segunda-feira, maio 16, 2005

O BRASIL QUE DÁ INVEJA À SUÍÇA

Caros amigos(as) e colegas, vocês não estão delirando. É isso mesmo, existe no Brasil um “país” onde as pessoas são mais desenvolvidas e vivem em melhores condições do que os suíços. As pessoas são altamente qualificadas e têm uma remuneração equivalente ou superior ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita dos países mais desenvolvidos. Inclinando um pouco para a minha veia nacionalista, existe um Brasil que funciona, dá certo e mostra que o que hoje é uma ilha de prosperidade pode em breve se transformar em um continente.
O índice de desenvolvimento humano, o IDH como é mais conhecido, é utilizado pelas Nações Unidas para mensurar as realizações médias de um país em três áreas do desenvolvimento humano: “uma vida longa e saudável, medida pela esperança de vida à nascença; conhecimento, medido pela taxa de alfabetização de adultos e pela taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior; e um padrão de vida digno, medido pelo PIB per capita em dólares PPC (paridade do poder de compra).” (fonte: relatório do desenvolvimento humano 2004).
Quanto mais o IDH se aproximar de um, mais desenvolvido é o país. A Noruega lidera o ranking com 0,956, seguido por Suécia, Austrália, Canadá, Holanda, Bélgica, Islândia, Estados Unidos, Japão e, para concluir os top 10, a Irlanda. O Brasil aparece na posição 72 como desenvolvimento humano médio. No final da fila estão Guiné-Bissau, Burundi, Mali, Burkina Faso, Niger e Serra Leoa.
Portanto o IDH leva em consideração três critérios: expectativa de vida, renda e escolaridade. Com base nisso e em dados do IBGE, o professor de Economia do Trabalho da Universidade Federal do Rio de Janeiro Marcelo Paixão chegou às seguintes conclusões:
1) O IDH dos judeus brasileiros supera o IDH da Noruega;
2) O IDH dos descendentes de orientais (japoneses, coreanos e chineses) é similar ao do Japão.
Para explicar esses dados impressionantes destaco a importância que a educação tem na vida de judeus, japoneses, coreanos e chineses. Dos judeus acima dos 25 anos de idade, 63% deles estão cursando ou já concluíram o ensino superior. No ritual de passagem da vida infantil para a adulta (bar mitzvá) os judeus aos 13 anos precisam ler a Torá, se não eles ficarão em Neverland onde continuarão sendo criança. Com relação aos asiáticos há uma mistura de valorização da educação, com meritocracia, disciplina e respeito ao professor.
Não quero aqui defender supremacia e superioridade racial, muito pelo contrário, acredito que esses exemplos demonstram que mesmo em um país desacreditado como é o Brasil é possível ter uma vida que supera a dos japoneses, norte americanos e alemães. Com a novela América que está no ar na Rede Globo, está na moda o tema imigração. São milhares de pessoas que anualmente “tentam a sorte” nos países desenvolvidos, com destaque para os Estados Unidos e Japão, seja por razões financeiras ou por causa da violência local.
Oriundo do estado de Mato Grosso atual líder nacional na produção de soja, algodão e um dos principais produtores pecuários e de outros cultivos vejo os avanços do agronegócio como exemplo do potencial brasileiro. Têm grande destaque na mídia nacional e internacional os frutos da riqueza produzida na região. Impressionante consumo de aviões, máquinas agrícolas de 500.000 reais cada, carros importados, etc. As cidades esbanjam escolas públicas de qualidade, hospitais onde ninguém fica jogado nos corredores, esgoto e água potável para quase a totalidade da população. Infelizmente o que não mostram é a coragem e a ousadia de empreendedores originários em sua grande maioria do sul do Brasil. Enfrentaram elevadíssimos riscos que qualquer um analista de crédito de banco classificaria como capital perdido, mas principalmente acreditaram no país, acreditaram que poderiam criar riqueza no solo pobre e ácido do cerrado. Sequer existia na época semente adequada para a área a ser cultivada, a terra era imprópria para praticamente qualquer cultivo e os recursos para investir eram escassos.
Os ganhos de produtividade em tão curto prazo hoje impressionam o mundo todo, mas o que realmente importa é o aumento da qualidade de vida da população daquela região. A agropecuária brasileira já está começando a ser chamada como celeiro do mundo e figura entre as potências. Com tantos problemas que surgem na mídia elas nos fazem acreditar que vivemos no pior país no mundo, mas é preciso acreditar no Brasil e não só assumir os problemas como também enfrenta-los com criatividade e vontade.
Para encerrar gostaria de contar uma história triste que teria um fim diferente em qualquer país desenvolvido do mundo. O desenvolvimento de um país está na atitude do povo que a constitui e não apenas em números, como diria o Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry.

O pedreiro que inovou no combate à seca
Foi transportando diariamente no lombo de um burro 90 litros de água que Manuel Apolônio de Carvalho teve a idéia de construir um modelo de cisterna popular, mais barata e resistente, para captar a água da chuva e armazenar num tanque. Após 50 anos de sua invenção, o projeto de cisternas proporciona água para centenas de milhares de pessoas que moram no Semi-Árido nordestino.
Desde cedo, ele aprendeu a se adaptar à dura realidade da seca. Para garantir a água de sua família e irmãos, Apolônio viajava seis horas por dia até o riacho mais próximo de sua casa. Em busca de um futuro melhor, decidiu aos 17 anos tentar a sorte em São Paulo. Enfrentou dias de viagem num “pau de arara” — caminhões precários que transportavam os migrantes —, chegou à capital e começou a trabalhar como servente de pedreiro na construção de piscinas.
Após quatro meses na cidade, tempo suficiente para dominar a técnica da construção de piscinas, Apolônio decidiu voltar para a Bahia com a roupa do corpo e uma idéia na cabeça: a piscina que servia de lazer aos paulistas abastados serviu também de inspiração para Apolônio criar um sistema simples que ajudou a combater o complicado problema da seca de sua região. “Descobri que tinha criado um meio de ganhar dinheiro e também de ajudar as pessoas que sofriam”, afirma.
A principal diferença entre as cisternas tradicionais e a criada por Apolônio está na técnica de construção. Ao invés de utilizar formato quadrado com estrutura de pedra e cal, ele criou uma cisterna redonda, estruturada em placas pré-moldadas de cimento. Com esse processo, a cisterna pode ser construída de forma mais rápida e com um custo inferior.
Bastou Apolônio construir a primeira cisterna, na casa de um amigo de seu pai, para a idéia ganhar força em sua comunidade — a água da chuva era captada do telhado da casa e armazenada num tanque. Três anos após a primeira obra, ele já havia construído cerca de 400 cisternas em diversas regiões do Semi-Árido. A partir daí o negócio cresceu, e Apolônio montou uma equipe para construir cisternas por todos os Estados do Nordeste. “Cheguei a ter 70 empregados e perdi a conta de quantos cisternas construímos”, orgulha-se.
O sistema criado por Apolônio ganhou popularidade e, com o passar dos anos, começou a ser utilizado por organizações públicas e privadas. Na mesma medida em que as cisternas se popularizavam, Apolônio foi perdendo clientes, até ser engolido por empreiteiras maiores. Hoje, vive com dificuldade com sua esposa e três filhas. “Recebi homenagens de ministros e do governo, mas o que eu quero hoje é apenas um dinheiro pra poder comer”. Atualmente com 68 anos, o inventor das cisternas diz sofrer de problemas de saúde e não ter dinheiro para pagar um tratamento adequado.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.

segunda-feira, maio 02, 2005

FELIZ ANIVERSÁRIO!

Neste final de semana fez um mês que ocorreu no Rio de Janeiro o que foi intitulado como o “massacre na Baixada”. Em uma hora 30 pessoas foram assassinadas à bala em 11 locais das cidades de Nova Iguaçu e Queimados, municípios da Baixada Fluminense. Para se ter uma idéia essa foi a ação mais violenta desde o assassinato de 21 pessoas por policiais na favela de Vigário Geral em agosto de 1993. Novamente existem fortes indícios do envolvimento de policiais no caso. Desta vez eles estariam agindo como resposta a investigações determinadas pelos comandantes dos batalhões na Baixada Fluminense. Dias antes do massacre oito policiais foram presos acusados de matar duas pessoas, degolar uma delas e jogar a cabeça dentro do pátio do batalhão.
Das trinta pessoas que foram fuziladas pelo menos sete eram menores de 18 anos, dos quais seis tinha 15 anos ou menos. Uma das vítimas tinha ido ao bar pagar uma dívida de R$ 2, outro garoto foi morto na frente da mãe e um pai foi executado na frente da filha de quatro anos
Os participantes do massacre nem se preocuparam em esconder os rostos durante a ação. Segundo denúncias de moradores e especialistas esses grupos de policiais são grupos de extermínio que surgiram em julho de 1962 quando uma onda de saques durante uma greve geral deixou mais de 40 mortos e comerciantes de Duque de Caxias contrataram “vigilantes” para proteger seus negócios. Desde então alguns policiais fazem “hora-extra” para comerciantes e traficantes da região.
Detalhando o tour que o esquadrão fez as primeiras vítimas foram dois ciclistas que passavam pela rodovia Presidente Dutra, em seguida um cozinheiro que passava pela rua e depois dois travestis. Depois de passearem por um tempo decidiram passar em um bar e matarem mais nove e invadirem uma casa onde dois irmãos foram mortos na frente da esposa de um deles. No caminho mais dois foram mortos. Seguindo a viagem para Queimados, a cerca de 15 km de distância, resolveram fazer um pit-stop em um lava-jato onde até o centro foram mais três mortos. Passando em frente a um bar derrubaram mais cinco pessoas e fizeram outro pit-stop final onde outras quatro pessoas foram mortas. Nossa!!! Nem dá pra acreditar que isso aconteceu em duas cidades urbanas que juntas somam quase 950 mil habitantes. Parece até um relatório de algum soldado ianque no Iraque.
Nova Iguaçu e Queimados são dois típicos municípios que revelam o lado pobre deste país. A renda per capita mensal não passa de R$ 421 quando no Estado do Rio a média é de R$ 997. A média de anos de estudo beira os seis anos e o analfabetismo oficial gira em torno de 6%. Não quero estimular aqui o ódio contra aqueles que tem menos renda, educação e qualificação do que nós. Muito pelo contrário.
Vamos fazer uma breve reflexão:
Imaginem a cidade de São Paulo. Policiais decidem começar a “caçada” no parque do Ibirapuera matando dois ciclistas, depois passam pelo bairro de Moema e deixam mais três corpos na região e em seguida rumam para o centro da cidade na esquina da avenida São João com a Ipiranga, lá no badalado Bar Brahma e decidem matar mais seis fregueses. Seguindo o tour vão para a região de Higienópolis onde matam quatro “intelectuais” que descansavam na praça Boim, incansáveis passam pela FGV onde matam três pessoas (Deus me livre se for um professor, bata na madeira), e rumam para a cidade vizinha chamada Jardins. Entre freguesas da Oscar Freire e ademais pessoas endinheiradas ficam quatro pessoas no caminho apesar da maior concentração de seguranças por metro quadrado do país. Não poderia faltar uma balada na Vila Olímpia onde mais duas pessoas vão para o IML (Instituto Médico Legal) e para o gran finale todo o estilo na nova Villa Daslu onde seis donzelas seriam fuziladas. Pronto, por incrível que pareça consegui distribuir 30 mortes pela cidade de São Paulo. Agora imagine que isso tudo aconteça em 1 hora. Chega a ser inimaginável. Mas por que?
O presidente Lula somente se limitou a declarar o caso como um crime bárbaro e covarde e designou alguns ministros para o caso. Em seguida deu continuidade a sua agenda de viagens e preparativos para a eleição que se aproxima. Será que essa atitude seria a mesma se tivesse o crime ocorrido como inventei acima ou mesmo em Ipanema ou na Barra da Tijuca? Será que a repercussão na mídia seria a mesma que o massacre na baixada?
Para efeito comparativo veja a missionária americana Dorothy Stang que foi assassinada no norte do país. Repercutiu tanto na mídia e na sociedade que até mandaram o Exército pra região. Mas também tem o caso da morte por fome de alguns índios e isso no país do Fome Zero. Segundo o brilhante ministro da Saúde Humberto Costa o número de mortes naquela tribo está na média estatística de sempre, portanto está tudo bem.

Faz um mês que o massacre na baixada aconteceu e até agora vemos a repercussão do fato. As pessoas não conseguem parar de falar sobre isso. O ex-papa João Paulo deve até estar incomodado de como falam do maior massacre do Rio de Janeiro e não da sua morte e sucessão. Esse texto serve mais como um convite à reflexão de que antes de começarmos a pensar em pena de morte e cadeira elétrica, ou mesmo gastarmos rios de dinheiro na autodefesa blindando o carro ou erguendo grades e muros de dar inveja a qualquer castelo medieval, devemos considerar os brasileiros como seres humanos em sua essência independente da renda, cor ou aparência.

Ruy Hirano, 20, estudante de administração.