas as peças tinham muitas coisas em comum e acredito que talvez seja um retrato das mudanças pela qual passa a sociedade brasileira. Não pretendo contar maiores detalhes das peças teatrais para não estragar a surpresa daqueles que pretendem ir assistir, mas como é impossível ser imparcial e não fazer citações então recomendo ao leitor que vá assistir à(s) peça(s) e então volte a ler este texto para não estragar nenhum clímax. O que escrevo abaixo são detalhes que podem comprometer a satisfação com as peças.
A peça Acorda Brasil tem autoria de Antônio Ermírio de Moraes, terceiro texto do empresário, onde o tema é a educação. Vou utilizar a descrição que consta no guia do jornal:
“Um jovem violinista aspirante dá aulas em uma escola pobre da cidade e enfrenta a resistência de uma diretora desiludida, além da desconfiança de alguns alunos. A montagem conta com 18 adolescentes da comunidade de Heliópolis, bem como 65 músicos da Sinfônica Heliópolis”.
O elenco conta com um grande número de atores globais com muita experiência e talento, destaque que não passa em branco é a atuação de Arlete Salles. Não vou com freqüência ao teatro, acredito que menos de 4 vezes ao ano, mas esse foi sem dúvidas o que mais me emocionou, divertiu e me fez repensar na vida. Realidade e ficção se misturam no palco. A realidade brasileira retratada sem hipocrisia ou
(O que contarei neste parágrafo fará mais sentido para aqueles que assistiram à peça) Lá estava eu, único jovem com a mochila na costa e o velho moleton batido enquanto que a maioria do público é composta de casais de meia idade de situação financeira confortável e clube de velhinhas endinheiradas. Para ser sincero não me sentia muito à vontade, acredito que era o mais jovem naquele público, me sentia quase que no asilo dos meus avós, acreditando que o tema era educação esperava que pessoas de todas as idades fossem se interessar. Quando a peça tem inicio todos esses detalhes ficam de lado, todos riem e todos se emocionam juntos, independente de idade, classe, vestimentas ou sexo. Conto isso, pois a peça gira em torno da música e nela não importa quem toca, mas sim o talento do músico. Quando as pessoas estão em uma sinfônica ou uma banda tocar música é o que importa e não outras características. Atualmente muitos músicos da USP (jovens privilegiados no mínimo da classe média) disputam por uma vaga no Instituto Baccarelli localizado na favela de Heliópolis, acredito que isso mostra que podemos superar a barreira social que temos atualmente na sociedade. Finalizada a peça pego o elevador “coração de mãe”, sempre cabe mais um, espremido entre as velhas impressionadas como eu com a peça entram nos últimos espaços que sobram no elevador dois músicos de Heliópolis. Muitos elogios e admiração. Aquela situação me marcou profundamente, em qualquer outra situação velhas endinheiradas em um elevador com dois garotos negros e pobres seria caracterizado como seqüestro ou assalto, além daqueles olhares de desdém e rejeição que deixando a hipocrisia de lado todos sabemos que acontece. Quem diria que veria nesta vida as velhas de Higienópolis e Jardins rasgando elogios aos favelados.
Resumidamente Acorda Brasil é uma verdadeira injeção de fé, nacionalismo e esperança. É uma peça que nos diz que é possível SIM mudar, é possível SIM melhorar este país apesar da completa apatia da maioria de seus cidadãos.
A outra peça teatral que conferi no fim de semana, Banquete da Vida, trata de um trecho bíblico adaptado para os dias atuais. Segundo a sinopse do meu amigo-ator: “É a história de uma comunidade em uma favela, que tem seus problemas com políticos e bandidos e um líder comunitário (uma alusão a Jesus) que tenta deixar as pessoas com a cabeça no lugar”.
Fui atraído mais pela atração do meu colega da faculdade e figurante do que pelo enredo, contudo a temática foi uma grata surpresa. Novamente a representação da pobreza, violência e o contra-peso da esperança. Ao longo da peça nos deparamos com algumas situações que nos levam á reflexão. A peça alterna ”opiniões” de um modo positivo-negativo, cara-coroa onde se por um lado podemos construir por outro podemos destruir. Passa por fama, poder e o preço a pagar. Consumismo, tráfico, corrupção e morte. Ainda assim fica o recado final positivo.
Se por um lado temos a esperança de um país melhor pelo qual podemos e devemos batalhar, por outro presenciei um evento enfadonho, bizarro, na semana que passou e que contarei resumidamente para não me alongar. Em uma das aulas o professor explicava a matéria enquanto os alunos conversavam o ignorando, até que uma pergunta do aluno provocou a indignação do professor, segundo o qual se sentiu “ofendido”. Inconformado o aluno começou a discutir durante a aula com o professor. Talvez sejam sinais de novos tempos onde alunos não respeitam e ridicularizam professores batendo boca no meio da aula em plena classe, mas no meu tempo e nas minhas convicções considero extrema falta de respeito e de educação. Para os que discordam achando que estou generalizando complemento que o restante da sala dava muita risada da situação, principalmente toda vez que o professor falava. Não coloco aqui uma experiência do jardim de infância, mas de uma aula na faculdade da chamada elite intelectual e financeira do país.
A falta de respeito e educação da elite (ou parte dela pra não ser injusto) justifica a desgraça dos atentados do PCC e da ridícula situação brasileira. As peças teatrais e as obras sociais representam a esperança do amanhã. Vamos acordar.
Ruy Hirano, 21, estudante de administração.
Coincidência ou não ambas as peças tinham muitas coisas em comum e acredito que talvez seja um retrato das mudanças pela qual passa a sociedade brasileira. Não pretendo contar maiores detalhes das peças teatrais para não estragar a surpresa daqueles que pretendem ir assistir, mas como é impossível ser imparcial e não fazer citações então recomendo ao leitor que vá assistir à(s) peça(s) e então volte a ler este texto para não estragar nenhum clímax. O que escrevo abaixo são detalhes que podem comprometer a satisfação com as peças.
A peça Acorda Brasil tem autoria de Antônio Ermírio de Moraes, terceiro texto do empresário, onde o tema é a educação. Vou utilizar a descrição que consta no guia do jornal:
“Um jovem violinista aspirante dá aulas em uma escola pobre da cidade e enfrenta a resistência de uma diretora desiludida, além da desconfiança de alguns alunos. A montagem conta com 18 adolescentes da comunidade de Heliópolis, bem como 65 músicos da Sinfônica Heliópolis”.
O elenco conta com um grande número de atores globais com muita experiência e talento, destaque que não passa em branco é a atuação de Arlete Salles. Não vou com freqüência ao teatro, acredito que menos de 4 vezes ao ano, mas esse foi sem dúvidas o que mais me emocionou, divertiu e me fez repensar na vida. Realidade e ficção se misturam no palco. A realidade brasileira retratada sem hipocrisia ou
(O que contarei neste parágrafo fará mais sentido para aqueles que assistiram à peça) Lá estava eu, único jovem com a mochila na costa e o velho moleton batido enquanto que a maioria do público é composta de casais de meia idade de situação financeira confortável e clube de velhinhas endinheiradas. Para ser sincero não me sentia muito à vontade, acredito que era o mais jovem naquele público, me sentia quase que no asilo dos meus avós, acreditando que o tema era educação esperava que pessoas de todas as idades fossem se interessar. Quando a peça tem inicio todos esses detalhes ficam de lado, todos riem e todos se emocionam juntos, independente de idade, classe, vestimentas ou sexo. Conto isso, pois a peça gira em torno da música e nela não importa quem toca, mas sim o talento do músico. Quando as pessoas estão em uma sinfônica ou uma banda tocar música é o que importa e não outras características. Atualmente muitos músicos da USP (jovens privilegiados no mínimo da classe média) disputam por uma vaga no Instituto Baccarelli localizado na favela de Heliópolis, acredito que isso mostra que podemos superar a barreira social que temos atualmente na sociedade. Finalizada a peça pego o elevador “coração de mãe”, sempre cabe mais um, espremido entre as velhas impressionadas como eu com a peça entram nos últimos espaços que sobram no elevador dois músicos de Heliópolis. Muitos elogios e admiração. Aquela situação me marcou profundamente, em qualquer outra situação velhas endinheiradas em um elevador com dois garotos negros e pobres seria caracterizado como seqüestro ou assalto, além daqueles olhares de desdém e rejeição que deixando a hipocrisia de lado todos sabemos que acontece. Quem diria que veria nesta vida as velhas de Higienópolis e Jardins rasgando elogios aos favelados.
Resumidamente Acorda Brasil é uma verdadeira injeção de fé, nacionalismo e esperança. É uma peça que nos diz que é possível SIM mudar, é possível SIM melhorar este país apesar da completa apatia da maioria de seus cidadãos.
A outra peça teatral que conferi no fim de semana, Banquete da Vida, trata de um trecho bíblico adaptado para os dias atuais. Segundo a sinopse do meu amigo-ator: “É a história de uma comunidade em uma favela, que tem seus problemas com políticos e bandidos e um líder comunitário (uma alusão a Jesus) que tenta deixar as pessoas com a cabeça no lugar”.
Fui atraído mais pela atração do meu colega da faculdade e figurante do que pelo enredo, contudo a temática foi uma grata surpresa. Novamente a representação da pobreza, violência e o contra-peso da esperança. Ao longo da peça nos deparamos com algumas situações que nos levam á reflexão. A peça alterna ”opiniões” de um modo positivo-negativo, cara-coroa onde se por um lado podemos construir por outro podemos destruir. Passa por fama, poder e o preço a pagar. Consumismo, tráfico, corrupção e morte. Ainda assim fica o recado final positivo.
Se por um lado temos a esperança de um país melhor pelo qual podemos e devemos batalhar, por outro presenciei um evento enfadonho, bizarro, na semana que passou e que contarei resumidamente para não me alongar. Em uma das aulas o professor explicava a matéria enquanto os alunos conversavam o ignorando, até que uma pergunta do aluno provocou a indignação do professor, segundo o qual se sentiu “ofendido”. Inconformado o aluno começou a discutir durante a aula com o professor. Talvez sejam sinais de novos tempos onde alunos não respeitam e ridicularizam professores batendo boca no meio da aula em plena classe, mas no meu tempo e nas minhas convicções considero extrema falta de respeito e de educação. Para os que discordam achando que estou generalizando complemento que o restante da sala dava muita risada da situação, principalmente toda vez que o professor falava. Não coloco aqui uma experiência do jardim de infância, mas de uma aula na faculdade da chamada elite intelectual e financeira do país.
A falta de respeito e educação da elite (ou parte dela pra não ser injusto) justifica a desgraça dos atentados do PCC e da ridícula situação brasileira. As peças teatrais e as obras sociais representam a esperança do amanhã. Vamos acordar.
Ruy Hirano, 21, estudante de administração.
CULTURA DO DESESPERO
LUIZ ALBERTO MENDES, 54, é autor de "Memórias de um Sobrevivente" e passou 31 anos preso
HÁ CERCA DE 25 anos, o sistema prisional do Estado de São Paulo estava bastante bem aparelhado. A sociedade se importava com o homem aprisionado. Prisão era terrível e o preso respeitado pela dureza de sua condição existencial.
A Penitenciária do Estado possuía um hospital que realizava até pequenas cirurgias. Os médicos eram os melhores possíveis: dr. Atílio, o oftalmologista, possuía consultório na região dos Jardins. Dr. Paulo Sérgio, ortopedista, era médico do São Paulo Futebol Clube. Havia o Senai, com cerca de 30 cursos cujos certificados eram respeitados em todo o país. O setor de educação, além de alfabetizar (e era obrigatório pelo menos o primário) propunha cursos de desenhos, inglês, escriturário, arquivista, outros cursos.
Na minha última passagem pela Penitenciária do Estado, há cinco anos, o hospital tornara-se local de trânsito para presos de outras prisões. O convênio com o Senai foi extinto em 1987, por conta de uma rebelião. As favelas, os cortiços aumentaram assustadoramente. São Paulo transformou-se numa megalópole. A pobreza foi multiplicada e transformou-se em miséria na proporção em que o desemprego e a população cresceram muito acima do previsto. Por conseqüência, a violência desenvolveu-se, a brutalidade progrediu.
Então, a população carcerária, essa ponta do iceberg, como queria Marx, começou a aumentar desproporcionalmente. As verbas para sustentar essa explosão demográfica prisional continuou a mesma. O sistema entrou em crise e começou a ser sucateado. A superpopulação das prisões chegou a absurdos que todos nós vimos nas reportagens de lá a esta parte. O colapso se estabeleceu e o preso foi abandonado nas mãos dos diretores e dos guardas de prisão. Estes, despreparados, implantaram a lei do cano de ferro (espancamento com cano de ferro), a política da cela forte e do isolamento em prisões cada vez mais duras. Violência em cima de violência.
O ser humano faz cultura onde estiver, é de sua natureza. Abandonado a si mesmo e vindo diretamente do ato criminoso, este homem preso só pode fazer a cultura do crime. Não conhece outra. A cultura da união para se defender da opressão. Está preso, mas continua humano, e lutar pela sobrevivência faz parte da condição humana. Nada diferente lhes foi oferecido. Foi enterrado vivo, em pé e abandonado.
A sociedade fez como quem joga uma bomba para cima e espera que ela crie asas e saia voando para o infinito. Enquanto o preso estava atrás das muralhas de grades, pouco lhes importa a condição. Se comprimido, oprimido, espancado, ou estupidificado, não era interessante saber. Importava mantê-lo distante da possibilidade de atacar, ou seja, atrás das grades.Mas veja: surpresa! A bomba não voa. Começa a cair e detonar toda a nitroglicerina acumulada em décadas de abandono. O abandono, o isolamento social e físico, geraram tudo isso que se vê nestes dias de terror em São Paulo. Somos todos responsáveis por tudo o que está acontecendo.
Este não é um problema somente de Estado ou de polícia, é de toda a sociedade a se repensar e tomar atitudes menos demagógicas e absurdas. Por exemplo: a maioria das pessoas pensa que ao sair da prisão (como nos enlatados americanos), o egresso recebe um lugar para dormir, trabalho e ainda o mantêm sob vigilância. Isso não existe. No máximo, recebe um bilhete para São Paulo e um pé na bunda: se vira!
Se não tiver família, amigos, retornará à prisão (o índice de reincidência é 65%) ou vira mendigo, esta gente apagada socialmente nas praças da cidade. Muitos dos que habitam os albergues noturnos são ex-presidiários que não conseguiram a reintegração social.
Existe os que não sabem, e a esses é possível esclarecer. Mas o pior são os que não querem saber, terão de ser esclarecidos.
domingo, maio 14, 2006
O ASTRONAUTA E O BRASIL
Algumas semanas atrás o astronauta Marcos César Pontes entrou para a história do Brasil como o primeiro brasileiro a ir para o espaço. Depois de anos de treinamento em Houston nos Estados Unidos, o brasileiro esperava em uma fila na qual provavelmente nunca iria para o espaço embora a participação do Brasil na Estação Espacial Internacional permita realizar experimentos e até mesmo enviar um astronauta. Pagando 10 milhões de dólares aos russos o governo brasileiro “furou” a fila e conseguiu enviar seu astronauta.
Desde criança tenho uma atração pelo espaço, talvez seja aquele sonho de infância de querer ser astronauta, poder ficar flutuando na ausência da gravidade. Sendo assim acompanho na medida do possível as notícias relacionadas ao tema, alguns detalhes do programa espacial norte americano que é o mais desenvolvido e aberto para as pessoas. Minha visão sobre a ida do brasileiro para o espaço é de total apoio, não somente pelo feito na área espacial brasileira, mas por toda a história envolvida.
Marcos Cesar Pontes natural de Bauru (interior de São Paulo) começou como aprendiz de eletricista por um curso no Senai. Sempre estudou em escola pública. Nas visitas ao Aeroclube de Bauru e à AFA (Academia da Força Aérea), onde o tio fazia manutenção de aeronaves, pegou gosto pela aviação. Acabou se formando em engenharia pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Em 1996 se inscreveu no processo de seleção para astronauta e foi escolhido. Mudou para Houston onde treinou no Centro Espacial Johnson até 2000 quando foi declarado apto para vôo espacial, mas enquanto seus colegas de turma eram escalados para vôos espaciais Marcos Ponte aguardava na fila. Fatores burocráticos começaram a surgir. O governo brasileiro se indispôs a pagar sua parte na construção da Estação Espacial Internacional orçado em pouco menos de 200 milhões de dólares. Para piorar, em 1º de fevereiro de 2003, o ônibus espacial americano Columbia explodiu no retorno à Terra, matando sete astronautas. Assim o programa espacial norte americano com os ônibus espaciais foi paralisado bem como a fila para o astronauta brasileiro. Todas inclusive Pontes achavam que o Brasil teria o astronauta que não voou.
Enquanto Marcos Pontes estava no espaço nada demais ocorria por aqui. Mensalistas sendo absolvidos, deputada Angela Guadagnin dançando no plenário, orçamento de 2006 não aprovado em pleno mês de abril, presidente Lula viajando na maionese. Tudo dentro da normalidade. Adotei a tese de que o Brasil parou no tempo. Alguns aspectos são os mesmos desde que Cabral chegou aqui. Vide desigualdade, saúde e educação. Na conversa com Marcos Pontes direto da Estação Espacial Internacional o presidente Lula fazia mais um de seus discursos onde nem mesmo ele sabe do que se trata, enquanto isso o vice Alencar, sentado ao seu lado, parecia estar em outra dimensão ou perdido no espaço de tanto tédio que suas expressões demonstravam.
Logo após o pouso em terra firme de volta da grande viajem Marcos Pontes declarou: “Com persistência se chega aonde se quer”. Muitas entrevistas, fotos com o presidente, passeata com caminhão dos bombeiros, mas nem chega perto de uma comemoração futebolística.
Na minha visão a ida do astronauta Marcos Pontes ao espaço foi uma oportunidade única de exaltação da vitória e do sucesso com trabalho e dedicação. Em tempos de mensalão, imunidade parlamentar e empresários inescrupulosos que conseguem fazer suas esposas gastarem uma montanha de dinheiro em lingeries na daslu, Marcos Pontes mostra que todos podem independente de suas limitações realizar os sonhos de vida, não precisando se beneficiar dos “Valério-dutos” da vida.
Infelizmente para muitos Marcos Pontes foi passear no espaço em benefício próprio com o dinheiro do contribuinte. Para alguns membros da comunidade científica o dinheiro seria melhor empregado de outras maneiras como o financiamento de bolsas de estudos para pós-graduação de cientistas. Sem dúvida que investir na especialização e estudos como o financiamento de mestrado e doutorado no exterior é um bom investimento para o desenvolvimento do Brasil, contudo “estranhamente” muitos desses cientistas e bolsistas financiados que vão estudar no exterior acabam não voltando. Só para dar uma amostra recentemente um jornal fez uma pesquisa dos cientistas brasileiros mais promissores, isto é, menos de 35 anos de idade e reconhecidos internacionalmente. Dos cinco citados três estão nos Estados Unidos, um trabalha na Cia. Vale do Rio Doce, mas prestou serviços para a Nasa e o outro está ligado à USP. O financiamento à pós representa em si no Brasil financiar um privilegiado. Partindo para a hipocrisia então deveríamos empregar os 10 milhões de dólares para erradicar o analfabetismo neste país.
É possível discutir infinitamente se o dinheiro dispendido foi bem gasto ou não. Mas acho indiscutível que Marcos Pontes cumpriu com seu papel, exaltando o nacionalismo e o sucesso em um país tão carente de bons exemplos. Basta ligar a televisão ou abrir os jornais para descobrirmos. Quantos ministros caíram por meras denúncias? Quantos deputados acusados? Quantos empresários envolvidos em esquemas ilícitos? Se Pontes conseguiu atingir a milhões de crianças e mesmo que somente uma entre elas se transformar em um “Bill Gates” oferecendo milhares de empregos de elevado valor já não terá valido a pena? E se desses milhões mais da metade crescerem sabendo que podem ir longe, podem sonhar? Que podem mudar o bairro, a cidade, o país?
Não acredito que dez milhões podem transformar um país, mas se não pensarmos no futuro estaremos eternamente perpetuando o status quo que se mostra falido, mesmo que para isso seja preciso enviar um brasileiro para o espaço a cada 506 anos.
Desde criança tenho uma atração pelo espaço, talvez seja aquele sonho de infância de querer ser astronauta, poder ficar flutuando na ausência da gravidade. Sendo assim acompanho na medida do possível as notícias relacionadas ao tema, alguns detalhes do programa espacial norte americano que é o mais desenvolvido e aberto para as pessoas. Minha visão sobre a ida do brasileiro para o espaço é de total apoio, não somente pelo feito na área espacial brasileira, mas por toda a história envolvida.
Marcos Cesar Pontes natural de Bauru (interior de São Paulo) começou como aprendiz de eletricista por um curso no Senai. Sempre estudou em escola pública. Nas visitas ao Aeroclube de Bauru e à AFA (Academia da Força Aérea), onde o tio fazia manutenção de aeronaves, pegou gosto pela aviação. Acabou se formando em engenharia pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Em 1996 se inscreveu no processo de seleção para astronauta e foi escolhido. Mudou para Houston onde treinou no Centro Espacial Johnson até 2000 quando foi declarado apto para vôo espacial, mas enquanto seus colegas de turma eram escalados para vôos espaciais Marcos Ponte aguardava na fila. Fatores burocráticos começaram a surgir. O governo brasileiro se indispôs a pagar sua parte na construção da Estação Espacial Internacional orçado em pouco menos de 200 milhões de dólares. Para piorar, em 1º de fevereiro de 2003, o ônibus espacial americano Columbia explodiu no retorno à Terra, matando sete astronautas. Assim o programa espacial norte americano com os ônibus espaciais foi paralisado bem como a fila para o astronauta brasileiro. Todas inclusive Pontes achavam que o Brasil teria o astronauta que não voou.
Enquanto Marcos Pontes estava no espaço nada demais ocorria por aqui. Mensalistas sendo absolvidos, deputada Angela Guadagnin dançando no plenário, orçamento de 2006 não aprovado em pleno mês de abril, presidente Lula viajando na maionese. Tudo dentro da normalidade. Adotei a tese de que o Brasil parou no tempo. Alguns aspectos são os mesmos desde que Cabral chegou aqui. Vide desigualdade, saúde e educação. Na conversa com Marcos Pontes direto da Estação Espacial Internacional o presidente Lula fazia mais um de seus discursos onde nem mesmo ele sabe do que se trata, enquanto isso o vice Alencar, sentado ao seu lado, parecia estar em outra dimensão ou perdido no espaço de tanto tédio que suas expressões demonstravam.
Logo após o pouso em terra firme de volta da grande viajem Marcos Pontes declarou: “Com persistência se chega aonde se quer”. Muitas entrevistas, fotos com o presidente, passeata com caminhão dos bombeiros, mas nem chega perto de uma comemoração futebolística.
Na minha visão a ida do astronauta Marcos Pontes ao espaço foi uma oportunidade única de exaltação da vitória e do sucesso com trabalho e dedicação. Em tempos de mensalão, imunidade parlamentar e empresários inescrupulosos que conseguem fazer suas esposas gastarem uma montanha de dinheiro em lingeries na daslu, Marcos Pontes mostra que todos podem independente de suas limitações realizar os sonhos de vida, não precisando se beneficiar dos “Valério-dutos” da vida.
Infelizmente para muitos Marcos Pontes foi passear no espaço em benefício próprio com o dinheiro do contribuinte. Para alguns membros da comunidade científica o dinheiro seria melhor empregado de outras maneiras como o financiamento de bolsas de estudos para pós-graduação de cientistas. Sem dúvida que investir na especialização e estudos como o financiamento de mestrado e doutorado no exterior é um bom investimento para o desenvolvimento do Brasil, contudo “estranhamente” muitos desses cientistas e bolsistas financiados que vão estudar no exterior acabam não voltando. Só para dar uma amostra recentemente um jornal fez uma pesquisa dos cientistas brasileiros mais promissores, isto é, menos de 35 anos de idade e reconhecidos internacionalmente. Dos cinco citados três estão nos Estados Unidos, um trabalha na Cia. Vale do Rio Doce, mas prestou serviços para a Nasa e o outro está ligado à USP. O financiamento à pós representa em si no Brasil financiar um privilegiado. Partindo para a hipocrisia então deveríamos empregar os 10 milhões de dólares para erradicar o analfabetismo neste país.
É possível discutir infinitamente se o dinheiro dispendido foi bem gasto ou não. Mas acho indiscutível que Marcos Pontes cumpriu com seu papel, exaltando o nacionalismo e o sucesso em um país tão carente de bons exemplos. Basta ligar a televisão ou abrir os jornais para descobrirmos. Quantos ministros caíram por meras denúncias? Quantos deputados acusados? Quantos empresários envolvidos em esquemas ilícitos? Se Pontes conseguiu atingir a milhões de crianças e mesmo que somente uma entre elas se transformar em um “Bill Gates” oferecendo milhares de empregos de elevado valor já não terá valido a pena? E se desses milhões mais da metade crescerem sabendo que podem ir longe, podem sonhar? Que podem mudar o bairro, a cidade, o país?
Não acredito que dez milhões podem transformar um país, mas se não pensarmos no futuro estaremos eternamente perpetuando o status quo que se mostra falido, mesmo que para isso seja preciso enviar um brasileiro para o espaço a cada 506 anos.
Ruy Hirano, 21, estudante de administração.
segunda-feira, maio 08, 2006
POR QUE A MOROSIDADE NO DESENVOLVIMENTO DA ENERGIA HÍDRICA?
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Por que a morosidade no desenvolvimento da energia hídrica?
A crise do gás revelou uma triste realidade: o Brasil tornou-se refém da Bolívia. Com todo o respeito que essa nação merece, não tem cabimento o Brasil, com 188 milhões de habitantes e US$ 600 bilhões de PIB -e um país tão rico em energéticos- ficar dependente da Bolívia, que tem 9 milhões de habitantes e US$ 10 bilhões de PIB.
Tenho acompanhado o noticiário sobre essa crise e senti falta de análises que destaquem a imensa potencialidade do Brasil na área da hidroeletricidade. Poucas nações desfrutam do que possuímos. Temos quase 20% da água do mundo. É uma quantidade colossal.
Ademais, a geração de energia por meio de hidroelétricas tem externalidades preciosíssimas. Nos reservatórios, podem-se criar peixes em grande profusão. Depois de passada pelas turbinas, a água pode ser utilizada para irrigar grandes áreas de produção agrícola. Em todo o processo, essa água produz energia sem poluir e sem causar danos ao ambiente. Ao contrário, a fauna e a flora das regiões das usinas podem ser reconstruídas e melhoradas depois de eventuais desequilíbrios momentâneos causados pela construção do projeto.
O que não se justifica é a generalização improcedente alegada por certos "experts" do meio ambiente segundo a qual a exploração do nosso potencial hidroenergético é sinônimo de devastação da natureza. Com isso, dezenas de grandes projetos continuam na gaveta enquanto nos ajoelhamos aos pés da Bolívia para conseguir um aumento de preço tolerável do gás natural.
E sabe-se lá o que vai acontecer daqui para a frente. Os governantes bolivianos já falam em uma estonteante elevação de preço da ordem de 45%, passando dos atuais R$ 5,50 para R$ 8 o milhar de metro cúbico. É uma majoração insustentável para os consumidores individuais e para as indústrias, lembrando-se que muitas delas, há pouco tempo, foram levadas a converter seus equipamentos para usar o gás. Há setores que têm toda a produção atrelada a esse combustível, e a reconversão dos equipamentos para o óleo combustível ou para outro energético implica despesas intoleráveis para continuar competindo.
Que o ocorrido sirva de lição. Exploremos primeiro o que é nosso antes de buscar o que é dos outros. Confiemos em nossas instituições antes de assinar contratos com governos populistas, que, aos poucos, tomam conta da América Latina. Usemos o nosso bom senso antes de entrar em aventuras perigosas.
Populismo é a prática de manipular as emoções e conquistar o voto imediato dos eleitores. Desenvolvimento é o exercício equilibrado de estratégias voltadas para o futuro. São coisas muito diferentes.
Das lições da crise, só podemos apelar para que se use o bom senso, afastando os impulsos ideológicos e eleitoreiros que asseguram vitórias instantâneas e condenam as gerações do futuro.
Por que a morosidade no desenvolvimento da energia hídrica?
A crise do gás revelou uma triste realidade: o Brasil tornou-se refém da Bolívia. Com todo o respeito que essa nação merece, não tem cabimento o Brasil, com 188 milhões de habitantes e US$ 600 bilhões de PIB -e um país tão rico em energéticos- ficar dependente da Bolívia, que tem 9 milhões de habitantes e US$ 10 bilhões de PIB.
Tenho acompanhado o noticiário sobre essa crise e senti falta de análises que destaquem a imensa potencialidade do Brasil na área da hidroeletricidade. Poucas nações desfrutam do que possuímos. Temos quase 20% da água do mundo. É uma quantidade colossal.
Ademais, a geração de energia por meio de hidroelétricas tem externalidades preciosíssimas. Nos reservatórios, podem-se criar peixes em grande profusão. Depois de passada pelas turbinas, a água pode ser utilizada para irrigar grandes áreas de produção agrícola. Em todo o processo, essa água produz energia sem poluir e sem causar danos ao ambiente. Ao contrário, a fauna e a flora das regiões das usinas podem ser reconstruídas e melhoradas depois de eventuais desequilíbrios momentâneos causados pela construção do projeto.
O que não se justifica é a generalização improcedente alegada por certos "experts" do meio ambiente segundo a qual a exploração do nosso potencial hidroenergético é sinônimo de devastação da natureza. Com isso, dezenas de grandes projetos continuam na gaveta enquanto nos ajoelhamos aos pés da Bolívia para conseguir um aumento de preço tolerável do gás natural.
E sabe-se lá o que vai acontecer daqui para a frente. Os governantes bolivianos já falam em uma estonteante elevação de preço da ordem de 45%, passando dos atuais R$ 5,50 para R$ 8 o milhar de metro cúbico. É uma majoração insustentável para os consumidores individuais e para as indústrias, lembrando-se que muitas delas, há pouco tempo, foram levadas a converter seus equipamentos para usar o gás. Há setores que têm toda a produção atrelada a esse combustível, e a reconversão dos equipamentos para o óleo combustível ou para outro energético implica despesas intoleráveis para continuar competindo.
Que o ocorrido sirva de lição. Exploremos primeiro o que é nosso antes de buscar o que é dos outros. Confiemos em nossas instituições antes de assinar contratos com governos populistas, que, aos poucos, tomam conta da América Latina. Usemos o nosso bom senso antes de entrar em aventuras perigosas.
Populismo é a prática de manipular as emoções e conquistar o voto imediato dos eleitores. Desenvolvimento é o exercício equilibrado de estratégias voltadas para o futuro. São coisas muito diferentes.
Das lições da crise, só podemos apelar para que se use o bom senso, afastando os impulsos ideológicos e eleitoreiros que asseguram vitórias instantâneas e condenam as gerações do futuro.
DIALÉTICA DA NATUREZA
Preconceitos cercam a "árvore de direita"
RICARDO BONALUME NETO
Os coalas ficariam indignados se soubessem o que a esquerda brasileira está falando do eucalipto, cujas folhas são sua principal fonte de alimentação. Os simpáticos bichinhos peludos australianos talvez até fundassem uma organização não-governamental para gritar estridentemente suas opiniões. Talvez optassem pelo vandalismo, como certas ONGs.
Acreditem, coalas: a bela e altaneira árvore nativa da Austrália foi tachada de "árvore de direita", e suas florestas no Brasil foram apodadas de "desertos verdes". Essa curiosa visão do universo arbóreo foi a justificativa para que mulheres alucinadas da ONG Via Campesina vandalizassem em março instalações da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro (RS).
"Somos contra os desertos verdes, as enormes plantações de eucalipto, acácia e pinus para celulose, que cobrem milhares de hectares no Brasil e na América Latina. Onde o deserto verde avança, a biodiversidade é destruída, os solos se deterioram, os rios secam, sem contar a enorme poluição gerada pelas fábricas de celulose que contaminam o ar, as águas e ameaçam a saúde humana", diz o manifesto das senhoras.
Até que ponto elas têm razão -e essa árvore, que se acredita ter sido primeiro introduzida no Brasil em 1868, é de fato um grotesco símbolo do "neoliberalismo", o nome novo que a esquerda dá ao velho capitalismo?
O eucalipto, que foi por um tempo vilão ambiental dos verdes menos esclarecidos, estaria voltando a ser malvado e adentrando o panteão maldito da esquerda, onde estão Coca-Cola, Big Mac e soja transgênica?
"Deserto verde é duplamente errado. Deserto é onde não chove. Se é verde, não pode ser deserto", diz, com a paciência típica dos cientistas que vivem às voltas com mitos, o pesquisador Walter de Paula Lima, um dos maiores conhecedores do eucalipto na comunidade científica brasileira.
Ele começou a estudar essa árvore já em 1972, quando começou sua carreira acadêmica como auxiliar de ensino no então Departamento de Silvicultura da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo), em Piracicaba -a mais prestigiosa escola brasileira de agronomia.
Walter Lima é especialista em hidrologia florestal, o uso de água pelas florestas. Um mito acalentado pelos verdes e agora pelos vermelhos pouco esclarecidos é a voracidade do eucalipto por água, cujas plantações seriam capazes de secar rios, lagos, mananciais.
Havia quem dizia que uma árvore de eucalipto usava 360 litros de água por dia. Um absurdo, que foi depois modificado para 30 litros na propaganda antieucalipto. O valor real máximo é 15 litros, diz o professor da Esalq; e só em certas épocas do crescimento, e certas épocas do ano, e para árvores plantadas no padrão tradicional de reflorestamento, uma para cada seis metros quadrados.
Há árvores nativas brasileiras com consumo parecido, dependendo também das circunstâncias. O cientista acha estranho criticarem o eucalipto por afetar a biodiversidade. Qualquer plantação agrícola -de soja ou de café de um latifundiário do agrobusiness, um roçadinho de feijão ou mandioca de agricultura de subsistência- é um ataque à variedade natural de espécies vegetais que existiam no terreno.
A única alternativa a isso seria banir a agricultura da face da Terra -mas, para isso, a população do planeta teria de diminuir de 6 bilhões para no máximo uns 50 ou 100 milhões, se tanto, catando frutinhas no mato "biodiverso".
Mas, dizem os nacionalistas silvícolas, por que não usar árvores nativas em vez do neoliberal eucalipto? Charles Darwin e sua teoria da evolução explicam.
As plantas , árvores e arbustos brasileiros nativos coevoluíram com suas pragas, faz milhões de anos. Criar uma floresta só de embaúba, uma bela árvore de crescimento rápido, seria criar um belo repasto para as pragas locais -a não ser que fossem neoliberalmente enxarcadas de inseticidas.
O eucalipto, ao ser transplantado para cá, poderia ter virado fast food das pragas ou ser imune a elas. Ganhou a segunda opção. A árvore se deu bem, cresce rápido e virou estrela de exportação.
Mais irônico ainda: os tais "eucalipto, acácia e pinus para celulose" criticados pelas neovândalas cumprem seu papel de preservar as matas nativas de virarem papel. Quem vai querer transformar a mata atlântica em papel, se é muito melhor fazer isso com essas árvores de crescimento rápido?
RICARDO BONALUME NETO
Os coalas ficariam indignados se soubessem o que a esquerda brasileira está falando do eucalipto, cujas folhas são sua principal fonte de alimentação. Os simpáticos bichinhos peludos australianos talvez até fundassem uma organização não-governamental para gritar estridentemente suas opiniões. Talvez optassem pelo vandalismo, como certas ONGs.
Acreditem, coalas: a bela e altaneira árvore nativa da Austrália foi tachada de "árvore de direita", e suas florestas no Brasil foram apodadas de "desertos verdes". Essa curiosa visão do universo arbóreo foi a justificativa para que mulheres alucinadas da ONG Via Campesina vandalizassem em março instalações da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro (RS).
"Somos contra os desertos verdes, as enormes plantações de eucalipto, acácia e pinus para celulose, que cobrem milhares de hectares no Brasil e na América Latina. Onde o deserto verde avança, a biodiversidade é destruída, os solos se deterioram, os rios secam, sem contar a enorme poluição gerada pelas fábricas de celulose que contaminam o ar, as águas e ameaçam a saúde humana", diz o manifesto das senhoras.
Até que ponto elas têm razão -e essa árvore, que se acredita ter sido primeiro introduzida no Brasil em 1868, é de fato um grotesco símbolo do "neoliberalismo", o nome novo que a esquerda dá ao velho capitalismo?
O eucalipto, que foi por um tempo vilão ambiental dos verdes menos esclarecidos, estaria voltando a ser malvado e adentrando o panteão maldito da esquerda, onde estão Coca-Cola, Big Mac e soja transgênica?
"Deserto verde é duplamente errado. Deserto é onde não chove. Se é verde, não pode ser deserto", diz, com a paciência típica dos cientistas que vivem às voltas com mitos, o pesquisador Walter de Paula Lima, um dos maiores conhecedores do eucalipto na comunidade científica brasileira.
Ele começou a estudar essa árvore já em 1972, quando começou sua carreira acadêmica como auxiliar de ensino no então Departamento de Silvicultura da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo), em Piracicaba -a mais prestigiosa escola brasileira de agronomia.
Walter Lima é especialista em hidrologia florestal, o uso de água pelas florestas. Um mito acalentado pelos verdes e agora pelos vermelhos pouco esclarecidos é a voracidade do eucalipto por água, cujas plantações seriam capazes de secar rios, lagos, mananciais.
Havia quem dizia que uma árvore de eucalipto usava 360 litros de água por dia. Um absurdo, que foi depois modificado para 30 litros na propaganda antieucalipto. O valor real máximo é 15 litros, diz o professor da Esalq; e só em certas épocas do crescimento, e certas épocas do ano, e para árvores plantadas no padrão tradicional de reflorestamento, uma para cada seis metros quadrados.
Há árvores nativas brasileiras com consumo parecido, dependendo também das circunstâncias. O cientista acha estranho criticarem o eucalipto por afetar a biodiversidade. Qualquer plantação agrícola -de soja ou de café de um latifundiário do agrobusiness, um roçadinho de feijão ou mandioca de agricultura de subsistência- é um ataque à variedade natural de espécies vegetais que existiam no terreno.
A única alternativa a isso seria banir a agricultura da face da Terra -mas, para isso, a população do planeta teria de diminuir de 6 bilhões para no máximo uns 50 ou 100 milhões, se tanto, catando frutinhas no mato "biodiverso".
Mas, dizem os nacionalistas silvícolas, por que não usar árvores nativas em vez do neoliberal eucalipto? Charles Darwin e sua teoria da evolução explicam.
As plantas , árvores e arbustos brasileiros nativos coevoluíram com suas pragas, faz milhões de anos. Criar uma floresta só de embaúba, uma bela árvore de crescimento rápido, seria criar um belo repasto para as pragas locais -a não ser que fossem neoliberalmente enxarcadas de inseticidas.
O eucalipto, ao ser transplantado para cá, poderia ter virado fast food das pragas ou ser imune a elas. Ganhou a segunda opção. A árvore se deu bem, cresce rápido e virou estrela de exportação.
Mais irônico ainda: os tais "eucalipto, acácia e pinus para celulose" criticados pelas neovândalas cumprem seu papel de preservar as matas nativas de virarem papel. Quem vai querer transformar a mata atlântica em papel, se é muito melhor fazer isso com essas árvores de crescimento rápido?
terça-feira, março 21, 2006
RITUAL DOS BESTAS-FERAS
Recomeço das aulas nas faculdades e universidades e todo ano é a mesma coisa, pessoas carecas, os bichos e bichetes fazendo “pedágio” nos semáforos nas esquinas da cidade pedindo “uns trocado” para depois os veteranos utilizarem como cerveja.
Em pleno ano de 2006, século 21, tempos de modernidades temos neste país medieval esse ritual de "iniciação". O ritual daqueles que consideramos os mais capacitados, as pessoas com mais conhecimento na sociedade. É de certa forma um ritual dos mais privilegiados, dado que alguns indicadores revelam que 50% da população é analfabeta funcional neste país tupiniquim.
Tal rito é conhecido de todos: o trote.
Incrivelmente eu passei algumas horas tentando encontrar alguma finalidade pra tal evento, mas não consegui encontrar. Em um jornal recente foi publicado uma foto de um estudante sujo de tinta e lama, com uma melancia na cabeça, dançando sobre uma garrafa. Outra estudante declarou: "Eles jogaram ovos e tintas. Estou me sentindo suja, mas feliz como nunca".
No bom filme “uma amizade sem fronteiras” com o ator Omar Sharif, há o destaque sutil de que o lixo é um indicador se o país é desenvolvido ou não. Se tiver lixeiras limpas e pouca sujeira é porque o país é rico e organizado, poucas lixeiras e muita sujeira é sinal de que o país é subdesenvolvido.
Bem como no filme de Omar Sharif acredito que é possivel analisar o sistema educacional, no caso a falencia do sistema educacional brasileiro. Quando uma pessoa obriga e a outra se sujeita ao ridículo de se sujar, pendurar coisas na cabeça e ainda ficar feliz com isso algo não anda bem. Pelo menos nunca vi um país avançado e moderno com tamanho nível de civilidade. Onde está a educação nisso tudo? Índios que nunca freqüentaram uma aula de maternal ou jardim de infância são capazes de apresentar um nível educacional de respeito muito maior.
A inspiração para escrever este texto foi um artigo do jornalista Vinicius Torres Freire, o qual me sinto na obrigação de publicar integralmente, pois expressa perfeitamente nos mínimos detalhes muitos dos meus sentimentos em relação a este assunto:
“O Ritual brasileiro do trote
SÃO PAULO - Estamos na época dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo tão brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalização da Justiça nas CPIs.
O trote é medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, é um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade autoritária, violenta e de privilégio. Submissão e humilhação são a essência do rito, mas expressivas mesmo são suas formas: o calouro é muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhação também faz parte da iniciação universitária americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivência de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistérios em sua sociedade ideologicamente igualitária e laica. De início, como em muito ritual, o jovem é descaracterizado e marcado fisicamente. É sujo de tinta, de lama, até de porcarias excrementícias; raspam sua cabeça. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichação do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitário (são poucos e têm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violência.Na mímica da humilhação dos servos, o jovem é colocado em fila, amarrado ou de mãos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polícia faz com favelados. É jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafetão. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritário ao encenar sua raiva e descarregá-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz.
Como universidade até outro dia era privilégio oligárquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitário do assalto a restaurantes ("pindura"), rito de iniciação pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns.
De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ninguém é punido. Os oligarcas velhos relevam: "acidente".Não, não: é tudo de propósito.”
Quando da morte da estudante, branca, loira e rica, Liana Friedenbach de 16 anos junto do namorado Felipe Silva Caffé de 19 anos em novembro de 2003 pelo “monstro” Xampinha de 16 anos, foi feita uma pesquisa onde 84% dos entrevistados defendiam a redução da maioridade penal. A idade ideal seria 15 anos e 62% defendiam que a redução deveria valer para todos os crimes. A repercussão do crime gerou até uma cogitação popular para a condenação de pena de morte, ou a legalização da pena de morte ou de penas mais severas.
Pois bem, 23 de fevereiro de 1999 morre Edison Tsung Chi Hsueh aos 22 anos na piscina da Faculdade de Medicina da USP, a história todos conhecem, aqueles que participaram do trote sabem certamente quem matou, fato é que no final da história o processo foi arquivado “por falta de justa causa”. Para os advogados da defesa “o que se entendeu é que não foi um homicídio, mas um acidente”. Quem sublinhou o acidente foi eu mesmo, o autor. Acidente repito, acidente. Imaginem calouros fazendo “pedágios” pelos semáforos da cidade quando um bandido armado acidentalmente dispara sua arma, até sem intenção, mas mata uma garota branca e loira, ou um rapaz de uma “tradicional” família como alguns dizem. Prefiro nem comentar, basta olhar a história.
Voltando para o caso do chinês-calouro afogado eis um depoimento da mãe do rapaz em um jornal recentemente: “Depois do que aconteceu, ficamos alguns anos doentes, forçando o coração para esquecer. Meu marido ficou quase um ano sem ter vontade nem de comer. O consolo depois que meu filho morreu é a esperança de que isso não aconteça de novo. Quando os estudantes entram na faculdade, o aluno antigo deve ir almoçar, passar filmes, ensinar o caminho para o novato.”
Esta é a esperança da mãe do estudante vítima de um trote, mas a realidade como sempre tende a ser mais cruel. Notícia recente: “O calouro de administração de empresas Tiago Rosa Careta, 21, teve a cabeça e o pescoço queimados por um produto químico lançado sobre ele no primeiro dia de aula da universidade, que é a maior particular da região de Franca. O produto foi jogado na cabeça do calouro e queimou o cabelo, o couro cabeludo e parte do pescoço, além de manchar alguns dedos. A mãe do calouro, a funcionária pública Maria Luiza Careta, 41, disse estar "horrorizada": "Poderiam ter cegado ele.”“.
Obviamente não são todos os trotes que acabam em tragédia, contudo todos os trotes incluem repressão, violência e agressão ainda que não física. Alguns alegam que o trote é um grande evento de integração e confraternização, mas não é parte da cultura brasileira as confraternizações familiares, empresariais e entre amigos serem realizadas com ovadas, gritos e muita estupidez. Pelo menos quando eu vou comemorar algo com alguém, isso não ocorre como se estivéssemos no tempo medieval.
Eu pessoalmente não consigo entender ou encontrar uma lógica para tanta burrice, ainda que eu me considero uma das únicas vozes contra o trote dentre as pessoas que conheço. A vida é banalizada e vale cada vez menos. As pessoas freqüentam mais de 10 anos nas “melhores” escolas e não conseguem aprender o que deveria ser a lição mais básica, que é o respeito ao ser humano. Existem coisas como o trote e a relação entre os estudantes de nível universitário que definitivamente, pelo menos para mim, demonstram se um país é ou não desenvolvido. Não adianta o país mudar a política monetária, ser mais ou menos ortodoxo, reduzir ou aumentar a taxa selic.
Independente da política econômica que rege o país e que tende a ser um dos principais temas da eleição deste ano como poderemos ser desenvolvidos reproduzindo atos estúpidos e “bestas-feras” como descritos acima? Atos irresponsáveis justamente daqueles mais educados de uma nação de analfabetos. Aqueles que deveriam dar o exemplo e liderar o país ao desenvolvimento se divertem com tamanha estupidez de um modo irreproduzível por nenhum asno no mundo.
No Brasil tem coisas que funcionam na base do “acidente”, “acontece, fazer o quê?”. Na coluna do jornalista Clóvis Rossi, apresentada no dia 21 de fevereiro, com o título de “A animalização do país”, talvez traga respostas (ou mais dúvidas) para o absurdo do trote. Disponibilizei o texto no blog (http://ruyhirano.blogspot.com).
Ruy Hirano, 20, estudante de administração.
Em pleno ano de 2006, século 21, tempos de modernidades temos neste país medieval esse ritual de "iniciação". O ritual daqueles que consideramos os mais capacitados, as pessoas com mais conhecimento na sociedade. É de certa forma um ritual dos mais privilegiados, dado que alguns indicadores revelam que 50% da população é analfabeta funcional neste país tupiniquim.
Tal rito é conhecido de todos: o trote.
Incrivelmente eu passei algumas horas tentando encontrar alguma finalidade pra tal evento, mas não consegui encontrar. Em um jornal recente foi publicado uma foto de um estudante sujo de tinta e lama, com uma melancia na cabeça, dançando sobre uma garrafa. Outra estudante declarou: "Eles jogaram ovos e tintas. Estou me sentindo suja, mas feliz como nunca".
No bom filme “uma amizade sem fronteiras” com o ator Omar Sharif, há o destaque sutil de que o lixo é um indicador se o país é desenvolvido ou não. Se tiver lixeiras limpas e pouca sujeira é porque o país é rico e organizado, poucas lixeiras e muita sujeira é sinal de que o país é subdesenvolvido.
Bem como no filme de Omar Sharif acredito que é possivel analisar o sistema educacional, no caso a falencia do sistema educacional brasileiro. Quando uma pessoa obriga e a outra se sujeita ao ridículo de se sujar, pendurar coisas na cabeça e ainda ficar feliz com isso algo não anda bem. Pelo menos nunca vi um país avançado e moderno com tamanho nível de civilidade. Onde está a educação nisso tudo? Índios que nunca freqüentaram uma aula de maternal ou jardim de infância são capazes de apresentar um nível educacional de respeito muito maior.
A inspiração para escrever este texto foi um artigo do jornalista Vinicius Torres Freire, o qual me sinto na obrigação de publicar integralmente, pois expressa perfeitamente nos mínimos detalhes muitos dos meus sentimentos em relação a este assunto:
“O Ritual brasileiro do trote
SÃO PAULO - Estamos na época dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo tão brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalização da Justiça nas CPIs.
O trote é medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, é um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade autoritária, violenta e de privilégio. Submissão e humilhação são a essência do rito, mas expressivas mesmo são suas formas: o calouro é muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhação também faz parte da iniciação universitária americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivência de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistérios em sua sociedade ideologicamente igualitária e laica. De início, como em muito ritual, o jovem é descaracterizado e marcado fisicamente. É sujo de tinta, de lama, até de porcarias excrementícias; raspam sua cabeça. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichação do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitário (são poucos e têm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violência.Na mímica da humilhação dos servos, o jovem é colocado em fila, amarrado ou de mãos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polícia faz com favelados. É jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafetão. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritário ao encenar sua raiva e descarregá-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz.
Como universidade até outro dia era privilégio oligárquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitário do assalto a restaurantes ("pindura"), rito de iniciação pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns.
De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ninguém é punido. Os oligarcas velhos relevam: "acidente".Não, não: é tudo de propósito.”
Quando da morte da estudante, branca, loira e rica, Liana Friedenbach de 16 anos junto do namorado Felipe Silva Caffé de 19 anos em novembro de 2003 pelo “monstro” Xampinha de 16 anos, foi feita uma pesquisa onde 84% dos entrevistados defendiam a redução da maioridade penal. A idade ideal seria 15 anos e 62% defendiam que a redução deveria valer para todos os crimes. A repercussão do crime gerou até uma cogitação popular para a condenação de pena de morte, ou a legalização da pena de morte ou de penas mais severas.
Pois bem, 23 de fevereiro de 1999 morre Edison Tsung Chi Hsueh aos 22 anos na piscina da Faculdade de Medicina da USP, a história todos conhecem, aqueles que participaram do trote sabem certamente quem matou, fato é que no final da história o processo foi arquivado “por falta de justa causa”. Para os advogados da defesa “o que se entendeu é que não foi um homicídio, mas um acidente”. Quem sublinhou o acidente foi eu mesmo, o autor. Acidente repito, acidente. Imaginem calouros fazendo “pedágios” pelos semáforos da cidade quando um bandido armado acidentalmente dispara sua arma, até sem intenção, mas mata uma garota branca e loira, ou um rapaz de uma “tradicional” família como alguns dizem. Prefiro nem comentar, basta olhar a história.
Voltando para o caso do chinês-calouro afogado eis um depoimento da mãe do rapaz em um jornal recentemente: “Depois do que aconteceu, ficamos alguns anos doentes, forçando o coração para esquecer. Meu marido ficou quase um ano sem ter vontade nem de comer. O consolo depois que meu filho morreu é a esperança de que isso não aconteça de novo. Quando os estudantes entram na faculdade, o aluno antigo deve ir almoçar, passar filmes, ensinar o caminho para o novato.”
Esta é a esperança da mãe do estudante vítima de um trote, mas a realidade como sempre tende a ser mais cruel. Notícia recente: “O calouro de administração de empresas Tiago Rosa Careta, 21, teve a cabeça e o pescoço queimados por um produto químico lançado sobre ele no primeiro dia de aula da universidade, que é a maior particular da região de Franca. O produto foi jogado na cabeça do calouro e queimou o cabelo, o couro cabeludo e parte do pescoço, além de manchar alguns dedos. A mãe do calouro, a funcionária pública Maria Luiza Careta, 41, disse estar "horrorizada": "Poderiam ter cegado ele.”“.
Obviamente não são todos os trotes que acabam em tragédia, contudo todos os trotes incluem repressão, violência e agressão ainda que não física. Alguns alegam que o trote é um grande evento de integração e confraternização, mas não é parte da cultura brasileira as confraternizações familiares, empresariais e entre amigos serem realizadas com ovadas, gritos e muita estupidez. Pelo menos quando eu vou comemorar algo com alguém, isso não ocorre como se estivéssemos no tempo medieval.
Eu pessoalmente não consigo entender ou encontrar uma lógica para tanta burrice, ainda que eu me considero uma das únicas vozes contra o trote dentre as pessoas que conheço. A vida é banalizada e vale cada vez menos. As pessoas freqüentam mais de 10 anos nas “melhores” escolas e não conseguem aprender o que deveria ser a lição mais básica, que é o respeito ao ser humano. Existem coisas como o trote e a relação entre os estudantes de nível universitário que definitivamente, pelo menos para mim, demonstram se um país é ou não desenvolvido. Não adianta o país mudar a política monetária, ser mais ou menos ortodoxo, reduzir ou aumentar a taxa selic.
Independente da política econômica que rege o país e que tende a ser um dos principais temas da eleição deste ano como poderemos ser desenvolvidos reproduzindo atos estúpidos e “bestas-feras” como descritos acima? Atos irresponsáveis justamente daqueles mais educados de uma nação de analfabetos. Aqueles que deveriam dar o exemplo e liderar o país ao desenvolvimento se divertem com tamanha estupidez de um modo irreproduzível por nenhum asno no mundo.
No Brasil tem coisas que funcionam na base do “acidente”, “acontece, fazer o quê?”. Na coluna do jornalista Clóvis Rossi, apresentada no dia 21 de fevereiro, com o título de “A animalização do país”, talvez traga respostas (ou mais dúvidas) para o absurdo do trote. Disponibilizei o texto no blog (http://ruyhirano.blogspot.com).
Ruy Hirano, 20, estudante de administração.
quarta-feira, março 15, 2006
A ANIMALIZAÇÃO DO PAÍS
SÃO PAULO - No sóbrio relato de Elvira Lobato, lia-se ontem, nesta Folha, a história de um Honda Fit abandonado em uma rua do Rio de Janeiro "com uma cabeça sobre o capô e os corpos de dois jovens negros, retalhados a machadadas, no interior do veículo".
Prossegue o relato: "A reação dos moradores foi tão chocante como as brutais mutilações. Vários moradores buscaram seus celulares para fotografar os corpos, e os mais jovens riram e fizeram troça dos corpos. Os próprios moradores descreveram a algazarra à reportagem. "Eu gritei: Está nervoso e perdeu a cabeça?", relatou um motoboy que pediu para não ser identificado, enquanto um estudante admitiu ter rido e feito piada ao ver que o coração e os intestinos de uma das vítimas tinham sido retirados e expostos por seus algozes.
"Ri porque é engraçado ver um corpo todo picado", respondeu o estudante ao ser questionado sobre a causa de sua reação". O crime em si já seria uma clara evidência de que bestas-feras estão à solta e à vontade no país. Mas ainda daria, num esforço de auto-engano, para dizer que crimes bestiais ocorrem em todas as partes do mundo. Mas a reação dos moradores prova que não se trata de uma perversidade circunstancial e circunscrita. Não. O país perde, crescentemente, o respeito à vida, a valores básicos, ao convívio civilizado. O anormal, o patológico, o bestial, vira normal. "É engraçado", como diz o estudante.
O processo de animalização contamina a sociedade, a partir do topo, quando o presidente da República diz que seu partido está desmoralizado, mas vai à festa dos desmoralizados e confraterniza com trambiqueiros confessos. Também deve achar "engraçado".
Prossegue o relato: "A reação dos moradores foi tão chocante como as brutais mutilações. Vários moradores buscaram seus celulares para fotografar os corpos, e os mais jovens riram e fizeram troça dos corpos. Os próprios moradores descreveram a algazarra à reportagem. "Eu gritei: Está nervoso e perdeu a cabeça?", relatou um motoboy que pediu para não ser identificado, enquanto um estudante admitiu ter rido e feito piada ao ver que o coração e os intestinos de uma das vítimas tinham sido retirados e expostos por seus algozes.
"Ri porque é engraçado ver um corpo todo picado", respondeu o estudante ao ser questionado sobre a causa de sua reação". O crime em si já seria uma clara evidência de que bestas-feras estão à solta e à vontade no país. Mas ainda daria, num esforço de auto-engano, para dizer que crimes bestiais ocorrem em todas as partes do mundo. Mas a reação dos moradores prova que não se trata de uma perversidade circunstancial e circunscrita. Não. O país perde, crescentemente, o respeito à vida, a valores básicos, ao convívio civilizado. O anormal, o patológico, o bestial, vira normal. "É engraçado", como diz o estudante.
O processo de animalização contamina a sociedade, a partir do topo, quando o presidente da República diz que seu partido está desmoralizado, mas vai à festa dos desmoralizados e confraterniza com trambiqueiros confessos. Também deve achar "engraçado".
Alguma surpresa quando é declarado inocente o comandante do massacre de 111 pessoas, sob aplausos de parcela da sociedade para quem presos não têm direito à vida? São bestas-feras, e deve ser "engraçado" matá-los. É a lei da selva, no asfalto.
Assinar:
Postagens (Atom)